Expoente da vanguarda cultural mato-grossense, Wlademir Dias-Pino faleceu aos 91 anos, nesta quinta-feira (30), no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde o dia 21, em decorrência de uma pneumonia. De acordo com familiares, a cerimônia de despedida será realizada no sábado, às 16 horas, na Capela 2 do Memorial do Carmo, no Caju.
Poeta visual – como fazia questão de ser chamado – Wlademir criou o intensivismo, integrou o concretismo e foi um dos fundadores do poema//processo [palavras associadas com sinais gráficos seguindo as regras dele].
O multiartista Amauri Lobo, ressaltou os grandes feitos de Dias-Pino. “Ele teve uma vida gloriosa desde o concretismo com os irmãos Campos e toda movimentação dos anos 50 e 60 no eixo Rio-São Paulo. Logo veio a passagem pela UFMT. Nos anos 90, junto comigo e Cristina Campos, foi coprodutor da revista literativa Dazibao, que contou com ilustrações dele. É um personagem da estética e do poema concreto e da arte gráfica do Brasil. E ele teve essa passagem muito marcante em Cuiabá”.
Nos anos 1990, o poeta também havia ajudado na produção dos famosos jornais poéticos que reuniram a turma do Caximir. “As primeiras edições foram rodadas na gráfica da UFMT, foi quando tivemos o prazer de conhecê-lo e conviver com ele. Foi de uma influência fundamental neste processo. E lembro que tentávamos fazer uma fotonovela que exigia uma tecnologia que ainda não havia, ele foi lá, mexeu e conseguiu. Ele parte e deixa um legado muito grande na poesia e estética. Aprendi muito com ele e sou muito grato”, diz Amauri Lobo.
Outro amigo e parceiro, o também multiartista Eduardo Ferreira, ressalta a cumplicidade de Dias-Pino com Cuiabá. “Assim como outros grandes como Ricardo Guilherme Dicke e Silva-Freire, Dias-Pino povoa nossa história. Assim como os outros dois, Wlademir é fundamental para que a gente conheça nossa identidade cultural. Tempos atrás vínhamos nos falando e ele, sempre de projetos, já pensava em algo”, declara.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Mato Grosso, Wlademir é um dos expoentes da vanguarda cultural mato-grossense. Ele veio para Cuiabá em 1936, onde permaneceu até 1952, ano em que retornou ao Rio. Depois retornou em 1972 e, nos 25 anos seguintes, marcou a produção editorial da UFMT, especialmente com as ilustrações de livros, cartilhas e jornais publicados pela Editora Universitária. A propósito, foi nesse período que Dias-Pino criou o logotipo que define e identifica a UFMT. O título honoris causa foi recebido em 2013.
Wlademir exercia forte atração sobre as novas gerações. A jornalista Marianna Marimon reconhecia o valor e o vulto do grande artista, desde a tenra idade. Cursando pós-graduação na Puc em São Paulo, ela estuda jornalismo literário e Wlademir Dias-Pino e a arte literária do poeta é um dos seus objetos de estudo. Ultimamente, se reuniam com regularidade no Rio de Janeiro.
“Em 1956 integrou o concretismo a convite dos irmãos Campos e de Décio Pignatari e participou da Exposição Nacional de Arte Concreta em São Paulo, naquele ano, com versões em cartaz de Solida. Mas aquilo que o movimento noigandres (Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos) se propunha a fazer com o concretismo já era caminho trilhado por Wlademir há muito tempo em Cuiabá. Além de Wlademir, Ferreira Gullar também é outro nome expressivo do concretismo”, diz ela.
Segundo a jornalista, depois de integrar o concretismo, Wlademir criou o poema-processo, o mais radical movimento de poetas do Brasil. “E em Cuiabá, junto a Silva-Freire, fundou o intensivismo”, aponta.
Em entrevista a Marianna, o poeta pontuou: “É anunciado na imprensa, um ‘rompimento’, mas é um termo mal empregado. “Não houve rompimento com noigandres. Movimento é movimento, não é grupo e trio não é movimento. E depois disso o Ferreira Gullar criou o novo concretismo e eu cheguei até o poema//processo”, afirmou.