Há uns 5 ou 6 anos eu comecei a fumar, mas não cigarro, cujo cheiro, gosto e fumaça me dão asco. Comecei minha vida de fumante com cachimbo e fui me aprimorando, como é praxe na “arte” de fumar cachimbo.

“Cachimbar” não é usar o isqueiro para pôr fogo na ponta de uma amálgama de fumo pronta (cigarro), mas um ritual que exige calma, paciência e intermitência: desde a escolha do “aparelho” (cachimbo), do fumo, do tipo de acendimento e cuja freqüência nunca poderá ser aquela de um cigarro ou mesmo de um charuto.

O cachimbo exige disciplina. Não é um vício “prêt-à-porter”: pegue a carteira, retire um cigarro, use o isqueiro e consuma sem intervalo parte de sua vida com nicotina, alcatrão e trocentas substâncias tóxicas que o envenenarão à morte – diz-se.

É preciso paciência, cada cachimbo só deve ser usado uma única vez ao dia; a qualidade do fumo interfere muito, e aqui preço costuma ser sinônimo de qualidade: maiores preços, melhores fumos. Não dá para ser um fumante compulsivo com um bom cachimbo bem cuidado, usado uma vez a cada – no mínimo – dois dias custa caro, e o fumo é igualmente oneroso.

Não à toa disse o grande C.S. Lewis: “O cachimbo dá ao sábio tempo para meditar e, ao tolo, algo para tapar a boca”. Na dúvida acerca de seu enquadramento, apenas fume.

Talvez por isso recorram ao lugar-comum “a arte de fumar cachimbo”. Não concordo com tal afetação, todavia, fato é que fumar cachimbo não é como fazer uso de cigarros, e exige uma expertise que se adquire com o tempo: desde a escolha do cachimbo, sua madeira, a piteira e formato que alteram a “cachimbada”, sem falar na qualidade do fumo, o método de preenchimento do fornilho, o formato e o tipo de fumo fazem disso algo deveras trabalhoso para compulsivos comuns.

Ao longo da minha caminhada com cachimbos já passei por situações peculiares. A primeira é ser estereotipado como o “velho”, ou, pior!, hipster, que em vez dos usuais cigarros prefere algo que acaba por chamar a atenção, mesmo que involuntariamente. Não é pequeno o aparato necessário para a atividade: uma fumeira (banalmente traduzida como estojo), um cachimbo, uma bolsa de fumo, fósforos longos, ferramentas de compressão do fumo, cachimbadas lentas para não superaquecer o cachimbo, mas não lentas o suficiente para apagá-lo… uma verdadeira caricatura aos incautos espectadores.

Nesse contexto é divertida a reação que fumar cachimbo em público gera: curiosidade, perplexidade, galhofa… mas nunca indiferença. Certa vez fui com minha esposa buscar uma pizza a pé desde a minha casa. À porta da pizzaria, minha esposa entrou para buscar, e eu com um dos meus cães à coleira, fiquei de fora por conta do fumo. Após pouco tempo, veio um jovem garçom que estava próximo do lado de fora e me perguntou, com toda franqueza:

— Desculpa a intromissão, o que o senhor está fumando?

Respondi: fumo para cachimbo.  E ele, sem titubear:

— Nossa, muito bom o cheiro, dá para “bolar” na seda?

Após um instante com vários pensamentos irônicos e cômicos, além de uma risada involuntária, respondi, ainda atônito: não sei.

N’outra vez em uma consulta obstétrica com minha esposa mencionamos meus cuidados com o fumo em relação à gravidez e fiz algumas perguntas sobre os cuidados necessários. Em meio aos meus questionamentos a única resposta da médica foi:

— Mas o que você fuma nele?

Não sei se é a proximidade a uma universidade pública, ou se são os tempos de modernidade em que a “Cannabis“ se tornou usual, mas a resposta é como foi ao garçom: é apenas fumo de cachimbo com nicotina, alcatrão e trocentas substâncias tóxicas que me envenenarão à morte.

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* Fernando Henrique Leitão é advogado e membro do Instituto Caminho da Liberdade – ICL-MT

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