Crônicas Policiais

Iniciada no Candomblé, mulher é demitida por ser “negra e macumbeira”

Na empresa em que ela trabalhava, o episódio de racismo e intolerância religiosa foi motivado por uma cabeça raspada

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Iniciada no Candomblé, mulher é demitida por ser “negra e macumbeira”
(Foto: Reprodução)

Prestadora de serviços gerais, Regina Santana da Silva Fernandes, 41, registrou um boletim de ocorrência relatando uma situação de intolerância religiosa, racismo e constrangimento ilegal sofrida em seu ambiente de trabalho.

O caso ocorreu na última quinta-feira (17). Regina foi convocada a comparecer no escritório da empresa por ter raspado o cabelo, um ritual de iniciação no Candomblé.

De acordo com as tradições da religião de Matriz Africana, a raspagem do cabelo simboliza a consagração aos Orixás. O ato também é comum em religiões como o Budismo e em algumas ordens religiosas cristãs.

Na empresa em que trabalhava, Regina já havia notado olhares curiosos. Uma supervisora chegou a perguntar se ela tinha sido diagnosticada com câncer. Dias depois desse fato, houve a convocação para comparecer ao escritório.

Intolerância e racismo

Na sede da empresa, na presença de sua gerente, Regina foi obrigada a retirar a touca que vinha usando para esconder a cabeça raspada. No boletim de ocorrência, ela relata que recebeu olhares de reprovação e ouviu que “esse tipo de religião” não cabia dentro da empresa, pois além de ser “negra era macumbeira”.

A gerente ainda afirmou que Regina tinha que “procurar Deus para se salvar” e que pessoa da cor dela “e macumbeira não pode participar do quadro de funcionários da empresa”.

Regina ainda sofreu intimidação. A gerente disse que não adiantaria procurar pela Justiça,  já que a empresa possui vários processos e nunca perdeu nenhum.

Por fim, a prestadora de serviços gerais foi obrigada a assinar um aviso prévio que já estava com data de 11 de setembro, ou seja, seis dias antes de ela ser comunicada que seria demitida.

Estado emocional

Regina hoje está com quadro emocional abalado e passará por avaliação psiquiátrica, para tratar depressão.

Ela foi iniciada no Ilê Axé Egbé Osogbo Omo Orisá Osun, que significa Sociedade Espiritual dos filhos da Orixá Oxum, uma casa de Candomblé inaugurada há um ano em Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá).

A Iyalorixá Edna de Oxum, que é zeladora espiritual de Regina e presidente do Ilê Axé, se diz indignada com a situação e não permitirá que o caso seja esquecido.

“Estamos vivendo tempos difíceis de ataques às aos praticantes das religiões de Matriz Africana e de desrespeito ao nosso sagrado. Nós não vamos deixar essa situação impune. Já temos uma advogada cuidando do caso e queremos a reparação na Justiça de todas as ofensas e crimes praticados contra minha filha de santo”.

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