O amor é firme como a expressão emocionada de Darci Pereira com os olhos azuis úmidos, mirando a fileira de 242 noivos que se forma no Espaço Tereza Bouret, em Cuiabá, antes do por-do-sol de sábado (16). O amor é também suave como a voz de Divina de Fátima ao repetir com toda a certeza: “A gente realmente acredita no amor”.
E acreditam mesmo. Darci e Divina são um casal de 55 anos e estão juntos há 24. Estão aqui pelo casamento da filha, organizado gratuitamente pela Associação de Notários e Registradores de Mato Grosso (Anoreg-MT). Sentados na pequena escada sobre o gramado que se espalha no terreno, os dois esperam a filha enquanto assistem os mais jovens se prepararem para o “sim”.
“Todo mundo aqui vai dar certo, já deram certo, porque são pessoas que já estão juntos, é um casamento por amor, então é lindo, maravilhoso, perfeito!”, exclama Divina, sorridente. “Dá vontade de falar para as pessoas conservarem essa beleza, o amor é uma coisa tão perfeita que não tem nada que substitua”, diz Darci.
Sem pressa
A fila tão burocrática vai diminuindo conforme o sol se põe. Os noivos lotam o salão de festas. Se tivessem que pagar pela oficialização, os noivos desembolsariam cerca de R$ 400 pelo matrimônio com comunhão de bens. Espaço, cadeiras e outros itens foram disponibilizados por parceiros da Associação, o que diminuiu os custos.
Com todo este esforço, dizer não seria quase desperdício. Mas Darci e Divina tem razão: a maioria dos casais está junto há tempo o suficiente para não ter dúvidas. O tempo, no entanto, é relativo e pessoal. Para Manuel Oliveira, 54, e Maria Ladeira, 55, mais de 18 anos foram necessários para dirimir a dúvida.
“Os filhos estavam cobrando”, diverte-se Manuel. Pergunto por que os dois demoraram tanto para oficializar o que a vida já tinha como certa. “Queríamos nos conhecer melhor, conhecer mais e mais para ter certeza, para depois não voltar atrás”, explica Maria.
O casal, com dois filhos adolescentes, é o mais velho a trocar as alianças no sábado. Estão trinta anos a frente de Fábio e Giselda, com 25 e 26 anos respectivamente. A história deles começa no Ensino Médio, quando ambos apaixonaram-se. Com suspeita de ter engravidado, Giselda teve de voltar à terra natal, em Rondônia, e deixou em Cuiabá o comprovante do exame de gravidez e o futuro marido, totalmente desorientado.
“Eu fiquei chorando em casa, e ela ficou chorando no ônibus, foi horrível”, conta Fábio. “Fui ao médico pegar o resultado, já estava até com o currículo na mochila, e o médico confirmou que ela tinha engravidado”, relembra.
Aos 17 anos, Fábio foi obrigado a crescer mais. Giselda voltou de Rondônia e os dois foram morar juntos. Agora, oito anos depois e com o filho no colo, vão casar. “A gente passou por muita coisa, casar era mais difícil, tinha que trabalhar e cuidar do filho”, fala Gilselda.
Pergunto o nome completo dos dois. “Fábio Júnior Hernandes Silva”, diz o noivo. “E o meu é Giselda Gomes da Luz”, diz a noiva, e se corrige logo em seguida: “Mas agora é Giselda Gomes da Luz Hernandes”, e sorri.
Minutos depois, Giselda e Fábio levantam-se da cadeira em direção ao juiz para a cerimônia. Ele tem os braços firmes para segurar o filho; ela soergue suavemente o vestido com a ponta dos dedos.