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Idoso que ficou cego e sofreu AVC é resgatado com ferimentos e vivendo entre fezes

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Idoso que ficou cego e sofreu AVC é resgatado com ferimentos e vivendo entre fezes
Foto: Imagem ilustrativa/Reprodução/Jornal Desafio

No mês em que se celebra o Dia do Idoso (1º de outubro), um aposentado, cego, de 66 anos, foi resgatado pela Polícia Militar em situação de abandono, em uma quitinete do bairro CPA 3, em Cuiabá. Ele foi encontrado sozinho, caído no chão, entre sangue, fezes e urina.

Faz cerca de duas semanas que os moradores da rua 50, do bairro CPA 3, procuram amparo institucional para Izael Medeiros. Ao LIVRE, uma das vizinhas, que pediu para não ser identificada, disse que o caso do aposentado foi levado ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e ao Instituto dos Cegos. No entanto, os moradores da rua não mais conseguiram esperar por ajuda. Por isso, chamaram a polícia.

No dia em que foi socorrido, segundo o boletim de ocorrência, o idoso estava caído no chão, em meio a muita sujeira, formada por lixo domiciliar, fezes e urinas. A polícia também registrou que ele tinha diversas lesões pelo corpo e, por isso, foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Morada do Ouro.

Ainda conforme a polícia, o médico do Samu informou que o idoso, além de estar com a saúde debilitada, tinha glicose muito alterada. A situação seria repassada ao setor de Assistência Social, para que ele pudesse dar entrada em um abrigo de idosos.

[featured_paragraph]“Só quem presenciou é que viu que a situação que esse senhor estava, com ferida muito exposta, todo machucado e cortado”, disse uma moradora, ainda abalada. Conforme a vizinha, a situação do idoso se agrava pelo fato de que ele já teria sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ser diabético e ter perdido a visão há cerca de apenas três meses. [/featured_paragraph]

Segundo ela, Izael tem uma companheira, de apenas 29 anos, que também seria deficiente visual e tem a mobilidade reduzida. Ainda assim, a mulher não estaria passando muito tempo na casa, deixando o idoso em estado de abandono.

Dessa forma, além de ainda não estar acostumado com a falta de visão, ele também não consegue cicatrizar as feridas, já que não controla a diabetes por não ter uma alimentação adequada. A vizinha ainda relatou que o idoso também pode estar sofrendo transtornos mentais e que, eventualmente, falava coisas sem sentido.

Conforme nos revelou, foi pelo cheiro exalado pelo idoso que a vizinhança começou a reparar em sua situação.“Ela [a companheira] passeava com ele na rua e a gente ia ajudar a atravessar. Então a gente começa a reparar, e um fala pro outro”, disse.

[featured_paragraph]“Como eles moram em quitinete, o pessoal começou a falar do fedor. Quando a gente foi lá, viu quão degradante era a situação, porque víamos eles às vezes, mas não pensávamos que estava assim”, completou. [/featured_paragraph]

Para a vizinha, em conversas anteriores, o idoso teria dito que tem cinco filhos. Em outros momentos, disse ter 10. A incerteza também é quanto ao passado de Izael. Os moradores da rua acreditam que ele seja um militar aposentado, devido à postura rígida e, por vezes, grossa, adotada por ele. “Nós já tentamos ajudar, mas ele é muito grosso, muito rude”, observou.

A vizinha também relatou que, na segunda-feira, quando alguns moradores se juntaram para ir até a casa do idoso, já às 18 horas, o encontraram com muita sede. “Até aquele horário ele não tinha bebido água. Nós perguntamos se ele queria se sentar e ele disse que só queria água”, contou. Depois do que presenciaram, chamaram a polícia.

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“Nós não buscamos ajuda para difamar ninguém. Nem a companheira, nem os filhos, ninguém. Nós só queremos ajudar”, frisou, ao final da entrevista.

Nesta terça-feira (9), a vizinhança se juntou para limpar a residência do idoso. Durante o dia, uma assistente social também esteve no local e conversou com os vizinhos. Izael foi transferido para o Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, em razão dos ferimentos.

Denúncia formal

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Cuiabá para saber o posicionamento do Cras do CPA 3 a respeito do idoso. Em nota, a prefeitura confirmou que os assistentes foram procurados e souberam da situação ainda na quarta-feira passada (3), e que pediu que a denúncia fosse formalizada.

O Cras também confirmou que esteve na residência do idoso na terça-feira (9) e no hospital onde ele se encontra internado. Por meio das informações prestadas, os assistentes sociais conseguiram localizar a família de Izael. Segundo a prefeitura, ele é militar aposentado e tem boas condições financeiras.

O setor informou, por fim, que uma das filhas manifestou a vontade de cuidar do pai. Por isso, ele não deve ser encaminhado a um abrigo.

Confira a nota na íntegra:

1 – A unidade do Centro de Referência de Assistência Social(Cras) CPA III teve conhecimento da situação na última quarta-feira (3) pelo Instituto dos Cegos do Estado de Mato Grosso (ICEMA). Mediante a informação, a assistente social da unidade foi ao Instituto, analisou o caso e orientou que a equipe do ICEMA oficializasse a denúncia ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de abrangência da região Norte – onde o idoso reside.
2 – Seguindo, a equipe do Instituto oficializou o caso na quinta-feira (4) no Creas. Em mãos do documento, a assistente social do Creas levantou os dados do idoso, contato de familiares, investigou alguns relatos e fez a primeira visita na residência do senhor Izael.
3 – Na residência, a equipe encontrou duas vizinhas higienizando a casa – uma quitinete de três cômodos. As vizinhas relataram que o idoso, portador de deficiência visual, reside com a esposa, que também possui deficiência visual, e não se encontrava na casa no momento, pois foi levado para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Morada do Ouro por estar com muita diarreia.
4 – A equipe foi até a unidade, onde constatou a internação do idoso. Ele deu entrada na UPA nesta terça-feira (9), com quadro de diarreia e diabetes e está sendo assistido pelos médicos, passa por exames, mas ainda, segundo a coordenação da unidade, não receberá alta por estes dias. O mesmo está acompanhado pela filha, que foi acionada pela equipe do Município.
5 – Após esses procedimentos, a equipe de assistência do Município detectou que idoso é militar aposentado, possui família – esposa e filhos -, e boa condição financeira. Assim, o primeiro diagnóstico que se faz é de falta de cuidados corretos da família para com ele.
6 – Diante de sua internação, a equipe continuará acompanhando o caso e após sua alta, agendará uma visita em sua residência, para proceder com os devidos auxílio: reunir a família, conversar sobre a situação dele, orientar sobre os cuidados que ele necessita e como eles precisam assisti-lo em suas dificuldades. Também será feita a inserção dele e da família no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV).
7 – A equipe de assistência adianta que a filha já se prontificou a cuidar do pai e que a esposa, por ser deficiente visual também, apresenta dificuldades em proceder com o acolhimento que ele precisa no momento.
8 – Ao município cabe acompanhar, orientar, fornecer meios para que o indivíduo tenha acesso à cidadania – educação, saúde, assistência, entre outros recursos. Isso já está sendo realizado. O acolhimento em um dos abrigos só acontece se a família apresentar objeção em cuidar, ou praticar maus-tratos ao indivíduo. Nesta situação, o caso é encaminhado à Promotoria, que procede com a parte judicial e o pedido de retirada da pessoa. Mas reitera que não foi o que a equipe detectou até o momento.
Cuiabá, 10 de outubro de 2018.
Prefeitura de Cuiabá

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