Médicos em estudos do novo coronavírus apontam para a necessidade de mudança de perspectiva sobre o tempo do contágio. A previsão que eles fazem é que o vírus continuará a circular por um longo tempo e isso irá afetar o modelo de saúde pública, no caso brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS).
“Ainda não se sabe como o vírus irá progredir. Mas, não é um fenômeno de curta duração. É preciso considerar um reforço da vigilância aos 15 dias que os estudos têm apontado como prazo da sustentabilidade do vírus”, diz a presidente a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima.
Esse modelo é bem mais amplo do qual vem sendo utilizado pelo Ministério de Saúde e que os Estados e municípios tem aplicado na condução de contagem de pacientes.
As pessoas com resultado positivo para a covid-19 passam por quarentena reduzida de até 21 dias para acompanhar a evolução da doença. Os casos mais graves recebem internação em enfermaria ou Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Os com sintomas leves, que tem sido maioria dos registros feitos até o momento em Mato Grosso, ficam em observação domiciliar.
Políticas de longo prazo
A presidente da Fiocruz participou de um seminário em videoconferência realizado pela Câmara Federal sobre as medidas a serem adotadas no pós-isolamento da pandemia, na semana.
A pesquisadora defende que as políticas de saúde sejam pensadas em termos de meses e até ano, para a montagem de um plano de testagem e o mapeamento do contágio.
Segundo ela, as modificações nas medidas sanitárias para as perspectivas de médio e longo prazos são necessárias mesmo para se pensar em como as atividades laborais e o convívio social deverão ser feitos daqui para frente.
“O isolamento social é hoje a medida mais eficaz para se evitar o contágio. Mas, também sabemos que é difícil manter as pessoas em casa. E isso faz mais necessário pensar em políticas de saúde como controlar a doença”, comenta.
Tempo de sobrevivência
O professor e membro do departamento de clínica médica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Germano Augusto Alves Pacheco pontua o que os estudos sobre o novo vírus já identificaram e que justificam a mudança de perspectiva.
O médico explica que o tempo de 15 dias que vem sendo utilizado como parâmetro sobre a incubação do vírus é o padrão para a sobrevivência de vírus no sistema respiratórios do organismo humano. O causador da covid-19 pode estar durando mais que isso.
“Esse o tempo padrão de permanência de vírus em via aérea. E o exame de testagem coleta amostra do nariz. Se não for identificado após esse período, entende-se que pessoa está segura para circular”, diz.
Conforme o professor, o que os estudos sobre novo coronavírus têm apontado é que a pessoa contagiada pode permanecer até por 30 dias na via respiratória, dependendo da agressividade dele no organismo, dependendo da agressividade dele na infecção.
“São estudos ainda em fase iniciais. Não é possível afirmar se pessoa foi contagiada novamente ou se resultado negativo para o vírus é falso. Mas, os dados indicam que o novo coronavírus não tem essa característica de recontaminação. As pessoas contaminadas criam anticorpos e ficam imunes”, explica.
Imunidade pós-contágio
O diretor do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, Paulo Chapchap, convidado do seminário promovido pela Câmara Federal, afirma que a taxa de imunidade de pessoas que adquiriram ao vírus é baixa em comparação ao número global da população.
Nos países em o contágio está em fase avançada, as taxas de imunes têm variado entre 10% e 20%. Outra perspectiva que é vista como o direcionamento para as mudanças nas políticas de governos.
“Nós não vamos sair dessa pandemia tendo um alto grau de imunidade da população, a chamada imunidade de rebanho. Os países que já alcançaram o platô [do contágio] e estão no decréscimo, o índice não tem sido maior do que 10, 20%”, comenta.
Ela diz que uma “nova forma de convivência” terá que ser apreendida pela população para conviver com o contágio do vírus daqui para frente. E as políticas de saúde devem trabalhar para a testagem de pessoas em monitoramento.
“O número de casos novos tem baixa assertividade porque se testa muito pouco. Então, nós vamos ter que acompanhar a inclinagem das curvas de internados e mortos e disponibilidade de assistência, de leitos e equipamentos”, complementa.