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Intriga e fofoca: como a relação entre duas amigas terminou em assassinato

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Intriga e fofoca: como a relação entre duas amigas terminou em assassinato
Fernanda (de branco), a vítima, e Aldirene (de vinho), a acusada (Foto do Instagram de Fernanda)

Era por volta de 12h20 do dia 26 de fevereiro quando Fernanda Souza Silva, 22 anos, e a amiga Janaína Pereira Rosseti, 34 anos, chegaram em um conjunto de quitinetes da Rua Jerônimo Lopes Esteves, do Bairro Jardim Paulista, em Rondonópolis (220 km de Cuiabá), onde a amiga de Fernanda, Aldirene da Silva Santana, 26 anos, morava. Elas não sabiam, mas em poucos minutos a vida de Aldirene e Janaína mudaria para sempre. E a de Fernanda chegaria ao fim.

A rua é bem tranquila e até mesmo o bar que fica em frente à quitinete estava fechado no horário em que Fernanda entrou no residencial. O portão estava aberto. Ela bateu na janela do apartamento 05, onde Aldirene morava, e pediu que a amiga abrisse a porta.

Fernanda não dormia e nem comia direito há dois dias, angustiada com as fofocas que supostamente a amiga – há até duas semanas muito próxima – estava espalhando sobre ela. A jovem cabeleireira de 22 anos estava decidida a tirar a história a limpo.

Aldirene abriu a porta – na versão da única testemunha ocular do crime, Janaína, já com uma faca na mão – e deu início a uma discussão com Fernanda. Em meio à briga e à alteração, Aldirene deu uma facada no peito de Fernanda, que reagiu agarrando-se aos cabelos de Aldirene, por poucos segundos, até que perdeu a força e caiu no chão.

A jovem de 26 anos tirou a faca do peito da amiga e sinalizou que iria esfaqueá-la mais uma vez, sendo impedida por Janaína, que a segurou pelo pulso e pressionou até que ela soltasse a faca no chão do banheiro.

No depoimento à Polícia Civil, Janaína falou que Aldirene chegou a dizer: “Meu Deus, o que eu fiz? Salva ela, não deixa ela morrer!”. Mas já era tarde. A facada no peito – que, embora o laudo do IML ainda não esteja pronto, acredita-se ter acertado o coração – tirou a vida de Fernanda em cerca de oito minutos.

Ali acabara a vida da jovem cabeleireira que aprendeu o ofício aos 11 anos e agora estudava para ser policial. O motivo que a levou até a casa da amiga? Uma história que envolve amizade, desconfiança, fofoca e, possivelmente, dois homens.

(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

A sempre alegre e amiga

A mais velha de três irmãos – ela tem uma irmã de 12 anos e um irmão de sete –, Fernanda é descrita, acima de tudo, como uma menina alegre, otimista, forte e que se doava muito às amigas.

Filha de uma manicure e cabelereira de 36 anos, Luciene Barbosa de Souza, Fernanda aprendeu o ofício no salão da mãe, que fica na parte da frente da casa, no Bairro Jardim Taiti, em Rondonópolis, aos 11 anos.

Aos 16 anos, Fernanda se casou e saiu de casa. O casamento lhe trouxe o pequeno Antony, atualmente com quatro anos, que há dois anos – com a separação dos pais – ficou sob a guarda do pai.

Até o dia do crime, a jovem morava sozinha em uma quitinete próxima à casa da mãe, para onde ia com frequência quase diária. Não trabalhava e estava fazendo um curso preparatório para concursos: seu o plano era realizar o sonho de se tornar policial.

A mãe conta que Fernanda era muito forte e não costumava se abalar com a opinião de ninguém, visto que tinha se tornado independente muito cedo. Mas, apesar disso, ainda carregava a inocência da juventude, não vendo malícia em nada e ninguém.

“Ela era aquela menina que conhecia uma pessoa e já confiava 100%, sabe? Eu sempre a alertava em relação a isso; só que ela era boa demais, ela se dava demais. Quando tinha uma amiga, ela se doava demais, ficava muito tempo junto. E eu sempre alertava, mas conselho de mãe nunca vale, só quando eles crescem e amadurecem é que eles entendem conselho de mãe”, lamentou Luciene.

Amizade

A amizade de Fernanda e Aldirene começou há cerca de oito meses. Elas chegaram a passar o Ano Novo juntas e Fernanda postava fotos com a amiga em suas redes sociais. No dia 8 de fevereiro, 18 dias antes do crime, ela chegou a publicar uma foto com a legenda: “Laços podem ser desfeitos, por isso demos um nó”.

