De suas certezas, a maior era de que queria estar sempre em movimento. Mudar de casa. De amigos. De roupas. De país.
Se pudesse mudar de rosto, ser alguém totalmente diferente na frente do espelho, certamente o faria.
O que era essa inquietação? O que a afligia tanto que evitava parar. Seria o parar para pensar?
Pensar e sentir a fragilidade da vida? Hoje estamos aqui, amanhã não estamos. Hoje temos certezas, amanhã é uma dúvida.
Tudo tão frágil. Tão fugaz. Tão sensível.
Como a vida, que tanto pesava em suas costas, poderia ser ao mesmo tempo leve como uma pluma?
Um pequeno sopro e tudo move. Cai. Sai dos eixos. Escapa das mãos.
Ainda assim, estava se acostumando a apenas estar. Ficar parada. Sentir a dor e o prazer. O êxtase e o terror. O tumulto e o silêncio.
Mudar de um lugar para o outro não seria a solução. Mudar de rosto, menos ainda.
As inquietações continuariam. O vazio permaneceria. A angústia iria junto.
Mudar não era a saída. Mudar por fora, ao menos.
O jeito era se transformar por dentro. Enfrentar o que a afligiria. Encarar os demônios internos. Ainda que houvesse temor, estava acostumada com surpresas. Habituara-se ao inesperado.
Poderia se surpreender, mas já sabia: do chão não passaria.
E de tudo o que acreditava, aprendera algo: certezas são para os que não pensam. Aos seres pensantes restam as dúvidas. E assim a vida segue em frente.

 

Enviado do meu iPhone

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes