A imagem do ensino público, em especial o universitário no Brasil, é o tema central de um encontro que ocorre nesta quinta-feira (4) em Cuiabá.
Entre os pontos a serem debatidos está um fenômeno recente e crescente no país, segundo os organizadores: o receio de parte dos brasileiros em ver seus filhos estudando em universidades federais.
O encontro é parte de um debate nacional – Cuiabá é uma das, pelo menos, 15 cidades do país que vai promover essa discussão simultaneamente – promovido pelo movimento Docentes pela Liberdade, nascido a partir de um grupo de WhatsApp.
“Fundador” do movimento – e colunista do LIVRE – o professor da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima afirma que os envolvidos querem jogar luz sobre duas situações: a percepção de que as universidades estão “deslocadas da realidade” do país e uma segregação que profissionais da educação que assumem seguir uma ideologia conservadora – e não de esquerda – estariam sofrendo.
“Muitos pesquisadores têm seus projetos negados, não conseguem ser promovidos, não passam em concursos dentro da universidade pela visão política”, ele afirma.
De acordo com Marcelo Hermes, o fenômeno seria mais perceptível nas áreas de Humanas, mas teria avançado, nos últimos 20 anos, para outras ciências.
“Nas outras áreas, nas engenharias, na área médica e biológica, é uma exclusão social. Você é colocado de lado, como se não existisse”, ele completa. “Desde os anos de 1970 é assim. Se você não for de esquerda, você não consegue nada dentro da universidade. A liberdade não existe”.
Perda de prestígio
O grupo se propõe a debater ainda, conforme o professor da UnB, o papel da universidade dentro de um contexto social. O entendimento do movimento é que elas não estariam dando o retorno esperado: produção de pesquisas relevantes e a formação de profissionais hoje escassos no mercado.
“A universidade hoje é caríssima. As federais custam cerca de R$ 60 bilhões e não estão focadas em formar os profissionais que são importantes para o presente e para o futuro do país. A sociedade não conhece esses números, mas percebe que tem algo de errado”, Marcelo Hermes afirma.
“Em Brasília, muitas famílias não querem mais que seus filhos estudem na UnB. O meu próprio filho não quis estudar. A universidade precisa mudar. Se é a sociedade que paga as contas da universidade, a sociedade precisa ter um retorno”, ele completa.
Pequenos ajustes
Em Cuiabá, de acordo com o gestor em educação Leandro Figueiredo, organizador do evento que ocorre nesta quinta-feira, o foco da discussão deve ser este. Professores e outros profissionais da área, além de parlamentares, vão conversar sobre a “inovação do pensar e agir na educação”.
A ideia é encontrar formas – desde a gestão até a metodologia usada dentro das salas de aula – de recuperar a imagem do ensino público. Na avaliação de Figueiredo, uma questão de “pequenos ajustes”.
Segundo ele, a proposta desse primeiro encontro é discutir comportamentos, tanto de docentes quanto de alunos, que estariam afetando a relação da sociedade com as universidades e contribuindo para a redução de pessoas interessadas em ingressar em uma instituição pública.
“Vai da forma dos professores lecionarem, nesse modelo de colocar o material no quadro e espera o aluno trazer um trabalho, até a responsabilidade do aluno de cuidar do campus. O aluno também precisa se comportar de uma forma diferente”, ele avalia.
O evento
O debate em Cuiabá ocorre na Assembleia Legislativa, a partir das 18 horas, no auditório Licínio Monteiro. Entre os convidados para participar estão a senadora Selma Arruda e o deputado estadual Sílvio Fávero, ambos filiados ao PSL.