Colunas & Blogs

Indecisão: a marca da campanha

5 minutos de leitura
Indecisão: a marca da campanha
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Os dias estão passando e, diferente de outras eleições, quando o quadro, a essa altura do campeonato, já era sobejamente conhecido, com mudanças que só o imponderável poderia causar, todos já sabiam quais seriam os principais cabeças de chapa para a eleição a Governo do Estado.

2018 não está sendo assim. Temos confirmada a candidatura à reeleição de Pedro Taques que nesta semana num rasgo de sinceridade admitiu não ser Deus, para resolver os problemas da saúde que se acumulam, segundo ele, há mais de 20 anos, embora não fosse esse o seu discurso durante a campanha que o levou ao Paiaguás. Em momento algum, entretanto, dispôs-se a reconhecer que comanda um governo pífio, frustrando todas as expectativas daquela grande maioria que um dia o imaginou como o governante que colocaria Mato Grosso nos trilhos do desenvolvimento e o grande combatente da alarmante corrupção que por aqui campeia.

Os dissidentes, que compõem um grupo grande de ex-amigos, ex- correligionários, servidores públicos, movimentos sociais e gente que foi muito próxima, pularam fora do barco em movimento quando enxergaram o possível choque contra os rochedos. Juntaram alguma siglas partidárias e tentaram inflar uma candidatura natimorta: a de Mauro Mendes que foi para a Argentina deixando todos com a expectativa de que voltaria candidatíssimo. Ledo engano!

Pela segunda vez – a primeira foi na disputa da prefeitura da capital, quando desistiu nos últimos minutos da prorrogação, deixando os companheiros a ver navios. No retorno, disse que ainda tinha prazo pra decidir e que não tinha assumido nenhum compromisso com qualquer partido. Ou seja, o velho Mauro estava de volta.

Pivetta, outro destemperado, não esperou que 2014 se repetisse. Assumiu o comando da nau sem rumo em busca de uma utopia: a formação de uma frente do tipo “Todos contra Pedro”. Assumiu a candidatura do grupo, sonha em ter Mauro como vice, sem combinar com o DEM, e prepara um Plano de Governo, como todos os demais candidatos, sem ouvir o povo. Delira  imaginando todos os demais partidos dentro do mesmo caldeirão fervente para levar a eleição em primeiro turno. Seria como tentar misturar alhos com bugalhos. Sem chance!

O DEM de Jayme, Júlio, Botelho, Fábio Garcia, Mauro Mendes e outros está dividido. Jayme, com o pé em duas canoas, ora será vice de Pedro, ora sinaliza uma candidatura ao senado, em aliança com Wellington. Essa aparente solidariedade ao governador é tentativa para não perder os recursos prometidos – e quase nunca entregues – para VG, cuja prefeita, Lucimar, deu um novo ânimo à cidade com uma administração bem avaliada até pelos adversários.

Carlos Fávaro, o vice que renunciou, Preside um PSD rachado. Seus deputados, como em um cabo-de- guerra com a direção partidária, juram fidelidade ao governador. Fávaro manifesta vontade de estar no palanque, como candidato ao senado, Junto a Wellington que ainda não demonstrou cabalmente a decisão de ir à guerra.

Rossato, ex-prefeito de Sorriso, acredita que Bolsonaro será o seu grande puxador de votos, mas não consegue formar uma aliança. Parece estar pronto pra “jogar a toalha”. Diariamente, circulam boatos de que sua candidatura já não vive a mesma empolgação inicial. Tem a mostrar, por enquanto, apenas a ex-juíza Selma Arruda, como candidata ao senado, embora ninguém dela conheça seu potencial eleitoral. A basear-se na dubiedade das declarações dadas à imprensa, o sonho que ela acalenta seria estar navegando em outras águas. A longa entrevista dada a um semanário na semana passada deixou mais dúvidas do que certezas sobre seu posicionamento político.

Por fim, o senador Wellington Fagundes, que por sua história política, deveria, sim, ser a cara da oposição no estado. Mas não é. Há muito tempo vem sendo achincalhado frequente e publicamente pelo governador, ao ponto de, no ato da posse, ter-lhe dito com todas as letras que jamais precisaria dele no Senado da República. Com cinco mandatos de deputado federal e no seu primeiro mandato de senador, Wellington é, sem qualquer dúvida, junto com Carlos Bezerra, um dos parlamentares mais experientes de Mato Grosso.

Wellington não tem qualquer experiência no executivo. A tentativa de eleger-se prefeito de sua cidade, Rondonópolis, revelou-se um grande erro. O povo rondopolitano deixou claro, à época, que o preferia em Brasília, como parlamentar, a tê-lo como comandante municipal.

Fagundes transita como poucos em Brasília. Com grande capacidade de articulação, foi um dos parlamentares que mais trouxeram recursos para Mato Grosso. É conhecida sua influência no Ministério dos Transportes, área em que atua com maestria, tanto lá quanto cá. Chegou a ser convidado por Temer para ocupar aquele ministério. Foi eleito líder do Bloco Moderador do Senado, com uma bancada de 11 senadores com influência nas decisões da Casa, algo que não é pouco para um senador estreante.

Sua candidatura deveria personalizar a cara da oposição a Pedro Taques. Ser um fato previsível e imaginável. Não é. Wellington é como o velho PSDB, prefere o muro. E, como ele mesmo sempre afirmou, não é um político de embates. Foge do enfrentamento como o diabo da cruz. Conciliação, não importa a que preço, é o lema da sua atuação política. Não importa se o adversário queira ou não descontrui-lo.

É um homem de poucos amigos. Trabalha uma aliança de forma cirúrgica e com competência. À exceção de alguns poucos, não costuma deixar rastros de amizade. Não é um político de grupo. Trabalha sozinho. Fora do processo eleitoral, são raros os que podem contar com manifestações de carinho e apreço de sua parte. Enfim, é um político que trabalha e muito pelo seu Estado, mas lembranças e retorno de telefonemas a correligionários só ocorrem em época de eleição, embora seja uma figura afável, mas blindada por uma carapaça inexpugnável.

A campanha de 2018 será sanguinolenta. Poderá chegar a níveis aqui nunca vividos. Baús enterrados em porões escuros, com dossiês, apócrifos ou não, estão prontos para ser desenterrados e abertos. O cheiro da podridão não será nem um pouco agradável e a pergunta que se faz, em quase todas as rodas, é uma só: E daí, Wellington? Vai encarar?

*Ricarte de Freitas
Advogado, analista político e ex-parlamentar

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes