Gabriele Schimanoski/O LIVRE

Pedágio

O fim da tarde do dia 29 de junho se aproximava e a temperatura estava caindo. Depois de viajar por quase 400 quilômetros, entravámos na reta final da viagem com destino a Sapezal (499 km de Cuiabá), município que está entre os que mais produzem grãos no país.

Ao longo das cinco horas de viagem que separavam a capital do nosso destino, as lavouras de milho, prontas para serem colhidas, refletiam um amarelo ouro no para-brisas, por vezes atrapalhando a direção.

Menos de 15 quilômetros depois da passagem por Campo Novo do Parecis, última parada antes do fim da viagem, o cenário mudou. No lugar das lavouras e colhedeiras que valem milhões, uma mata verde, forte e densa chama a atenção. Ali começava a terra dos índios Paresí.

Para seguir viagem e cruzar cerca de 50 quilômetros dentro da Reserva Indígena Paresí foi preciso pagar um pedágio ou, melhor, o direto de passagem. Com um posto improvisado e uma oca, é ali que funciona o único posto de pedágio indígena regulamentado do país.

Gabriele Schimanoski/O LIVRE

Pedágio

A tarifa é cobrada na MT-235, que está pavimentada. Atualmente, são R$ 50 para carretas, R$ 30 para caminhões, R$ 20 para carros de passeio e R$ 10 para motos. Os valores são mais altos do que os cobrados pela Rota Oeste, única concessionária a gerir pedágios no Estado, cujas tarifas variam entre R$ 3,80 e R$ 7.

O pagamento é feito no improviso, no meio da rodovia. Um a um, os motoristas vão sendo parados. Parte reclama do preço. “Aqui, pago R$ 10 a mais do que na BR e não tenho auxílio ou guincho caso precise”, disse um caminhoneiro que carregaria milho em Sapezal.

Enquanto uns se queixam, outros comemoram. É o caso do representante comercial Ronaldo Lima, que faz a rota a cada quinze dias. “É mais fácil e rápido, não acho ruim. O Estado é gigante, e um atalho no trecho é sempre bem-vindo. Já perdi as contas de quanto paguei”, declarou.

Alternativa

O trecho, na verdade, é uma alternativa à BR-364, na qual os motoristas teriam que fazer um desvio de quase 250 quilômetros para chegar a Sapezal.

Com um sistema de rodízio que se renova a cada 45 dias, sete aldeias se revezam na arrecadação. A operação é acompanhada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) desde meados dos anos 2000, quando foi feito um acordo entre os índios e o Ministério Público para que o trecho pudesse ser pavimentado.

“O que a população precisa entender é que essa cobrança não se trata de um pedágio, mas sim do direito de passagem”, explicou o chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Funai, regional Cuiabá, Rodrigo Coimbra.

Como exemplo, o servidor explica a situação de um produtor rural, quando há uma estrada aberta em meio às suas terras. “Ele tem todo o direito de dar passagem ou não”, explicou. “E há outra opção para quem não quiser pagar”, acrescentou.

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Pedágio

No acordo, feito depois de uma ação popular ingressada pelas associações que representam os Paresi, a Funai e o Ibama liberaram a pavimentação da via, enquanto o governo do Estado ficaria encarregado de construir um posto de cobrança e promover melhorias.

“O asfalto chegou, mas o posto não foi construído. Como medida mitigadora da obra, manteve-se a cobrança dessa espécie de pedágio”, relatou o servidor da Funai.

O trecho é tido como uma das principais rotas para o escoamento da produção de grãos da região. Faz parte da rota de quem vai em direção ao estado de Rondônia para chegar à hidrovia do Rio Madeira.

Para os índios, a estrada asfaltada trouxe benefícios, garantiu Joelson Kenizokemae, coordenador técnico Local de Campo Novo do Parecis. “Toda a arrecadação é convertida em benefícios para a própria comunidade”, ressaltou.

Ao todo, são cerca de 1,7 mil índios beneficiados com a arrecadação. O dinheiro é investido em melhorias para as aldeias, como saúde, educação e até mesmo na agricultura. Mas essa história você acompanha numa próxima reportagem.

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