A mãe de Fernanda disse que sabia da proximidade das duas, mas só chegou a ver Aldirene duas vezes, uma delas no salão dentro de sua própria casa.

“Eu tenho um salão aqui na frente. Essa amiga dela [Aldirene] trabalhava, e depois que ela saiu do serviço, veio depilar com a Fernanda aqui. Aí ela entrou, eu deixei elas sozinhas no salão, elas fizeram a depilação e saíram”, lembrou Luciene.

A outra vez foi no trabalho de Aldirene, um posto de gasolina. No mais, ela apenas via a amiga da filha por fotos das duas juntas nas redes sociais, ou no celular de Fernanda, mas afirmou que não tinha convivência com ela – diferentemente de Janaína, que frequentava mais a casa da família de Fernanda, com quem tinha amizade há três anos e meio.

Fernanda e Aldirene costumavam sair juntas e começaram a se desentender por volta de duas semanas antes do assassinato, segundo Janaína, por causa de uma foto de Fernanda com um rapaz que Aldirene já havia se envolvido.

Quando a amiga deixou de se relacionar com o rapaz, Fernanda permaneceu próxima dele, mas, segundo ela teria relatado para Janaína, apenas como amiga. Aldirene, porém, viu a foto dos dois juntos e não gostou.

“Essa briga foi muito rápida. Começou tudo por causa de uma foto. Tinha um grupo de amigos [no WhatsApp], aí postaram lá uma foto da Fernanda e desse rapaz que a Aldirene ficava e ela viu. A Aldirene ficou enciumada, falando que ela [Fernanda] estava ficando com ele e o tempo todo a Fernanda falava que não estava ficando com ele. Então a briga começou por isso, porque ela acreditava que a Fernanda estava ficando com o rapaz”, contou Janaína.

Foto publicada por Fernanda no dia 08 de fevereiro com a legenda: “Laços podem ser desfeitos, por isso demos um nó”

Um segundo motivo

Em seu depoimento à Polícia Judiciária Civil, ao qual o LIVRE teve acesso, Aldirene afirmou que havia parado de conversar com Fernanda há duas semanas porque a amiga mantinha um relacionamento amoroso com um homem casado, que era cliente do posto de combustível onde Aldirene trabalhava – e que isso estava fazendo com que saíssem comentários pela cidade sobre as duas.

Segundo o relato de Aldirene, Fernanda falava dela para o suposto amante e ela falava da amiga para o homem também. Na véspera do assassinato (segunda-feira, 25 de fevereiro), o amante teria ido na casa de Aldirene e conversado com ela por cerca de 30 minutos, quando, segundo a mesma, ela teria dito a ele que Fernanda estava saindo com outros homens.

Aldirene disse em depoimento acreditar que o motivo de a amiga ter ficado brava com ela era que o suposto amante pagava as contas de Fernanda.

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O dia do crime

O desentendimento foi tirando o sono e a fome de Fernanda, que conversou com a mãe e disse desde a segunda-feira (25) que queria conversar com a amiga para tirar isso a limpo.

“Conversei muito com ela na segunda, conversei com ela na terça-feira de manhã, e aí quando ela me falou que ia na casa da Aldirene, que ia tirar satisfação com ela, eu pedi a ela que não fosse. Até nesse dia mesmo eu pedi pra ela não ir, falei: ‘não faz isso, ela já saiu falando e algumas coisas são verdade, então deixa isso pra lá’. Mas eu conheço a Fernanda, ela não foi lá para bater, não foi lá preparada para coisa pior, eu sei que ela foi lá para conversar”, disse a mãe de Fernanda.

Antes de ir à casa da amiga, por volta das 11 horas, Fernanda ligou para Janaína e a chamou para almoçar. Ela pegou a amiga em casa e as duas foram em um restaurante, porém, Fernanda não quis almoçar, estava pálida, ansiosa e nervosa, contou o que estava acontecendo e pediu que a amiga a acompanhasse até a casa de Aldirene.

Janaína tentou impedir Fernanda, disse que não valia a pena ela se desgastar com isso e a chamou para ir à igreja, mas Fernanda estava irredutível e disse a ela: “Não, preciso conversar com a Aldirene e saber porque ela está espalhando essas coisas de mim, se você não me acompanhar, eu vou sozinha”. E as duas foram.

