O cartão de vacina de parte das crianças mato-grossenses está com espaços em branco. O Estado não atingiu a meta de imunização contra as principais doenças desse público alvo. A situação é semelhante a do Brasil, que teve o pior índice de cobertura vacinal dos últimos anos, em 2019, de acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS).
Crianças não estão sendo vacinadas, por exemplo, contra a poliomielite. O Brasil não registra nenhum caso da doença desde 1994. Contudo, sem a imunização, o risco de novos contágios é grande.
Em Mato Grosso, segundo o governo, as doses aplicadas ainda no primeiro ano de vida, como a Tríplice Viral e a Pentavalente, estão abaixo da meta – que varia entre 90% e 95% das crianças nascidas.
Em 2020, a cobertura dessas vacinas está entre 53% e 66%, respectivamente.
Elas previnem as crianças da coqueluche e de vírus como o influenza B, responsável por infecções no nariz e na garganta.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) alegou que as estratégias para atingir a meta são de responsabilidade dos municípios.
Culpa da pandemia?
Em Cuiabá, a procura pelos postos de saúde teve queda março e abril, quando as medidas de restrição social, por conta da pandemia de covid-19, começaram a ser decretadas.
No município, o isolamento é apontado como um dos motivos para a baixa procura.
A estimativa da prefeitura é que até junho o índice de vacinação da febre amarela, por exemplo, tenha ficado em 48,8%. Isso significa dizer que nem metade do público alvo foi vacinado.
As demais vacinas, de acordo com o município, apresentam média entre 50% e 54%. No mesmo período do ano passado, cerca de 75% da meta já havia sido alcançada.
“São diversos fatores que interferem nessas estimativas e o isolamento social é uma delas. Temos até dezembro para correr atrás, mas fica difícil quando os pais alegam medo da pandemia e não levam os filhos ao posto de saúde, mas saem para passear“, critica a técnica de Imunização da Secretaria de Saúde de Cuiabá, Sandra Horn.
Até as estratégias para a imunização estão “prejudicadas”. Em Cuiabá, a apresentação do cartão de vacina completo era requisito para a matrículas das crianças. As escolas, entretanto, estão fechadas.
O que diz o CRM?
Para o Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), as vacinas são vistas como obrigação, como prevê a legislação, e a responsabilidade – no caso de crianças e adolescentes – é dos pais.
Presidente da entidade, a médica Hildenete Monteiro Fortes cita que existe infração para quem descumpre a ordem.
“Estamos atravessando um momento muito caótico por causa da pandemia. Muitos pais não estão levando os filhos para vacinar com o medo das crianças serem expostas. Por outro lado, não tenho visto campanhas de vacinação“, diz.