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Militância sangue-no-olho

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Militância sangue-no-olho
(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Você deve ter percebido que a web está eivada de muita paixão política. A briga está feia entre os políticos a favor e contra o governo. Mas aqui no baixo-clero dos militantes de WhatsApp, como eu e você, da gente comum que se envolve na discussão porque quer ver o país melhorar, percebi agora a presença de um grupo que cultiva a ideia do vale-tudo-se-estou-no -lado-político-certo.

Essa gente segue o modelo dos profissionais e está adquirindo o hábito de trolar, manchar reputações com denúncias, criar memes falsos e até atacar por razões fúteis funcionários do governo que não são de sua predileção. Enfim, agem como qualquer militante de esquerda agiria. Sentem-se redimidos em seus atos sujos pelo mote pseudo-moral: o fim justifica os meios. No meio evangélico esse “trolamento” virou até ministério, dever cristão.

Será mesmo? Será que a necessidade da vitória política justifica a rejeição das regras sociais que nos pedem o respeito ao outro? Será que a moral mais básica que deveria reger nosso comportamento social e político, ancorada na verdade, cordialidade mínima, respeito, pode ser completamente ignorada quando se trata de fazer militância aguerrida em prol do novo sistema?

Dentre todas as posturas de “guerra” adotadas por esses militantes, a que mais desprezo é o denuncismo. Joseph Stalin usava o terror do denuncismo como prática política. Para assegurar seu lugar no poder estimulava seus correligionários a denunciarem qualquer forma de deslealdade, que era punida com a morte.

A versão direitista desse terror stalinista se viu no auge da guerra fria, quando os Estados Unidos, através da politica instalada pelo presidente Truman, previa a investigação dos vínculos com o comunismo de todos os funcionários federais. O senador Joseph McCarthy foi um dos que apresentou uma lista dos “comunistas” na vida pública americana. Por causa dele cunharam o termo McCarthysmo, para se referir a esse clima doentio de denúncias constantes que o medo do comunismo gerou.

O que mais me perturba nesse denuncismo-cristão é que ele também é justificado na certeza absoluta, num dogma de fé política, que não tem nada a ver com a direita e menos ainda com a fé. As certezas de fé que devemos guardar como cristãos não são certezas que nos conduzem à condenação dos “infiéis,” mas ao perdão e aos esforços de inclusão.

Tenho certeza de que o Criador me ama, tenho certeza de que Cristo morreu para me livrar de meus pecados. Como estas certezas podem se traduzir no ódio ao outro? E estou falando da fé; é menos justificado ainda se levar essa intolerância para o campo político. Aí sim, estaremos voltando para a Idade Média. A igreja cristã viveu momentos terríveis quando alimentada por equívocos desse tipo – e cometeu abusos horrendos que mancham até hoje a nossa história.

O fato é que mesmo sendo de direita continuo sendo gente. Continuo querendo receber respeito dos outros e por isso sou obrigada a respeitar a todos no meu caminho. Principalmente para os que se dizem cristãos, afirmo que o estar certo, seja na doutrina teológica ou na convicção política, não te isenta de maneira nenhuma de manter seu caráter cristão. Se você tem alguma suspeita do irmão, ainda é obrigado a confrontá-lo pessoalmente como a Bíblia nos ensina na tão desprezada passagem de Mateus, 18.

Você também continua sendo obrigado a evitar fofocas e maledicências, a dar a outra face, a perdoar mesmo a quem não merece, porque perdão não é merecimento, é graça. Ainda é obrigado a falar com a pessoa que te feriu e não tem justificativa possível para espalhar lama sobre ela nos quatro cantos da terra.

Sua identidade ainda é a de servo de Deus, responsável por amar o outro em primeiro lugar, mesmo diante da grande “ameaça comunista”. Militância aguerrida não precisa de mentiradas. Denuncismo não vai nos ajudar a ganhar esta guerra.

Você quer realmente que o governo Bolsonaro seja bem-sucedido e que finalmente possamos nos curar das mazelas da ignorância, corrupção e subdesenvolvimento? Comece então respeitando noções básicas de respeito ao outro e trabalhando para que o nosso tecido social não seja rasgado por rusgas e ciumeiras de uma vez por todas.

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