“A Fernanda foi lá conversar. Achei que não fosse passar de uma conversa, que elas iam se esclarecer e ia ficar por isso. Eu nunca imaginei que ia chegar ao ponto de elas brigarem e de tudo o que aconteceu”, disse Janaína.

Fernanda e a testemunha, Janaína (na foto), eram amigas há três anos e meio

Fernanda sabia que Aldirene estaria em casa porque ela tinha feito uma cirurgia para retirada das amígdalas no dia 21 e estava de repouso. Quando Fernanda e Janaina chegaram ao conjunto de quitinete, encontraram o portão aberto e entraram. Elas subiram as escadas, Fernanda na frente e Janaina com a bolsa e os capacetes das duas nas mãos, atrás, e encontraram a janela de Aldirene aberta.

Fernanda pediu pela janela que Aldirene abrisse a porta para que as duas conversassem. Ela abriu, Fernanda deu cerca de três passos para dentro e Janaína entrou atrás, momento em que, segundo ela, viu que Aldirene estava com uma faca na mão.

“Eu entrei na porta da cozinha e vi a faca na mão dela. Aí eu pedi muito para ela soltar a faca, para ela conversar com a Fernanda como duas adultas, que não precisava daquilo tudo, mas ela estava muito nervosa também e não queria soltar a faca”, afirmou Janaína.

Ela disse que Fernanda estava tão nervosa quanto Aldirene. “Tinha dois dias que ela não dormia direito, não se alimentava bem. Ela ficava o tempo todo com aquelas fofocas, aquela conversa na cabeça dela, que em nenhum momento a Aldirene poderia estar fazendo aquilo com ela, degradando a imagem dela. Ela ficou muito chateada em relação a isso”, disse.

Em seu depoimento à Polícia Civil, Janaína disse que enquanto pedia que Aldirene se acalmasse e soltasse a faca, ela respondeu: “eu estou de boa, só estou conversando”.

As três ficaram em frente à porta, do lado de dentro, em uma quitinete pequena, em que a cozinha, o quarto e o banheiro ficam extremamente próximos. Fernanda e Aldirene começaram uma discussão acalorada, repleta de xingamentos.

Mesmo a dona da casa tendo operado recentemente, as duas gritavam, chegando ao ponto de serem ouvidas pelo vizinho e seu filho (que estava apenas visitando o pai). Os dois, em depoimento, disseram que a discussão “parecia ser por causa de homem”, parando por um momento e recomeçando em tom mais alto.

A quitinete em que tudo aconteceu (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

O vizinho, de 72 anos, disse ter ouvido Aldirene gritar: “Tira essa mulher da minha casa” e, por pensar que era uma discussão acirrada, mas estar preocupado com a vizinha que tinha acabado de operar, levantou-se pensando em ir ver se estava tudo bem.

A única testemunha que estava dentro da casa, Janaína, afirma que em momento algum Fernanda teria ido para cima de Aldirene para bater nela, mas que as duas apenas se xingavam muito.

“Só se xingavam. Uma falava que ia pegar a outra. A Aldirene perguntava por que a Fernanda tinha feito isso com ela. E a Fernanda: ‘mas eu não fiz isso, você está doida, em nenhum momento eu fiquei com ele’”, contou.

Até que, em um momento de muita alteração, segundo Janaína, Aldirene esfaqueou Fernanda no peito, tirou a faca e foi em direção ao pescoço de Fernanda, quase a ferindo novamente, sendo impedida por Janaína, que a segurou por trás.

Fernanda chegou a conseguir ter uma reação, colocando os dedos no cabelo de Aldirene com toda a força que ainda lhe restava. Mas soltando poucos segundos depois, quando perdeu a força e caiu no chão.

Enquanto Fernanda perdia a vida, Janaína disse que lutava para que Aldirene não golpeasse mais a amiga. Ela segurou a suspeita pelo pulso e apertou firme, até que a faca caísse e parasse dentro do banheiro.

Janaína recebeu a equipe do LIVRE em sua casa e, ainda abatida, relatou o que presenciou (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

O vizinho idoso que ouvia tudo correu para a casa de Aldirene e abriu a porta que estava encostada, encontrando, segundo o depoimento dele à Polícia Civil, Janaina segurando Aldirene por trás, tirando ela de cima de Fernanda e tomando a faca da mão dela. Ele afirmou que Janaina falou para Aldirene: “Você viu o que fez? Matou a amiga!”, enquanto Fernanda já revirava os olhos.

