Os produtores de soja de Mato Grosso devem suspender um plantio excepcional do grão que estava previsto para ser realizado em fevereiro deste ano.
A recomendação é do Ministério Público de Mato Grosso (MP), que notificou a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) nessa quinta-feira (30).
O plantio excepcional foi um acordo entre a Aprosoja e o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea).
O objetivo seria fazer uma análise comparativa da gravidade da ferrugem asiática que acomete as lavouras de soja semeadas em dezembro e fevereiro. Hoje a ferrugem asiática é considerada a maior praga da cultura de soja.
A pesquisa seria conduzida pela Fundação de Experimento e Desenvolvimento Tecnológico Rio Verde, e, com base nos dados, uma tecnologia que pudesse garantir a sustentabilidade econômica da soja semeada em fevereiro seria apresentada.
Assim, o plantio em fevereiro se tornaria uma opção para a produção complementar do grão, em substituição às de final de dezembro.
Segundo o MP, o acordo previa que o plantio fosse feito em até 30 áreas de 50 hectares cada, até a primeira quinzena de fevereiro.
Ainda dizia que os produtores deveriam requisitar a pesquisa até o dia 15 de janeiro, sendo que o Indea deveria analisar os protocolos até o dia 31.
Caso a instituição não se manifestasse até a data, o experimento poderia ser realizado nas áreas informadas.
Risco de disseminação
Na recomendação, os promotores observaram, porém, que esse plantio fora de época tem causado preocupações, tanto entre os produtores, quanto no meio científico e comunidade em geral.
Segundo eles, o medo é de grave risco de disseminação da praga, o que implicaria em prejuízos consideráveis à produção de soja e ao próprio Estado.
O MP lembra que a cultura é uma das bases da economia de Mato Grosso e que uma propagação da ferrugem asiática poderia prejudicar o meio ambiente. Poderia também acarretar num aumento considerável de uso de agrotóxicos, poluição do ar, água, solo e até risco de contaminação da população.
Ainda conforme os promotores o acordo firmado não teria observado algumas normas procedimentais, o que acarretaria em uma ilegalidade. A exemplo, a falta de participação do Ministério Público e da Procuradoria-Geral do Estado nas negociações.
O órgão alega que foi mantida uma confidencialidade das sessões, e nem a Aprosoja e nem o Indea flexibilizaram a divulgação das informações – que só vieram a público depois do acordo assinado.
O Ministério Público pondera que essa questão “interessa e afeta milhões de pessoas, não só em Mato Grosso, mas em todo o Brasil”, justamente pelo risco de disseminação da praga.
Outro ponto citado é que a pesquisa não tem respaldo na comunidade científica, já que a maior incidência da praga no plantio de dezembro do que em fevereiro já é fato conhecido.
Assim, o MP recomendou a imediata suspensão da autorização do plantio excepcional e pediu que qualquer eventual tratativa para resolver o caso conte com a participação do Ministério Público.
Outro lado
Procurada, a assessoria do Indea informou que a entidade vai cumprir a recomendação do Ministério Público, e que uma reunião entre representantes do órgão e da Procuradoria Geral do Estado foi realizada na manhã desta sexta-feira (31).
Por sua vez, a assessoria da Aprosoja considerou que “impedir a realização de pesquisa é o maior absurdo que pode existir, sobretudo a agronômica dentro do maior estado produtor de soja do país”.
Ponderou ainda que é radicalmente contra o plantio na época de vazio sanitário, e que as datas de plantio da pesquisa estariam dentro do calendário permitido.