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Muito nos foi dado, mas…

Artigo de Marco Túlio para o Livre

3 minutos de leitura
Muito nos foi dado, mas…
(Foto: reprodução)

Dizem que muito nos foi dado, mas tanto mais nos foi tirado. Gosto muito de meditar sobre essa frase. É o tipo de frase que permite camadas de compreensão e interpretação.

Quando eu visitei algumas aulas de um grupo de estudos sobre um livro do francês René Alleau, minha visão sobre os números e símbolos mudou para sempre. Vou contar isso em detalhes em outra oportunidade.

Permita-me agora ser mais claro sobre a questão das camadas supracitadas.

Quando olhamos o nosso “vizinho” – e, aqui, coloco aspas, porque, neste caso, pode ser simplesmente alguém próximo de nós -, podemos estar vendo alguém muito abastado financeiramente, alguém de um talento ímpar ou alguém com uma vida feliz que nós gostaríamos de ter.

Bom, isso que estamos enxergando é o que nos foi dado.

Vamos imaginar que você só conhecia essa pessoa superficialmente, mas agora vocês passam a ser íntimos. Então, essa pessoa com todas essas dádivas que gostaríamos de ter começa a contar mais sobre a sua vida. Conta sobre a sua infância sem um dos pais ou sem os dois. Conta sobre sua luta contra uma grave doença que ele ainda tem. Conta sobre todas as coisas terríveis que ele passou para chegar até aqui.

Agora, isso é o que nos foi tirado.

Até o momento essa reflexão pode ser resumida no ditado que diz que “a grama do vizinho parece ser sempre mais verde”. Só quando adentramos nesse “gramado” percebemos que não é bem assim. Aliás, nunca é como imaginamos.

Só que agora quero ir mais a fundo nesse pensamento.

O que eu falei até o momento só faz sentido a partir de uma perspectiva onde nós teríamos “direito” a tudo isso o que recebemos. Quando eu digo que “muito nos foi dado, mas tanto nos foi tirado”, está implícito que aquilo que eu ganhei seria meu direito e que quem deu teria essa obrigação comigo.

E na minha visão, enquanto católico, tudo o que temos não é, de forma alguma, um direito nosso, mas uma enorme dádiva divina.

E, nesse caso, não teriam como tirar algo de nós, porque, seguindo esse raciocínio, nada seria nosso de fato. A terra em que habitamos, o nosso corpo, nossa alma e espírito – tudo isso nos foi dado e não é, de forma alguma, uma conquista do homem. Ele opera a matéria prima que recebeu, mas não cria nada, apenas manipula o que já existe.

Antes da perspectiva divina, ainda podemos pensar que cada um de nós teve um pai e uma mãe. Mesmo se não foram presentes, sem eles não existiríamos. E até aqueles que não foram criados pelos pais, alguém os criou, alimentou e protegeu desde a mais frágil infância, se hoje se tornaram adultos.

Eu fico admirado em pensar no quanto me foi dado antes mesmo de eu ter consciência disso. O quanto de sacrifício e amor eu recebi muito antes de poder dizer obrigado.

Com meus meros 27 anos ainda, e sem filhos, não consigo nem imaginar o amor dos meus pais por mim, quiçá, eu conseguiria imaginar o amor divino que tudo criou.

Por isso, eu volto à questão: como eu posso dizer que tiraram muito de mim, se eu recebi tanto, mas tanto, sem ter feito nada por merecer?

Quando pensamos dessa forma, não faz o menor sentido pensar no que nos foi tirado, já que o nosso estado natural seria não ter e, se temos, é porque alguém nos deu. Acho que isso deveria ser o bastante para sermos gratos.

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