Segundo o relato do idoso, a casa aparentava ter sido o cenário de uma briga intensa, com cadeiras bagunçadas e uma mesa de vidro jogada no canto. No depoimento de Janaína, ela afirmou que após soltar a faca Aldirene disse: “Meu Deus, o que eu fiz? Salva ela, não deixa ela morrer”.

Tanto Janaína, quanto o filho do vizinho idoso, relataram que Aldirene, abalada e fora de si, tentou sair do local entrando em seu carro e tentando dar partida. Mas, a pedido de Janaína, o portão foi fechado pelo idoso. Não trancado, apenas encostado.

O vizinho e o filho pediram socorro acionando o Samu e a polícia, mas já era tarde.

“Da hora em que ela levou a facada até a hora que ela morreu foi questão de uns oito minutos, foi muito rápido. Eu não consegui fazer nada”, lamentou Janaína, que completou: “Eu cheguei a tentar socorrê-la. Ela [Aldirene] colocou a faca e tirou. Eu consegui fazer compressão para estancar o sangue, mas eu acho que, como ela [Fernanda] fez força depois que levou a facada, para puxar o cabelo da Aldirene, ela sangrou mais. Não teve jeito, porque pegou no coração. Quando o Samu chegou ela já estava sem vida”.

Depois que ser impedida de fugir, Aldirene pegou o celular e, segundo Janaina, passou a fazer várias ligações dizendo que tinha acabado com sua vida, porque tinha matado Fernanda. Quando a Polícia Militar chegou, ela assumiu ser a autora do crime.

Fernanda e Aldirene no ano novo (Foto do Instagram de Fernanda)

A notícia da morte

Muito nervosa e gritando por socorro, Janaína pegou o celular de Fernanda e o desbloqueou, usando a digital da amiga. Primeiro, ela ligou para um amigo da vítima, que é enfermeiro, para perguntar o que poderia fazer, mas ele não atendeu. Depois ela ligou para a mãe de Fernanda para dar a notícia e pedir ajuda.

A mãe, Luciene, atendeu a ligação pensando ser Fernanda. Era hora do almoço e ela estava arrumando os outros dois filhos para ir para a escola, quando ouviu os gritos de Janaína, que dizia: “Tia, sua filha está morta, a Fernanda está morta”.

A princípio, Luciene não acreditou, afinal, não era a primeira vez que ligavam falando que Fernanda estava caída no chão: quando mais nova, ela foi para a escola, pegou a motocicleta de um amigo escondido, bateu no centro da cidade e a mãe, que achava que a filha estava estudando, recebeu uma ligação de que ela tinha se acidentado.

“Então, no momento eu achei que era trote, uma brincadeira de mau-gosto, mas meu esposo pegou o telefone e viu que realmente tinha acontecido alguma coisa, e em 11 minutos eu já estava no local”, contou a mãe.

A polícia chegou mais rápido e impediu que a mãe se aproximasse da cena do crime, o que deu a ela a esperança de que não fosse sua filha. Luciene só acreditou quando o corpo de Fernanda foi levado para baixo, dentro de uma caixa, somente com os pés para fora. A mãe reconheceu a filha mais velha pelos pés.

(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

A defesa

Apesar de assumir ter matado Fernanda assim que viu a equipe da Polícia Militar no local do crime, no registro do boletim de ocorrência, quando já estava sendo acompanhada pelo advogado Pedro Pereira Campos Filho, Aldirene afirmou não se lembrar do que tinha acontecido e que havia sido agredida com um soco no rosto – o que foi negado pela testemunha Janaína. A agressora disse que tinha caído no chão e não se lembra de mais nada, apenas de ter visto Fernanda no chão, sangrando. Janaína, no entanto, contesta a possibilidade dessa versão do “apagão”.

“No tempo todo em que a Fernanda estava conversando, ela estava bem serena. Eu pedia muito para ela soltar a faca da mão e o tempo todo ela estava com a faca, muito séria e falando que não ia soltar. Não sei se alguém induziu ela a falar isso, que não se lembra de nada, mas ela lembra sim”, afirmou Janaina.

Aldirene negou ter aberto a porta com a faca na mão; disse não se lembrar em que momento teria pegado a faca e alegou que Fernanda teria jogado seu celular no chão. A suspeita está presa no Presídio Feminino de Rondonópolis. Na sexta-feira (1º), o juiz Wagner Plaza Machado Junior determinou a prisão preventiva da jovem.

