Apesar da relevância do assunto, a divisão de Mato Grosso em 1979 pra criar o Estado de Mato Grosso do Sul é um período riquíssimo da História que vem sendo esquecido lentamente. Os personagens já morreram quase todos e pouco se escreveu a respeito, considerando o jogo que tudo isso representou.

Pretendo neste artigo traçar uma panorâmica pessoal.

Em 1976 vim de Brasília trazido pelo governo Garcia Neto (1975/1978), que enfrentava uma perigosa ressaca política estabelecida historicamente entre as regiões Norte e Sul. Campo Grande sediava os sonhos separatistas do Sul, surgidos logo após o fim da Guerra com o Paraguai. Cuiabá, capital histórica, defendia a unidade alegando que separar produziria dois estados enfraquecidos. De fato, a população de ambos em 1970 era de 1 milhão e 200 mil habitantes. PIB do estado único era ridículo. Separados seria insignificante. Mato Grosso veio alcançar 1 milhão 139 mil habitantes em 1980.

Trabalhei no governo Garcia Neto de agosto de 1976 até 15 de março de 1979, quando iniciou o primeiro governo de Frederico Campos pós-divisão. Viajei aquele Mato Grosso imenso com mais de 1 milhão e 200 mil quilômetros quadrados. Tudo era longe. Cidades distantes. Todas muito pobres, incluindo Cuiabá e Campo Grande. Paupérrima infraestrutra em tudo que se pensar.

A rivalidade no Sul contra o governo do Norte era um escândalo. Boatos, intrigas, disse-que-me-disse. Truculências eram comuns. Na Assembleia Legislativa os 12 deputados oposicionistas do Sul eram profundamente agressivos e desrespeitosos. Tomo a liberdade de citar dois, que além do mais eram filiados ao MDB, duplamente opositores: Sergio Cruz, conhecido como “pau na mula” e Walter Pereira. Somados aos oposicionistas daqui, o clima na Assembleia era de profunda divisão entre os deputados. Do Norte, oposicionista do MDB, favorável à divisão e agressivo contra o governo, Carlos Bezerra. Um deles.

O ambiente no Brasil era de confronto entre o governo e o MDB na oposição. Em 1972 o MDB derrotara feio a Arena, o partido oficial. O país já caminhava para uma longa finalização do regime dos militares.

Por fim, em abril de 1977 o presidente da República, general Ernesto Geisel, enviou ao Congresso para aprovar, sem chances de derrotar, o projeto da Lei Complementar 31/77 que estabelecia as normas da divisão que se daria política e fisicamente a partir de 1º. de janeiro de 1979. A partir daí as divergências entre o Sul e o Norte se transformaram em confronto em todas as áreas possíveis.

Afinal, tudo desaguaria nas eleições de 1978. Elegeram-se pelo voto indireto o governador Frederico Campos, o primeiro do novo Mato Grosso, e o prefeito da capital Gustavo Arruda. Mais os primeiros 24 deputados estaduais do novo Mato Grosso pós-divisão, os primeiros 8 deputados federais e dois senadores. Um dos três foi nomeado indiretamente pelo governo federal, chamado de biônico. Era uma alusão ao personagem de um seriado na TV, famoso na época, “Cyborg o homem biônico”.

O tema é vastíssimo e vamos abordá-lo aos poucos nesta sucessão de artigos. Ao longo do tempo, antes que morram os últimos guardiães da memória histórica daquele tempo…

Assinatura Coluna Onofre

 

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