Imagine a seguinte manchete nos jornais: “Ladrão Furta Aposentadoria de Idoso”. Um senhor que fez suas contribuições – forçadas (INSS ou qualquer outra artimanha insustentável do governo) e não-forçadas (previdência privada, ações, fundos) – durante a vida inteira foi assaltado por um maluco. O ladrão levou tudo como se tivesse o direito de fazê-lo.
Você, ao ler isso, não sendo um daqueles defensores de bandidos, ficaria indignado. Reclamaria em todas as redes sociais. Sem dúvidas acharia isso uma crueldade, certo? Então por que você faz a mesma coisa que o ladrão?
Para esclarecer o que estou dizendo, façamos uma dobra no espaço-tempo. O idoso é você no futuro e o “ladrão” é você também, mas no presente (juro que não estou usando drogas ilícitas nestas festas de fim de ano).
O idoso está curtindo sua aposentadoria sentado tranquilamente numa cadeira de balanço em seu sítio a dez quilômetros de Blumenau, Santa Catarina, observando os adoráveis netos sujarem de barro as paredes brancas de sua casa de veraneio, enquanto berram a plenos pulmões paródias do YouTube às 10h30 da manhã de um dia ensolarado no ano de 2057.
O “ladrão” está numa noite quase fria de 2020, escolhendo entre duas camisas de R$ 210,00 cada – acabou de pagar a terceira parcela de um total de 8 (sem juros) – logo depois de passar o perfume Paco Rabanne 1 Million – comprado com o dinheiro antes destinado ao plano de saúde – para arrasar na balada mais cara da cidade, onde pretende gastar no mínimo R$ 400,00 no cartão de crédito, pagando drinks a amigos e a possíveis futuras (ex-)namoradas.
Se o “ladrão” fizer isso em todos finais de semana durante 2020, o idoso verá seu sítio desaparecer em 2057 como na cena final de ‘Vingadores: Guerra Infinita’. Se o “ladrão” de 2020 continuar ostentando mais do que pode comprar, o idoso de 2057 será automaticamente transportado para um apartamento alugado em algum bairro remoto de Cuiabá onde se paga por esgoto, mas não o tem.
Ilustrando melhor a situação:
- 2020 – “ladrão” toma vinho caro todas as noites / 2057 – desaparece a adega de vinhos premiados do idoso, dando lugar a uma geladeira antiga cheia de Glacial morna;
- 2020 – “ladrão” vai a restaurantes caros duas vezes por semana / 2057 – desaparecem da carteira do idoso os ingressos VIP para o jogo do Santos em São Paulo, fazendo-o ser obrigado a ver o jogo no Bar do Tonhão da esquina, pois não pagou a TV a cabo em casa;
- 2020 – “ladrão” compra um Corolla 2021 em parcelas que mal pode pagar / 2057 – desaparece o Jeep comprado à vista pelo idoso (antes usado para ir ao sítio que sumiu), sendo agora obrigado a se locomover por meio de ônibus atrasados e sem ar condicionado*.
Vai dizer que isso não se parece com furto? Você está furtando seu próprio conforto futuro para obter pequenos prazeres efêmeros no presente com um comportamento assemelhado ao de uma criança mimada numa loja de brinquedos.
Para sair desse modelo de vida, sugiro que você se torne caridoso, em vez de “ladrão”. Por que não contribuir com o idoso ao invés de tirar tudo que ele tem de real valor? É necessário poupar (e investir) seu suado dinheiro.
De acordo com os ensinamentos de George S. Clason em ‘O Homem Mais Rico da Babilônia’, guardar e investir pelo menos 10% de sua renda mensal fará o idoso de 2057 ficar cada vez mais feliz e tranquilo em seu sítio, sem ter que se preocupar com boletos, enquanto curte os netos.
Concluindo: espante o “ladrão” de 2020 de sua casa! Tenha mais consciência quanto ao seu futuro. Garanta sua segurança financeira. Antes de gastar seu dinheiro faça ponderações como as seguintes: “Eu preciso mesmo gastar essa quantia? Eu preciso mesmo desse produto? Se eu gastar essa quantia meu ‘pé-de-meia’ será afetado? Caso eu realmente precise gastar eu conseguirei me recuperar?”
Quando 2057 chegar você vai desejar ter o poder de dobrar o espaço-tempo para agradecer a si mesmo no passado.
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*Retratei o idoso de 2057 fazendo atividades que idosos gostam de fazer hoje (como ver jogos do Santos) para melhor compreensão do leitor. Talvez idosos irão gostar de fazer outras coisas no futuro, como ter carros autoguiados ou ir a apresentações de kizomba.
Luiz Felipe Costa é empreendedor, músico e servidor do Estado de Mato Grosso
