Em manifesto que já conta com mais de 100 assinaturas, jornalistas de Mato Grosso externam a indignação com declarações classificadas como tentativas de intimidação e ameaça à liberdade de imprensa e ao exercício profissional.
A manifestação pública foi motivada por declarações dadas pelo presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam), José Arimatéa Neves Costa, em entrevista à Rádio Capital FM, em relação à matéria veiculada no jornal A Gazeta que circulou na última terça-feira (06).
A reportagem cita reunião entre o presidente do Tribunal de Justiça Mato Grosso, Rui Ramos, e o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM), na qual supostamente teria sido apresentada proposta de negociação para assegurar a soltura do deputado estadual Mauro Savi (DEM).
De acordo com o jornal, os parlamentares teriam proposto votar projetos de interesse do Poder Judiciário, como o caso do Reajuste Geral Anual (RGA), em troca da soltura de Savi.
Confira manifesto na íntegra
Os jornalistas abaixo assinados repudiam de forma veemente as tentativas de intimidação e ameaça à liberdade de imprensa e ao exercício profissional.
Ainda que de forma velada, declarações que buscam, por vias obtusas, driblar as garantias constitucionais que permitem a nós, cidadãos, o direito à informação, causam repúdio e indignação.
Assim aconteceu com as recentes declarações do presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam), José Arimatéa Neves Costa, na manhã desta quarta-feira (06), quando na ânsia de defender sua categoria, esqueceu-se do principal mister de sua função: a defesa dos direitos e garantias fundamentais.
Ao colocar como opcional um direito tão caro ao jornalista e à sociedade, como a preservação do sigilo da fonte – instrumento esse garantidor da liberdade de imprensa -, o magistrado coloca como opcional e acessória a própria democracia.
A imprensa ameaçada pelo Poder Judiciário (como acusador e julgador da própria causa), também Estado, não pode ser livre. Sem imprensa livre, não há cidadania.
Outro lado
Em resposta ao manifesto, o presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam), José Arimatéa Neves Costa, disse que respeita a liberdade dos jornalistas que subscrevem a nota, “embora discorde no mérito sobre a indignação nela inserida”.
Segundo ele, as declarações foram dadas numa entrevista via celular para uma rádio da capital, estando ele em Brasília, na qual fez alguns comentários sobre a reportagem.
“Disse sim que iria ‘processar’ o jornal, que na prática seria uma interpelação judicial, dando a oportunidade para eles indicarem quais seriam os desembargadores que estariam envolvidos nessa suposta negociata. Seria no sentido de indicar os nomes dos supostos malfeitores, até porque 99% da minha fala foi repudiando essa estória”.
O magistrado ressaltou ainda saber que no Brasil o sigilo da fonte é garantia constitucional. “Quem me conhece sabe que jamais sequer cogitaria uma coisa dessas”.