Líder nos casos de hanseníase há 30 anos, Mato Grosso pode ser um dos estados mais afetados pelo novo tratamento proposto pelo Ministério da Saúde para a doença, que prevê a redução de um ano de tratamento para seis meses, nas ocorrências mais graves da doença.
A mudança é discutida desde 2015 e é contestada pela Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) que divulgou uma carta, no dia 17 de abril, criticando as alterações. O novo tratamento, chamado Multi Droga Terapia Única (MDT-U), prevê que os médicos do SUS deixem de dividir a doença entre os casos mais graves (multibacilar) e menos graves (paucibacilar).
“Nós vamos fazer os hansenianos sofrerem como sempre sofreram desde a época bíblica”, critica o médico José Cabral, com 40 anos de experiência no tratamento. “Infelizmente o Ministério da Saúde impôs isso de cima para baixo, mas quem trata de hanseníase sabe que isso não vai dar certo, já é decisão minha não indicar o tratamento que o Ministério manda”, alerta Cabral.
Segundo ele, o tempo de seis meses para todos os casos não é o suficiente para que a medicação usada atinja o bacilo, uma vez que a bactéria está dentro da célula. “É uma bactéria terrível que intromete na defesa do organismo”, diz ele.
Para o médico Werley Perez, que já ocupou o cargo de secretário de Saúde em Cuiabá, não há como garantir a eficiência do tratamento tendo como base poucos estudos para a implementação do MDT-U. “Nenhum lugar do mundo trata hanseníase como o Brasil quer tratar, porque não faz sentido reduzir o tempo do tratamento usando a mesma medicação”, afirma.
“Isso é um crime, eu não vou participar dessa patifaria comandada pelo governo, pelo Ministério da Saúde, que deveria mudar de nome, deveria se chamar Ministério da Doença, porque a hanseníase vai voltar, nós vamos ver pacientes sequelados fazendo reações e nós dando remédio para reação e não vai curar e depois vamos ter que tratar novamente”, retoma Cabral.
As críticas dos médicos de Cuiabá vão ao encontro das pontuações feitas pela SBH, que vê como frágil a base científica para a aplicação do novo tratamento. Nos dois estudos que dão base à mudança, segundo a SBH, 35% dos pacientes selecionados apresentaram um resultado positivo.
Outro lado
A reportagem do LIVRE entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde para que a Pasta pudesse rebater as críticas dos especialistas, mas até o fechamento desta matéria não recebemos nenhuma resposta.