Na semana em que muitas autoridades públicas começarão a rever as medidas de quarentena adotadas contra a disseminação do coronavírus, um dado estatístico feito pela plataforma In Loco demonstra que pelo menos 53,3% da população mato-grossense já não tem cumprido as regras do isolamento social há algum tempo.
A plataforma analisou dados de celulares e verificou que, na última semana, o nível de isolamento social em Mato Grosso foi bem abaixo do ideal – cerca de 70%. Por aqui, apenas 46,6% da população se mantinha em casa.
Com este resultado, Mato Grosso é terceiro Estado do país com menor índice de isolamento da população.
Para o professor mestre em Saúde Pública, Carlos Henrique Macena Barbosa, diversos fatores colaboram para que o descumprimento da ordem “fique em casa” seja evidente em Mato Grosso.
“Como o Estado não está entre os com maior nível de contágio do coronavírus, algumas pessoas concluíram que o perigo não é tão grande assim”.
No começo, o caos
Barbosa explica que no primeiro momento da pandemia, o até então desconhecido novo coronavírus gerou o apavoramento, fator que foi impulsionado pelo excesso de fake news que circularam nas redes sociais.
Agora, segundo o professor, o que predomina é a incerteza e a instabilidade em relação ao futuro.
“O isolamento nos primeiros dias pode até ter sido comprado de maneira mais intensa, mas com o passar do tempo algumas questões vão acontecendo, como a falta de dinheiro e o estresse”.
Ficar em casa com os problemas financeiros se evidenciando tem provocado as pessoas a buscar meios de sobrevivência. Mas a busca se dificulta em meio ao comércio fechado – medida que já dura cerca de um mês – e a economia paralisada.
“Muitas pessoas estão ficando descrentes de que vão ficar doentes” e, segundo Barbosa, este é o perigo, já que Mato Grosso ainda não chegou ao pico de contágio.
Para o pesquisador, aliás, o fato de o pico ainda não ter sido atingido é justamente uma razões que evidenciam a necessidade de as autoridades reforçarem as medidas de isolamento.
Ficar em casa é possível?
Na avaliação de Barbosa, o isolamento social é cientificamente a solução mais viável neste momento, quando ainda não existe remédio e nem vacina contra a covid-19.
Por outro lado, o professor acredita ser um erro massificar e generalizar o “fique em casa” como se fosse uma proposta de saúde.
“O isolamento social é fator preponderante para o desfecho positivo dessa pandemia gravíssima. Porém, esse ‘fique em casa’ não leva em consideração as peculiaridades, as gravidades que se têm na sociedade brasileira quanto ao acesso à cidadania. Então, fica muito simplista e imediatista”.
Barbosa lembra que a frase que tem sido repetida incansavelmente em todos os níveis, muitas vezes, propagada por celebridades que aparecem em programas de televisão dando o recado de suas casas confortáveis, com amplos quintais, muito dinheiro e meios para passar bem a pandemia.
“Mas e as pessoas que moram em favelas, por exemplo, onde dois cômodos acomodam 15 pessoas, sem quintal, sem jardim, sem esgoto?”, questiona o professor, destacando como o “fique em casa” pode expor a população a situações insalubres.