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Músicos de Mato Grosso estão passando por dificuldades devido à pandemia

Os profissionais que atuam nos segmentos de shows e eventos dizem necessitar urgentemente de subsídio governamental

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Músicos de Mato Grosso estão passando por dificuldades devido à pandemia
Imagem ilustrativa / Pixabay

O período de distanciamento social, determinado pelo governo do Estado e por diversas prefeituras, está impactando duramente vários setores da economia de Mato Grosso. Embora seja indispensável o respeito às determinações dos órgãos de saúde, os profissionais que atuam nos segmentos de shows e eventos dizem necessitar urgentemente de subsídio governamental.

A Ordem dos Músicos do Brasil, Conselho Regional de Mato Grosso – OMB-MT tem realizado um amplo trabalho institucional no meio político, bem como na promoção e apoio de campanhas para a arrecadação de alimentos para os profissionais da música.

“Nos últimos 60 dias, conseguimos atingir o total de seis toneladas de alimentos, que foram recebidos e distribuídos ou contaram com nossa participação na chancela ou entrega para os músicos profissionais de Mato Grosso. No entanto, a cada dia que passa a crise se agrava e aqueles que ajudaram também começam a ser atingidos”, disse o presidente da OMB-MT, Johnny Everson.

Normalmente, no Brasil, a maior parte dos músicos precisa ter um plano B para sobreviver. Uma profissão tão admirada pela exposição e emoção que causa no público, tem um outro lado difícil e desafiador.

Aqueles que vivenciam a oportunidade de atuar nos grandes eventos, que geralmente ocorrem no período de estiagem (de abril a dezembro), atuam também em estúdios de gravadoras, atendendo artistas e produções audiovisuais, como trilhas sonoras para emissoras de TV, rádio e streaming.

Entretanto, a grande maioria dos profissionais atua em pequenos eventos e ambientes de música ao vivo, geralmente, na informalidade e com pequenos cachês, sendo obrigados a desenvolver atividades paralelas à artística, para ter uma vida menos instável e um mínimo de conforto para a família.

Ele ressaltou que, por força do vírus Covid 19, boa parte dos profissionais foi obrigada a procurar trabalhos temporários e informais em outras áreas, como pequenos negócios para atendimento via “delivery” e em setores que precisam de mão de obra mais simples.

“Hoje, muitos tem vivido da ajuda de familiares, de amigos, vizinhos, rifas, com ação entre amigos e doações durante as ‘lives’. Alguns tem patrocinadores, apoiadores, conseguem fazer lives com maior qualidade profissional, pagando fornecedores na área de transmissão, vídeo, sonorização e até locações de espaços e cenário. Em alguns casos, temos a solidariedade das empresas que atuam no setor de eventos que conseguem fazer um preço um pouco melhor, em clima de ‘fair trade‘. São os raros casos de donos de negócios que até o momento não foram impactados. Entretanto, a maioria ainda se encontra em condições precárias, fazendo transmissões em casa, da forma que podem”.

O presidente da OMB-MT afirmou ainda que a realidade da música em Mato Grosso não é diferente do que ocorre em grande parte do país. Como dito, o setor atua em sua maior parte na informalidade, são raros os músicos que trabalham com carteira assinada ou com um contrato que lhes assegurem alguns direitos profissionais.

“Essa é uma crise de força maior onde o estado precisou intervir suspendendo atividades e, consequentemente, agora precisa urgentemente criar subsídios para esses profissionais, para essas empresas que foram prejudicadas com a suspensão das atividades. No entanto, o que tem sido feito ainda não está palpável, ao menos da maneira que o setor precisaria que fosse”.

A nível nacional, recentemente o trabalho está concentrado na aprovação da PL 1075, que visa criar um fundo federal para apoio aos artistas. O projeto foi aprovado em primeira votação e agora vai para o Senado.

