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Na primeira sessão depois do depoimento de Riva, a indiferença

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Na primeira sessão depois do depoimento de Riva, a indiferença

Ednilson Aguiar/O Livre

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

 

Às 17h21 da última terça-feira, quatro dias e três horas depois do depoimento de José Geraldo Riva ter sacudido o cenário político mato-grossense, havia três assessoras de taileur azul-marinho e dois deputados no plenário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Dilmar Dal Bosco (DEM) e Saturnino Masson (PSDB) foram os primeiros a chegar. Marcada para às 17 horas, a sessão era a primeira depois de Riva ter recitado à juíza Selma Rosane Arruda uma lista de 33 políticos que tiveram sua parte no rateio de cerca de R$ 62 milhões desviados dos cofres públicos entre 2005 e 2009.

Cada um recebia cerca de R$ 25 mil por mês (R$ 92 mil em valores atualizados). Entre eles, estavam oito deputados da atual legislatura – Guilherme Maluf (PSDB), Wagner Ramos (PSD), Pedro Satélite (PSD), Gilmar Fabris (PSD), Adauto de Freitas (SD), Sebastião Rezende (PSC), Mauro Savi (PSB) e Zé Domingos Fraga (PSD). Savi e Fraga não apareceram.

No “Plenário das Deliberações Deputado Renê Barbour”, um espaço retangular amplo com um pé-direito de nove metros e um telão grudado na parede, contudo, havia nove suspeitos – nem o deputado que empresta o nome ao plenário escapou da lista de Riva. O nome de Barbour, morto em 2007, está no letreiro prateado parafusado em um fundo revestido de madeira, um pouco abaixo de um Cristo dourado, cercado por dois televisores que transmitem a sessão ao vivo, e sob uma câmera de segurança de última geração. A expectativa de alguns jornalistas e seguranças que conversavam na sala de imprensa era de que aquela seria uma sessão vazia. Às 17h26, seis deputados estão no recinto.

Ednilson Aguiar/O Livre

deputado Gilmar Fabris

 

Gilmar Fabris é um deles. Citado na lista de Riva, ele veste um paletó sobre a camisa branca desabotoada e fala ao telefone às gargalhadas, esparramado sobre a poltrona de couro giratória – cada uma das 29 poltronas do plenário é equipada por massageadores eletrônicos. Custaram R$ 3.058 em 2008, conforme revelou à época uma reportagem de Rodrigo Vargas na Folha de S. Paulo. Minutos depois, um assessor lhe trouxe uma gravata.

Às 17h39, há 11 deputados no plenário. Saturnino Masson preenche a cadeira do presidente enquanto conversa ao telefone. Allan Kardec (PT) assiste a si próprio no celular. Janaína Riva (PMDB) parece tentar convencer Wagner Ramos (PSD) de algo muito sério. Zeca Viana (PDT) examina um maço de folhas sulfite. Eduardo Botelho (PSB), presidente da Casa, finalmente chega para assumir o seu lugar.

Às 17h41, seu antecessor, Guilherme Maluf, entra pela porta e caminha até a cadeira reservada ao primeiro-secretário, seu novo posto. Ele parece emitir uma ordem ao colega: “Vamos abrir, presidente?”. Botelho obedece prontamente. “Em nome de Deus, declaro reaberta esta sessão”, diz. Num instante, Fabris guarda o celular e se levanta para iniciar um discurso sobre a nova divisão territorial de municípios do Estado: “…para que nós pudéssemos rediscutir isso calmo, porque muitos municípios que perderam as suas áreas foram prejudicados e… (sic)”. Ninguém está ouvindo. Nem mesmo Fabris parece ouvir a si próprio. Ele domina a tribuna com os dois braços, a palma da mão esquerda em uma quina do móvel, o cotovelo direito na outra, como se estivesse em um balcão de bar, discorrendo em modo automático. Nem uma palavra sobre o depoimento de Riva.

Ednilson Aguiar/O Livre

deputado Gilmar Fabris

 

Há um garçom imóvel carregando uma bandeja no tablado onde fica a mesa diretora, o único lugar onde todos querem estar. Um segurança entorna uma xícara de café. Um fotógrafo ajoelha antes de disparar seu flash. Só Pedro Satélite e Adauto de Freitas quiseram tocar no assunto “José Geraldo Riva”. Ambos na tribuna. Enquanto Satélite discursa, alguém aciona o som, em alto volume, de um celular. Parece ter vindo dos lados de Janaína Riva, a filha do homem. Satélite revida pronunciando fonemas com a boca colada ao microfone, o que produz um estrondo nas caixas de som. “Quem tem mais de cem processos não tem moral para falar de mim”, esbraveja. Janaína, indiferente, continua a fitar a tela do celular. Ela transita pelo plenário, visita várias rodas de conversa. Proseia com Fabris. Wagner Ramos. Zeca Viana. Romoaldo Junior. Às 18h27, há 19 deputados presentes. Em menos de uma hora não haverá mais nenhum.

A primeira impressão é a de que a Assembleia funciona como uma sala de aula, só que com carga horária mais baixa, sem uma professora que coloque ordem na bagunça, onde todos querem ficar na frente da lousa e ninguém, nunca, é chamado para uma conversa com a diretora – não importa a peripécia que cometa.

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