Diante de uma safra recorde em que o país deve produzir 232 milhões de toneladas, segundo o último levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o agricultor brasileiro presencia neste ciclo o maior déficit de armazenagem da história. A capacidade de armazenamento de grãos instalada no país é de 157,6 milhões de toneladas, o que significa dizer que falta espaço para estocar 75 milhões de toneladas – um déficit de mais de 32% do que será colhido no país.

Considerando a margem de segurança da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), esse déficit aumenta. A margem é de 20% em cima de tudo que se produz em grãos. Com isso, o saldo negativo de armazenagem brasileira passa das 75 milhões de toneladas para 120,8 milhões de toneladas.

Ednilson Aguiar/O Livre

 Frederico Silva Aprosoja

Aumento da capacidade de estoque traria mais vantagens competitivas a Mato Grosso

O caso de Mato Grosso é o mais grave entre todos os Estados. Além da distância dos portos e da falta de infraestrutura nas principais rodovias federais como as BRs 163 e 364, por onde são escoados 80% dos grãos, o Estado tem um déficit de 35 milhões de toneladas, considerando a margem da FAO.

De acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produção agrícola de soja e milho da safra 2016/17 no Estado é de 57,5 milhões de toneladas, e a capacidade de armazenagem estática é de 33,8 milhões de toneladas.

“É como se tivéssemos uma fábrica de carros sem ter lugar para guardá-los”

“É como se tivéssemos uma fábrica de carros sem ter lugar para guardá-los ou uma confecção que não tem onde armazenar suas peças de roupa”, compara o gerente de Política Agrícola da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Frederico Azevedo. “Alguém consegue imaginar que o setor mais pujante da economia brasileira passa por esse grave problema?”, questiona.

Para ele, o governo precisaria estimular o produtor e cooperativas a investir em armazéns oferecendo juros mais baixos, acesso fácil ao crédito e direcionando incentivos para regiões de maior necessidade, como é o caso dos Estados que fazem parte da Amazônia Legal.

Atualmente existem linhas de créditos para esse fim. O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) é uma delas, mas, segundo Azevedo, tem taxa de juros alta, de 8,5% ao ano. “Ele não vai investir na construção de armazéns, pois essa taxa não se paga. Estamos com expectativas de a taxa Selic ficar em 8% ao ano, então, não tem motivos para o produtor querer investir nisso. Os juros estão acima da Selic. Ele não vai se descapitalizar”, explica.

Conab

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Ganhos

Aumentar a capacidade estática de armazenamento em Mato Grosso trará diversos ganhos, afirma Azevedo. O aumento da competitividade em relação à produção dos Estados Unidos e melhores preços na hora de negociar com tradings são exemplos disso.

Em MT, maior capacidade de armazenamento traria aumento da competitividade em relação
à produção dos EUA

“Os americanos possuem uma capacidade de armazenagem superior a 115% de tudo o que é produzido lá, então, ele faz o mercado que ele quer, aproveitando as melhores oportunidades de negociação da safra”, explica.

O gerente destaca que ninguém produz para ter prejuízo. Por isso, diz ser necessário segurar a produção, como o que vem acontecendo no cenário atual. Segundo ele, o produtor não está vendendo soja, pois não pode vender a R$ 46 a saca. Assim como o milho, que está sendo cotado entre R$ 12 e R$ 16 em Mato Grosso, enquanto o valor mínimo para o Estado é de R$ 16,50.

Além de conseguir melhores preços, Azevedo destaca que o produtor ganha também com a questão da qualidade do produto a ser entregue às tradings. “Ele não vai enviar um grão que está vindo da lavoura com impurezas. Ele vende um produto limpo, selecionado para o comprador dele”.

Para ele a saída deste ciclo será o emprego dos chamados “Silo-bag”, devido ao baixo custo de investimento, facilidade e rapidez na hora do armazenamento. “Uma alternativa rápida, pois os armazéns estão cheios, e o milho vem aí.”

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