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Maria Taquara “sai de cena”; Chafariz do Mundéu e Obelisco também são restaurados

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Maria Taquara “sai de cena”; Chafariz do Mundéu e Obelisco também são restaurados
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Nos últimos dias a ausência de Maria Taquara chamou a atenção de quem caminhava pelo Centro de Cuiabá. E a estátua icônica da cultura local vai permanecer longe pelos próximos dois meses. Mas é por um bom motivo.

Assim como o Chafariz do Mundéu, localizado na Praça Bispo Dom José, e o Obelisco da Praça Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, no Porto, ela vai ser restaurada.

As intervenções visam a preservação dos três mais simbólicos itens da cidade. Estão previstas no projeto Monumentos Históricos – Cuiabá 300 anos, idealizado pela Associação dos Produtores Culturais de Mato Grosso, a Ação Cultural.

Os recursos são provenientes da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo – contratação direta por inexigibilidade de licitação – e vão custear, além da restauração, iniciativas de educação patrimonial.

Maria Taquara passa, então, uma temporada na oficina de Fred Fogaça – assim como o Obelisco – enquanto o artista também gasta boa parte do seu tempo na Praça do Porto, onde montou um verdadeiro ateliê.

Outros profissionais centram suas atividades no Chafariz do Mundéu, tombado como patrimônio histórico estadual.

Diretora da Ação Cultural, que gerencia as atividades, Viviene Lozi explica que, até chegar à prática, fora feito um levantamento arquitetônico e diagnóstico para elaboração dos projetos de restauração.

A equipe é formada por historiadores, arquitetos e restauradores. E o trabalho deve durar cerca de 60 dias.

“Antes da gente colocar a ‘mão na massa’ os projetos passaram por uma rigorosa avaliação. Foram levados em consideração critérios técnicos dos órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio histórico”, explica.

A Ação Cultural já desenvolve outros projetos de preservação e restauração e acervos museológicos, bibliográficos e arquivísticos, bem como, de bens móveis e imóveis.

“Em 2006, realizamos a restauração do prédio do Seminário da Conceição, que abriga o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, e a Fundação Bom Jesus. Recuperamos também parte do mobiliário pertencente a Dom Aquino Corrêa, além de assinarmos a montagem e restauração dos quatro altares remanescentes da antiga Catedral, demolida em 1968”, exemplifica.

Maria Taquara

Reprodução/Cuiabá de Antigamente

De acordo com o pesquisador, Francisco das Chagas Rocha, um dos ícones da cultura cuiabana se chamava Maria da Glória Cunha.

Ela viveu em Cuiabá na primeira metade do século 20. Era lavadeira e doméstica. Negra, magricela, constantemente descalça e calada, perambulava pela cidade a qualquer hora do dia e da noite com uma trouxa de roupas, seus únicos pertences, sob a cabeça.

Morava nas imediações do hoje quartel 44, debaixo de uma lixeira. Nessa mesma árvore, ela fez um pequeno abrigo com um zinco e lá dormia.

Pela manhã, Maria Taquara descia batendo lata, indo para a Prainha lavar roupa de diversas famílias cuiabanas.

Segundo ele, este é um relato “fidedigno de um amigo que a conheceu e, quando criança, ia pelotear próximo de onde ela morava”. O texto foi publicado no grupo Cuiabá de Antigamente, do Facebook.

A artista Haroldo Tenuta esculpiu sua imagem em bronze.

Dizem que ela foi a primeira mulher a usar calças em Cuiabá. São várias as versões que alimentam a admiração por sua figura lendária. O site Historiografia Mato-Grossense dedicou material especial: Conheça um pouco da história de Maria Taquara

Chafariz do Mundéu

Intervenção da artista Mari Gemma de La Cruz: chafariz em 2013 versus registro do século 18

O chafariz era alimentado pelas águas de uma nascente da Santa Casa de Misericórdia.

No livro Bicas, Fontes, Chafarizes, Caixa D’Água Velha e a Água de Beber, Neila Barreto relata que, em 1863, com uma seca na Capital, o chafariz era guardado por sentinela militar, que ficava em uma guarita.

Há um trecho em que ela conta quem 1874, os moradores da cidade se abasteciam de água potável em um “tanque público”, no fim da Rua Corumbá e no Chafariz do Mundéu. Animais também se serviam em meio ao movimento de diversificadas pessoas que lá iam colhê-la:

[…] ali no Chafariz do Mundéu também se reuniam os escravos e a plebe de Cuiabá, sobraçando latas; negros zucas com potes de barro debaixo dos braços e rodilhas na cabeça […] o líquido com que abasteciam as vivendas dos senhores (RODRIGUES, Dunga, no livro Cuiabá ao longo de 100 anos, 1994, p. 146).

Mas uma falta de água teria assolado a cidade nesta época, entre os meses de julho e novembro. Os chafarizes teriam secado.

“Com os chafarizes secos e abandonados, em 1875, um jornal local denunciava publicamente que, no chafariz da praça de Dom José, ‘existem em putrefação muitas cobras e sapos'”, diz trecho do livro da pesquisadora.

Obelisco

O obelisco comemorativo ao bicentenário da fundação de Cuiabá, oferecido por Corumbá (MS) e inaugurado em abril de 1920, está localizado na praça que homenageia o governador e capitão-general da capitania de Mato Grosso do fim do século XVIII, Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.

Ele integra a área do conjunto arquitetônico do antigo Distrito D. Pedro II e é tombado como patrimônio histórico cultural do Estado.

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