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Medidas restritivas controlam o contágio? A experiência diz que não

Médico diz que ações para controlar a incidência da covid-19 devem levar em conta aglomeração de pessoas nos horários de pico

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Medidas restritivas controlam o contágio? A experiência diz que não
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

“E essa aglomeração?”, diz o passageiro para o motorista. Era por volta das 18h30 de sexta-feira (5) em um ônibus com no mínimo 90 passageiros, no trajeto bairro/centro em Cuiabá. Todos os bancos estavam ocupados e o corredor amarrotava gente à situação em que a catraca ficou travada por pessoas. 

“A gente ainda tem meia hora para não deixar aglomerar”, foi a resposta do motorista. É a situação real de perigo de contágio que não aparece nas medidas governamentais de controle da pandemia do novo coronavírus.  

A semana em Cuiabá foi marcada por confronto sobre em que horário o toque de recolher deveria começar em Cuiabá. O governo do Estado determinou o fechamento do comércio às 19h, é o que estava em vigor; a prefeitura às 23h. Mas, nenhum tem tanto efeito para evitar propagação do vírus. Não na maneira que foram decretados. 

“Reduzir horário de circulação para impedir contágio não tem sentido algum. O efeito dessas medidas é comprimir a circulação de pessoas em menor tempo, gerando mais aglomeração. Alguém já viu o transporte coletivo em Cuiabá no horário de pico?”, diz o médico epidemiologista, Alexandre Machado, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 

Ele diz que as medidas para tentar frear a escala de novos casos da covid-19 deveriam ter um efeito contrário aos restritivos. Se a transmissão ocorre de pessoa para pessoa, as medidas efetivas devem impedir que ocorram as aglomerações, e para isso é preciso dar mais tempo. 

A sugestão do médico é desfazer a concentração de pessoas, por exemplo, nos horários de picos no início da manhã, ao meio-dia e no fim da tarde. As restrições seriam para impedir o mesmo fluxo intenso de pessoas nesses horários. 

“Devem ser pensadas ações que distribuam essas pessoas em horários diferentes, para impedir que o transporte coletivo fique cheio, que o centro da cidade tenha um número de grande de pessoas durante os picos. Se tem menos gente junta, a chance de contágio reduz. Isso é lógico”, disse. 

Experiência da primeira onda 

Uma pesquisa da Universidade de Stanford, na Califórnia, sobre os efeitos do lockdown em 10 países, concluiu que “embora existam pequenos benefícios, não foi encontrado nenhum efeito benéfico, claro e significativo das medidas restritivas em qualquer país”. 

Os dados foram coletados na Inglaterra, França, Alemanha, Irã, Itália, Holanda, Espanha, Coréia do Sul, Suécia e Estados Unidos. Desse grupo, apenas a Coréia do Sul e a Suécia não implementaram o fechamento total nem a obrigatoriedade do “fique em casa”, por isso, serviram de comparação para os outros oito países.  

Ao todo foram realizadas 16 comparações. O que mais influenciou na realização do estudo foram os efeitos prejudiciais à saúde e à economia, como “fome, overdoses de drogas, aumento de doenças, falta do serviço de saúde, falta de vacinas, violência doméstica, problemas de saúde mental, aumento do suicídio”. 

O resultado do estudo foi divulgado em 24 de dezembro de 2020 e também mostra que o número de mortos era sempre maior nos Estados que adotaram o lockdown.  

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