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Inovação tecnológica marca Dia de Campo do Algodão em Campo Verde

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Inovação tecnológica marca Dia de Campo do Algodão em Campo Verde
(Divulgação)

Cerca de 250 pessoas participaram do Dia de Campo IMAmt, em Campo Verde (a 120 km de Cuiabá), em busca de atualizarem seus conhecimentos sobre novas tecnologias e  opções de manejo para a cotonicultura e outras culturas que integram o sistema produtivo adotado no cerrado mato-grossense. No encerramento do evento realizado no Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica do Núcleo Regional Centro, o presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Alexandre Schenkel, e o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio, ambos agricultores na região de Campo Verde, enfatizaram a importância da união de todos para controlar a pressão do bicudo do algodoeiro em Mato Grosso.

O bicudo também foi destacado pelo presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), para quem o sucesso do combate à maior praga da cotonicultura nacional depende da união de todos os estados produtores. “Por que é tão difícil controlar uma praga que se alimenta só de algodão?”, questionou o pesquisador Guilherme Rolim, entomologista do IMAmt, apresentando os motivos que tornam esse minúsculo besouro tão ameaçador. O consultor Walter Jorge dos Santos, veterano pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), disse que houve avanços no combate à praga, principalmente graças ao trabalho realizado em conjunto por produtores de Mato Grosso nos Grupos Técnicos do Algodão (GTAs).

“O pessoal está conversando mais sobre a situação em cada fazenda e também houve avanços nas técnicas de aplicação dos inseticidas, embora não tenha havido muitos avanços em termos dos produtos utilizados. Mas, com o bicudo, nunca se pode baixar a guarda”, alertou Santos, com a experiência de quem viu a praga dizimar algodoais de estados da Região Nordeste, do Paraná e de São Paulo, na década de 1980. Ele destacou a importância do monitoramento constante no controle do bicudo e de outras pragas cuja intensidade vem crescendo, como a lagarta Spodoptera frugiperda, que foi o destaque da apresentação do entomologista Jacob Netto. Segundo Netto, essa espécie está se adaptando muito bem às tecnologias transgênicas disponíveis no atual sistema produtivo (com plantio de algodão e/ou milho após a colheita de soja), o que está selecionando indivíduos cada vez mais resistentes. Nessa mesma linha, o entomologista do IMAmt alertou para uma maior pressão da temidaHelicoverpa armigera nas próximas safras.

Por outro lado, o público que percorreu as cinco estações do Dia de Campo ouviu notícias promissoras sobre novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas por pesquisadores do IMAmt e entidades parceiras para controle de bicudos e lagartas, entre outras pragas, de doenças, como mancha de ramulária e nematoides.

Na Estação 1, o pesquisador Jean Belot falou sobre o trabalho da equipe de Melhoramento do IMAmt, cabendo ao fisiologista Gustavo Pazzetti da Universidade de Rio Verde (GO) e ao coordenador de Pesquisas e Difusão de Tecnologias do IMAmt, Marcio de Souza, enfatizar a importância de se criar um ambiente produtivo para que as novas variedades possam expressar todo o seu potencial. “Temos que buscar opções de manejo para dar estabilidade funcional às plantas do algodoeiro”, alertou Pazzetti, chamando atenção para aspectos como a importância de se preservar a matéria orgânica do solo, de utilizar reguladores de crescimento e “não abusar do excesso de plantas em linha”.

O agrônomo Ueverton Rizzi da Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro) apresentou as novidades do portfolio do IMAmt para a safra 2018/19, com destaque para a cultivar IMA 5801B2RF, com resistência ao nematoide Meloidogyne incognita (nematoide das galhas) e à mancha de ramulária. Com a biotecnologia Bollgard2RF da Monsanto, IMA 5801B2RF é uma cultivar de ciclo curto, que atende às necessidades de maior parte dos produtores mato-grossenses que fazem a semeadura logo após a colheita da safra (sistema double crop). “Além disso, sua fibra de boa qualidade atende às especificações dos mercados nacional e internacional”, informou Belot.

Controle biológico 

Outras novidades foram apresentadas na estação onde se reuniram os fitopatologistas Rafael Galbieri e Tamiris Rêgo (do IMAmt), o pesquisador Paulo Roberto Queiroz, que desenvolve trabalho em parceria com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (de Brasília), e os técnicos Savio Lopes e Zeani Veloso.