“O Conselho Federal da Ordem dos Músicos, representada pelo presidente Mauro Almeida, do Conselho Regional do Rio de Janeiro, tem oficiado os Ministérios da Cidadania, da Casa Civil, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, diante de todas as leis que favoreçam os músicos. Conseguimos, por exemplo, numa articulação do Conselho Federal da OMB junto ao Ministério do Turismo, incluir os músicos na ajuda emergencial, de 600 reais por mês e estamos trabalhando firme em Brasília para ir além”, disse Johnny.

Em Mato Grosso, o suporte do Governo do Estado foi dado por meio do edital da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso para a realização de lives.

“No edital do Estado nós participamos da elaboração como representantes da Ordem dos Músicos do Brasil. O Festival Cultura em Casa, uma ação emergencial idealizada pelo Secretário Alan Kardec, foi realizada entre os meses de abril e maio e os músicos já estão em fase de recebimento. Já estamos dialogando com a Secretaria sondando novas alternativas de auxílio aos profissionais e empresas do setor”.

Johnny demonstra preocupação com a Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá por ela não se manifestar objetivamente e com celeridade perante o apoio espontâneo ofertado pela OMB-MT para contribuição na elaboração do edital emergencial de Cuiabá que, segundo informações da própria secretaria há algumas semanas, está prestes a ser publicado. Outra frustração foi a não inclusão dos músicos profissionais cuiabanos em um auxílio concedido aos autônomos em vulnerabilidade social de outras categorias.

“Entramos em contato diretamente com o prefeito para inserir os músicos na lei que estão criando para apoio aos feirantes, catadores de recicláveis, motoristas de transporte escolar, carroceiros e ambulantes de comida de rua, pois soubemos que os recursos previstos seriam suficientes para incluir nossos profissionais. Infelizmente não acolheu nosso pedido”.

O presidente da OMB-MT garantiu que o trabalho de articulação continuará, dentro das diminutas condições estruturais da instituição, tanto no setor governamental quanto na iniciativa privada.

“Conseguimos participar de ações solidárias, em parcerias com organizações do terceiro setor como a Fundação André e Lucia Maggi, Associação dos Compositores, Músicos e Produtores de Mato Grosso, Associação Cultural Cena 11 e a Central dos Organizadores e Realizadores de Eventos do Estado de Mato Grosso (Cordemato). No segundo setor, empresas como a Cia. Sinfônica do Maestro Fabrício Carvalho, Malcolm Pub, Lade Som Luz Palco, realizaram lives solidárias em favor dos artistas sob a chancela da OMB. Nesse momento estamos com a Defesa Civil de Cuiabá, em fase de lançamento de uma campanha intitulada Tocando a Vida, para arrecadar alimentos que serão revertidos aos músicos profissionais cadastrados pela OMB”.

Voltar à normalidade

A expectativa do setor é que o mês de junho marque o início do retorno à normalidade. Junto com a volta do funcionamento dos bares e restaurantes, espera-se que os músicos também possam ser contratados.

Com relação aos eventos de médio e grande porte tudo ainda é uma incógnita. “Houve, recentemente, uma reunião em São Paulo, com o setor de eventos, e por lá, convencionou-se que, em julho voltam a realizar os eventos. Aqui em Mato Grosso está bem difícil esse retorno. O que temos acompanhado é o cancelamento de grandes eventos, como a Expo Lucas, uma das maiores feiras do nortão. Na prática, está cada dia mais difícil. Não temos onde se apegar e enquanto o governo não se posicionar, estamos apenas na esperança e na fé”.

O presidente da OMB-MT ressaltou que, embora tenha a expectativa de que volte gradativamente, tudo dependerá também de quais políticas econômicas serão implementadas pelo governo federal a fim de promover o reaquecimento da economia, para que o consumo seja restabelecido.

“A população está endividada, não são apenas os funcionários públicos que movimentam o comércio, mas especialmente a inciativa privada e os informais, que estão falidos. Acho que o mercado vai começar a voltar ao normal mesmo somente no último quarto do ano e daí vem o período da chuva e os grandes eventos não vão acontecer. O cenário é bem difícil, infelizmente”.

(Da Assessoria)

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