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Martha Medeiros: “nem doida, nem santa; às vezes conservadora, outras anárquica”

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Martha Medeiros: “nem doida, nem santa; às vezes conservadora, outras anárquica”

No auge dos 57 anos – idade que ela revela sem problema algum –, Martha Medeiros é uma das mais importantes escritoras brasileiras. Formada em jornalismo, trabalhou com publicidade e sempre foi devoradora voraz de livros. Iniciou sua trajetória escrevendo poesias. Há 25 anos, começou a escrever crônicas para jornais do Rio Grande do Sul, Estado em que nasceu e mora até hoje.

De lá para cá, nunca mais parou. Atualmente, é colunista de O Globo e Zero Hora e possui um canal no Youtube, o “M de Martha”. Já lançou 26 obras, entre elas “Divã” – que se tornou filme, estrelado pela atriz Lilia Cabral –, “Doidas e Santas”, – que virou peça teatral, estrelada por Cissa Guimarães – e “Feliz Por Nada”.

São as relações e dilemas humanos que mais a inspiram em seus livros e crônicas. Foi casada por mais de 20 anos e é mãe de duas jovens, Julia e Laura. Traços de sua vida pessoal vez ou outra aparecem em sua escrita. Nem mesmo ela é capaz de negar. Talvez, sua maior influenciadora tenha sido a mãe, Isabel, leitora ainda mais voraz, como a própria Martha descreve em sua entrevista exclusiva ao LIVRE.

A escritora esteve no dia 28 de março pela primeira vez em Cuiabá, para participar de um talk show promovido pelo Goiabeiras Shopping. A coincidência é que sua xará – de nome e sobrenome – a também conhecida estilista, esteve um dia antes na Capital. As confusões e coincidências entre os dois nomes, tão conhecidos nacionalmente, a escritora acha engraçado e relembra de momentos em que elas se uniram em uma campanha para lançarem, juntas, seus produtos.

Martha se prepara para lançar em maio sua 27ª obra, “O meu melhor”, uma coletânea de crônicas de seus 25 anos de colunismo. Confira a entrevista:

1 – Martha Medeiros é mais doida ou mais santa?

Martha – Depende do que a vida apresenta e das circunstâncias. Às vezes, sou um pouquinho mais maluca – não maluca de pedra – mas saio um pouquinho do convencional, me permito abrir minha área de atuação. E, às vezes, sou muito regrada, mas não santa! Acho que, na verdade, nuca sou exatamente doida, nem santa. Às vezes, tenho uma inclinação para uma coisa mais tradicional, conservadora, e, às vezes, uma tendência a ser mais anárquica. Mas acho que nenhuma das duas palavras me definem exatamente.

2 – Sua mãe é formada em Letras e você se tornou uma escritora. Dá para dizer que o fruto nunca cai longe do pé?

Martha – Minha mãe fez faculdade com 40 anos. Ela não estudou desde garota, só se formou depois que eu estava na faculdade, mas não era escritora ainda. Mas, sem dúvidas, minha mãe tem muita influência, sim. Ela é uma adoradora dos livros, sempre leu muito e muito mais do que eu. Uma mulher muito culta, gosta de escrever também, só que ela não chegou a exercer a profissão. Mas dá, sim, para dizer que o fruto não cai longe do pé.

3 – Onde você busca inspiração para escrever seus livros?

Martha – Principalmente na vida e no que eu vejo. Eu gosto muito de sair, ver a rua, escutar as pessoas – ninguém se escuta hoje em dia – escutar as histórias dos outros e ver onde que tem essa sintonia entre o que elas vivem e o que a gente vive, qual é o nosso ponto em comum. Vem de um papo com a filha, com uma amiga, vem do cinema, da literatura, dos amores, da solidão, da minha tristeza, da minha alegria… a gente escreve sobre o cotidiano e a gente tem que estar 24 horas com o radar ligado.

4 – Você já está trabalhando em um novo livro?