A Comdeagro vem investindo fortemente na instalação de biofábricas para a produção de bactérias (em Primavera do Leste), fungos (em Campo Verde) e, futuramente, vírus (em Rondonópolis), visando o controle de pragas e doenças. Concomitantemente, o IMAmt – com apoio de parceiros – trabalha na prospecção, identificação e desenvolvimento desses micro-organismos benéficos.

Galbieri ressaltou a importância de integrar todos os métodos – cultural, biológico químico e genético (escolha de variedades) – para controle dos nematoides e de patógenos que comprometem a rentabilidade dos produtores e o futuro da cotonicultura no cerrado. Paulo Queiroz disse que foram identificados e isolados cinco genes de Bt (Bacillus thuringiensis) que, por demonstrarem eficácia no controle do bicudo, foram considerados com potencial no desenvolvimento de materiais transgênicos.

“Nossa meta é reduzir em 30% a carga de produtos químicos utilizados em nossas lavouras em cinco anos”, afirmou Alvaro Salles, diretor executivo do IMAmt.

Em outra Estação, o pesquisador Edson Andrade Junior do IMAmt e Sebastião Carneiro, professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, alertaram para o manejo de plantas daninhas resistentes e a importância de se fazer a destruição de soqueira eficiente para reduzir a pressão de pragas e doenças na próxima safra. Foram destacadas as principais plantas daninhas que atualmente infestam as lavouras de algodão e de soja em Mato Grosso: Capim-Pé-de-Galinha (Eleusine indica), Buva (Conyza sp.) e Capim Amargoso (Digitaria insulares).

Outros parceiros 

Neste Dia de Campo, representantes de duas empresas parceiras – Netafim e Farmers Edge – apresentaram novas tecnologias que podem auxiliar os produtores a minimizar custos e otimizar os recursos investidos em suas lavouras. Em atuação em Mato Grosso há três anos, a Farmers Edge é uma empresa de origem canadense que oferece serviços na área de agricultura de precisão.  A Netafim, fundada por pequenos produtores israelenses, tem três áreas de experimentos no Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica do IMAmt, visando mostrar por meio da fertirrigação que é possível produzir mais com menos água e outros insumos.

Nessa mesma estação, o pesquisador Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação (unidade da Empresas Brasileira de Pesquisa Agropecuária de São Carlos – SP), apresentou ao lado de Fábio Angelis, sócio da startup Agrorobótica, a tecnologia AGLIBS 1.0, equipamento desenvolvido por cientistas brasileiros com tecnologia de última geração, que se propõe a fazer a análise de solos de forma rápida, limpa e economicamente acessível ao produtor rural. O AGLIBS 1.0 utiliza a espectroscopia de emissão óptica com plasma induzido por laser (LIBS) – a mesma tecnologia embarcada no Rover Curiosity, robô da Nasa, a agência espacial norte-americana, para descobrir a presença de água em Marte.

Outra inovação tecnológica exibida pela em Campo Verde foi o sistema desenvolvido pelo pesquisador Marcos Vilela (com apoio do IMAmt e da Ampa), que faz o monitoramento do fenômeno da inversão térmica, evitando um dos problemas que podem comprometer a eficácia da aplicação de defensivos agrícolas e provocar derivas incontroláveis de herbicidas e outros produtos a quilômetros de distância, com grandes prejuízos. “O sistema informa ao tratorista ou ao piloto do avião se pode iniciar a aplicação e mostra quando ocorre a inversão térmica, indicando-lhe se deve interromper a aplicação”, explica o pesquisador, que é diretor do Centro Brasileiro de Bioaeronáutica, em Sorocaba (SP) e apresentou a novidade ao público num trator cedido pelo presidente Alexandre Schenkel.

Organizado e coordenado pela pesquisadora do IMAmt, Patrícia Andrade Vilela, o Dia de Campo IMAmt 2018 contou com as presenças dos pesquisadores Paulo Degrande e Edvaldo Cia; de Gustavo Prado, diretor técnico do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA); do diretor técnico do Instituto Goiano do Algodão, Elio de la Torre, e de diversos produtores, entre eles, Paulo Shimohira e Dulcimar Pessatto Filho (de Goiás), Paulo Sérgio Aguiar, Alessandro Polato, os irmãos Canísio e Romeu Froelich (da região de Primavera do Leste), Gustavo Pinheiro Berto, presidente do Núcleo Regional Centro (região de Campo Verde) e Tomaz Juchans Loveru, produtor de algodão na Bolívia, que veio especialmente de Santa Cruz de la Sierra com dois filhos e um neto para participar do evento.

 

Com Assessoria 

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