O LIVRE conversou com o advogado que acompanhou a lavratura do boletim de ocorrência, o depoimento dela à Polícia Civil e a audiência de custódia.

Pedro Pereira Campos Filho disse que, apesar do flagrante, acredita não haver necessidade de uma prisão preventiva, pelo fato de o homicídio ter acontecido dentro da casa de Aldirene e que o juiz só decretou a prisão preventiva devido à repercussão da mídia.

Pedro Pereira Campos Filho, advogado de defesa de Aldirene (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

A defesa, segundo Campos Filho, pretende trabalhar com a hipótese de que Aldirene teria agido em legítima defesa, porque estava em desvantagem por Fernanda estar com a amiga Janaína e ambas serem mais fortes do que ela. Ele afirmou que o fato de Aldirene estar, ou não, com a faca desde o momento que as amigas chegaram na quitinete é o que menos importa.

A defesa pretende trabalhar ainda a retirada da motivação como “fútil”, visto que houve uma discussão e uma possível agressão.  Aldirene, quando presa, estava com uma lesão no rosto, que seria, segundo a defesa, causada por um soco – e, por isso, ela teria sido motivada a matar Fernanda.

O advogado disse, ainda, que irá pedir que seja investigado até que ponto Janaína foi realmente apenas testemunha, se ela pode ter participado da ação, fazendo algo contra a suspeita, já que a defesa trabalhará que ela agiu em legítima defesa.

O futuro sem Fernanda

Na sexta-feira (1º), quando a reportagem do LIVRE foi até a quitinete onde o crime aconteceu, o local passava por uma “reforma”, possivelmente para apagar as marcas de sangue que ficaram após o assassinato. O apartamento 05, de Aldirene, já havia sido esvaziado pela família dela, que não pôde ainda ter contato com a jovem desde o acontecido.

(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Janaina tem vivido pesadelos acordada. Além de não ter a “irmã” que a vida lhe deu – como a mesma descreve Fernanda –, ainda precisa viver com a acusação na cidade, de que ela é quem teria tirado a vida da amiga, embora não haja nenhuma suspeita contra ela na polícia. Além disso, como presenciou a amiga morrendo em seus braços, ela afirma que a cena fica, a todo momento, voltando em seus pensamentos.

“A imagem fica muito na minha cabeça. Eu estou indo na igreja, minha mãe é evangélica, então ela está me ajudando muito em oração. Por que, querendo ou não, a gente acaba ficando perturbada. Ainda mais que ela morreu nos meus braços, eu tentando salvá-la. Então eu fiquei muito desesperada”, contou Janaína.

Janaína relatou que ela e Fernanda eram como irmãs (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

A mãe de Fernanda, ainda visivelmente abalada, disse que está passando por um turbilhão de emoções, mas que mesmo com a dor, não consegue sentir raiva de Aldirene.

“Em relação a quem está envolvido ou não, quem matou, eu não desejo mal, eu não consigo ter mágoa, raiva, eu não consigo sentir nada por ela. É uma pessoa que eu não conhecia, não conheço ela, não conheço a família dela, não sei quem é ela. Eu sei quem é a minha filha. Eu sei quem a Fernanda é, o que ela é pra mim, o que ela foi para as pessoas que estavam em volta dela”, disse a mãe.

O filho de Fernanda, de apenas quatro anos, ainda não entende bem o que aconteceu. O pai – descrito pela avó materna como um excelente pai –, ficou de dar a notícia, mas ela acredita que o menino só vai entender conforme for percebendo que não tem mais a mãe por perto.

“Eu ainda estou anestesiada. Para mim ela está ali, ela vai chegar. Eu vi, eu vivenciei, eu estava lá, eu vi enterrando, eu vi jogando a terra em cima, mas não posso falar que eu acredito que a Fernanda está morta. É uma dor muito grande que não dá para contar para ninguém, porque fui eu que senti. Não é a sequência, o filho deve enterrar os pais, não o pai e a mãe enterrar os filhos. Ainda mais ela, tão nova, tanta coisa para ser vivida e a vida dela simplesmente interrompida. Mas vou viver um dia após o outro, eu ainda tenho mais dois filhos e eles precisam de mim. Só que esse vazio não vai ser preenchido, porque não tem como, não existe uma maneira”, disse Luciene, em meio a lágrimas.

A mãe e os irmãos de Fernanda (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

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