Martha – Eu tenho um livro de ficção que está pela metade, está um pouquinho parado e tenho que retomar. Lanço agora em maio uma coletânea em comemoração aos meus 25 anos de colunismo. Vai se chamar “O meu melhor”. São 100 crônicas escolhidas desses 25 anos e mais quatro inéditas.

5 – Você já quis se arriscar em uma outra linha da escrita? Talvez um thriller…

Martha – Não, eu gosto muito do que é existencial, das relações humanas. Eu nunca me arrisquei a ir para um gênero determinado. Eu comecei com poesia, que já foi um começo diferente do que eu faço hoje, depois entrou a crônica de jornal e arrisquei a ficção. Devo ter uns cinco livros de ficção. Tem um livro que são cartas, quase como se fossem contos em forma de cartas. Mas ir para um gênero muito diferente do que eu faço, um suspense ou terror, nem me atreveria, porque eu acho que é cada um na sua praia. Por enquanto, é isso que dá certo: falar da vida real, do que acontece entre nós, uma coisa contemporânea e muito emocional.

Extra – Em algumas das suas obras, a exemplo de “Fora de Mim”, você chega a descrever a dor de uma separação com riqueza de detalhes. Suas obras também contam um pouco da história de Martha Medeiros?

Martha – Contam, sem dúvidas. Acho que todo mundo escreve sobre si mesmo. Tudo que eu escrevo tem um pouco de mim mesma, mesmo que eu não tenha vivenciado aquilo que eu estou escrevendo, mas alguma percepção minha. No caso do “Fora de Mim”, o começo do livro é bastante biográfico, nunca escondi isso e depois ele vira ficção. O “Divã”, que é meu livro mais conhecido e primeiro de ficção, trata de uma crise de meia idade, de uma mulher refletindo sobre sua vida na faixa dos 40 anos, que era a faixa que eu estava quando eu escrevi e as indagações eram as mesmas que as minhas. O que aconteceu com a personagem não era a mesma coisa que aconteceu comigo, mas os questionamentos dela eram os meus. Então, eu me coloco muito no que eu escrevo, estando em sintonia com o público leitor, que percebe essa verdade nas minhas palavras.

Extra – Um tema que você tem tratado bastante é sobre o amadurecimento feminino e a chegada aos 40, 50 anos. Foi um processo doloroso para você?

Martha – Doloroso não, mas exigiu muita reflexão. Os 40 nem tanto. Aos 40 eu tomei atitude na minha vida, mudei muita coisa. Aos 50 foi mais reflexão mesmo, mas tudo foi para melhor. Me lembro quando eu tinha 49 anos e pensei: “opa! Agora acabou o ensaio. Chegar aos 50 não é brincadeira!”. Mas eu acho que é uma busca maior de autoconhecimento, é um filtro que a gente passa em nossa vida, sobre o que eu quero manter, o que eu quero deixar de lado, tirar as gordurinhas, tirar os excessos, fica o que está bom, o que nos faz feliz, o que nos deixa satisfeita. Aprender a lidar com as frustrações, a gerenciar o caos, porque tudo na vida é meio caótico mesmo. Então nesse aspecto foi muito positivo. Mas foi um processo reflexivo e não doloroso.

Saideira – Você já foi muito confundida com a estilista Martha Medeiros?

Martha – Não pessoalmente, porque a gente não se parece, mas muito de eu receber e-mails do GNT Fashion, por exemplo, que pediam entrevista, claro, porque é ligado à moda. E ela tem casos mais engraçados ainda, de ir a um hotel e receber uma cesta de frutas com um bilhete dizendo “Martha, gostamos muito do que você escreve”. Então esse tipo de engano tem, sim. Eu recebo alguma coisa como se eu fosse estilista e ela como se fosse escritora e a gente transformou isso em uma grande piada, porque a gente já se conheceu, já fizemos um evento juntas, inclusive. Foi uma coisa muito legal: eu lancei um livro em São Paulo, na loja dela e ela lançou uma coleção primavera-verão. O nome do evento era “Martha Medeiros com Martha Medeiros” e foi muito bacana. A gente tem que aproveitar essas coincidências e não evitá-las.

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