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Grupo que invadiu garimpo prestou serviços ao PCC

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Grupo que invadiu garimpo prestou serviços ao PCC

Rodrigo Vargas/O Livre

Garimpo 02

Garimpeiro observa túnel aberto ilegalmente na Serra da Borda, em outubro de 2015

A última invasão do garimpo situado na Serra da Borda, em Pontes e Lacerda, a 442 quilômetros de Cuiabá, e que ocorreu em 30 de dezembro passado, foi coordenada por um grupo armado de Rondônia que ao menos uma vez prestou serviços de escolta de cargas de drogas para o Primeiro Comando da Capital (PCC).

A quadrilha foi contratada por garimpeiros para expulsar os seguranças das empresas H e F Segurança e Rhigor Vigilância, que faziam a guarda da área para as mineradoras Taraucá Indústria e Comércio S/A e Santa Elina Indústria e Comércio Ltda. As empresas têm autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para realizar pesquisas na região desde 1991 e 2000, respectivamente.

Publicada com exclusividade pelo LIVRE, a informação não foi confirmada totalmente pela Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (SESP).

Na última quinta-feira, 19, no entanto, o secretário de Segurança Pública Rogers Jarbas revelou, durante a gravação do programa O Livre que vai ao ar nesta terça-feira, que os garimpeiros de Pontes e Lacerda haviam contratado homens armados para tomar a área do garimpo.

“Os garimpeiros, para ter o domínio total da área, contrataram milicianos, a maior parte deles de outros estados, que desceram lá com armamento de grosso calibre para tomar o ambiente”, disse Jarbas, na entrevista. “A intenção deles era devolver aos garimpeiros o domínio daquela área, porque tinha uma empresa que estava fazendo a pesquisa de minérios naquela região, e tinha os seguranças armados, então como é que os garimpeiros iam tomar o ambiente de novo se não tivesse alguém armado para fazer isso. Eles contrataram”.

Procurado na tarde de segunda-feira, 23, para esclarecer a declaração, o secretário informou que a SESP “apura o envolvimento de integrantes de facções criminosas no que denominamos ‘milícia armada’, que agiu na Serra da Borda no começo do ano”.

“Não posso falar em PCC. Posso falar em braço armado de possíveis integrantes de facções criminosas (milícias). E milícia apenas por conta do modus operandi”, escreveu Jarbas, por WhatsApp.

O secretário de Inteligência, Gustavo Garcia, corroborou as afirmações de Jarbas. “Eram pessoas que estavam armadas que podem estar vinculadas, ou não, a organizações criminosas que atuam na região de fronteira”, disse ele, por telefone. “Hoje, concretamente, não existe essa correlação com o PCC. Agora, se são integrantes de algum grupo organizado, sim. Estamos apurando os fatos”.

Um policial militar de Pontes e Lacerda que preferiu não se identificar disse que “as autoridades” preparam um anúncio oficial sobre o assunto.

Segundo apurou o LIVRE, o grupo que invadiu o garimpo, por ter conhecimento no manuseio de armamentos de grosso calibre, como fuzis e metralhadoras, costuma ser escalado para escoltar carregamentos de cocaína trazidos pelo PCC de países como Bolívia, Peru e Colômbia.

Histórico
As recentes invasões de pessoas em busca de ouro no garimpo da Serra da Borda começaram em setembro de 2015. Na época, mais de 7 mil garimpeiros acampavam no local.

Dois meses depois, as polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal desocuparam a área pela primeira vez.

Em janeiro de 2016, depois de uma nova invasão, houve a segunda reintegração de posse a mando da Justiça Federal de Cáceres, que encampou os pedidos do Ministério Público de Mato Grosso e Ministério Público Federal.

Em julho daquele ano, a PM de Pontes e Lacerda prendeu 20 garimpeiros na área.

Em 30 de dezembro, o grupo armado ocupou o garimpo pela terceira e última vez. Os vigilantes foram rendidos e houve troca de tiros com a PM.

Na semana passada, a Justiça Federal de Cáceres emitiu decisão determinando às polícias do Estado e da União que apresentassem, até o dia 27 de janeiro, projeto de desocupação e isolamento da área onde se instalou o garimpo ilegal.

Nesta terça-feira, 24, a Secretaria de Segurança informou que a área do garimpo ilegal foi totalmente desocupada por 110 policiais civis e militares, incluindo o Corpo de Bombeiros, as Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), o Grupo Armado de Resposta Rápida (Garra) e a Força Tática. Com helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), a ação começou por volta das 5 horas da manhã e prendeu duas pessoas.

A juíza Ana Lya Ferraz da Gama Ferreira, que assina a decisão, também requereu das empresas mineradoras que assumam a segurança da área assim que a retomada da posse for concluída, sob pena de multa de R$ 50 mil por dia de atraso no cumprimento da decisão.

“Obrigar o Estado a fazer a segurança permanente do local, com a pesquisa da lavra sendo realizada por uma empresa particular é privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Perde-se a fonte de receita e transfere-se ao estado o custo de arcar com a segurança, socializando os danos”, escreveu a magistrada.

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