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Instituto da Carne de Mato Grosso: a crônica de uma morte anunciada

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Instituto da Carne de Mato Grosso: a crônica de uma morte anunciada

Ednilson Aguiar/Olivre

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Carne de Mato Grosso na vitrine: ninguém quer pagar a conta da melhoria

Ele nasceu para ser elo que faltava na cadeia que faria a carne produzida em Mato Grosso ser uma das mais desejáveis do mundo. Mas, por omissão dos maiores interessados nesse sucesso – produtores e governo -, corre o risco de morrer por inanição.

O Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) foi concebido para atestar a qualidade e a procedência da carne mato-grossense – aumentando com isso a chance de acessar novos mercados. Mas, a poucos meses de completar dois anos de seu lançamento, ele continua sendo um projeto apenas “no papel”. 

Se de um lado os produtores querem aumentar suas vendas – e o governo, a arrecadação -, nenhum dos dois querem arcar com os custos de melhorar a “vitrine” em que a carne de Mato Grosso deve ser mostrada.

Hoje o Imac tem pouco mais de R$ 1,2 milhão em caixa, oriundos de um contrato de gestão firmando com o Governo do Estado, mas seus funcionários estão com os salários atrasados há mais de dois meses. Contas de energia elétrica e do condomínio do edifício American Bussines Center, onde fica a sede do Imac, também não foram pagas. E prestadores de serviços também não terão como receber no próximo mês.

O montante não pode ser utilizado devido à falta de planejamento para 2018. Conforme apurou o LIVRE, esse planejamento deveria ter sido feito e aprovado pelo Conselho Deliberativo do Imac, composto pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), mas desde que o último presidente do Imac deixou o posto, há cerca de oito meses, apenas uma nova reunião foi convocada – e cancelada na véspera.

Segundo o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Carlos Avalone, a situação deve ser normalizada ainda neste mês. “Hoje mesmo enviei uma comunicação para os membros do Conselho e até o dia 16 deste mês vamos nos reunir”, justificou.

Somente após as definições deste encontro é que a Sedec poderá – ou não – autorizar a utilização do montante disponível em caixa para que ele seja empregado em outras áreas, como por exemplo, a folha de pagamento. “Nós temos recurso em caixa, mas temos uma lei que diz que não podemos utilizá-lo para o pagamento de salário”, explicou.

Há ainda restos a pagar por parte do governo estadual no valor de R$ 1,160 milhão, devidos do contrato de gestão – até então a única fonte de renda do Imac.

Em meio ao impasse criado entre quem deve gerir e assegurar os recursos para o funcionamento da entidade, o governo estadual emitiu o Decreto 1.260, em novembro de 2017, no qual destinou 30% do valor arrecado pelo Fundo Emergencial de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso (Fesa) para a manutenção das atividades do Instituto.

Entretanto, esse valor também não foi repassado ao Imac. Só entre os meses de novembro e dezembro, o Fesa deveria ter repassado R$ 3,2 milhões. “O que existe hoje é um impasse em relação à destinação desse valor por parte do Fesa”, alegou Avalone.

Outros problemas
Além da falta de planejamento para o ano vigente, outro problema estaria atrasando o funcionamento do Instituto: a não entrega do sistema “SEIIC” e a sua instalação nas unidades frigoríficas. A tarefa ficou a cargo da Acrimat, que adquiriu o sistema, bem como o desenvolvimento do planejamento estratégico.

O diretor-executivo da Acrimat, Luciano Vacari, afirmou que a Associação investiu R$ 490 mil para o desenvolvimento do sistema e que a doação foi aprovada durante assembleia, mas que a formalização também depende da próxima reunião do Conselho Deliberativo do Instituto. “Nós estamos aguardando a reunião. A Acrimat investiu nisso e será um ganho para o produtor”, destacou.

Enquanto isso, a morte do Instituto é dada como certa, já que, sem recursos nem para água ou papel higiênico, não abrirá as portas nesta segunda-feira (05). 

A reportagem tentou entrar em contato com os diretores do Imac e com presidente do Fesa, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestações.

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