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Grupo de dança no salto alto quebra barreiras em Mato Grosso

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Grupo de dança no salto alto quebra barreiras em Mato Grosso

Salto alto Power Heels

 Quem é que sobe nesse salto?

Na escola de dança, um pequeno pátio serve como área de convivência. Meninas em seus collants e meias brancas, ostentam coques bem alinhados e conversam sobre qualquer coisa enquanto esperam.

Pelas grandes janelas da sala de aula do térreo, é possível ver três homens e uma mulher dançando com intensidade, dando o suor ao som de uma batida contagiante o suficiente para fazer quem está de fora querer dançar junto. Nos pés, sapatos e sandálias de salto fazem barulho no piso gasto de madeira.

Equilíbrio, força, coordenação motora, rebolado, sensualidade, atitude e carisma. Ingredientes essenciais para o Stiletto, gênero de dança que nasceu em Nova York da necessidade que dançarinos profissionais tinham em aprimorar o desempenho nas performances com salto alto em apresentações e videoclipes.

A modalidade é uma mistura de técnicas do jazz e dança de salão combinados com os movimentos de danças urbanas como o hip-hop. Outra grande contribuição veio do vogue, dança moderna criada na década de 80 e que combina movimentos definidos e poses típicas de modelos de passarela – a dança foi popularizada por Madonna nos anos 90, na canção que leva o mesmo nome.

O Stiletto estorou na internet em meados de 2014, quando o trio de dançarinos composto por Yanis Marshall, Arnaud Boursain e Mehdi Mamine se apresentaram no reality show Britain’s Got Talent, em 2014, dançando hits das Spice Girls de gravata borboleta e salto agulha. Eles foram finalistas do programa, porém não levaram o prêmio.

Yanis Marshall, por outro lado, se tornou uma estrela do YouTube. Seu canal na plataforma tem cerca de 1,3 milhões de inscritos e acumula mais de 198 milhões de visualizações dos vídeos, onde mostra coreografias que ensina em workshops e cursos.

Essa junção de ritmos é o carro-chefe do Power Heels, grupo de Stiletto criado em 2015 em Cuiabá pelo bailarino e coreógrafo André Monteiro. A ideia veio de fazer uma performance na escola de dança onde André dá aula.

“Toda academia tem um espetáculo de final de ano. Como eu dou aula na Allegro, eu precisava de dez pessoas [para apresentar]. Eu já tinha meus alunos, daí fui chamando amigos para compor o grupo”, conta.

Terminada a apresentação na escola, um dos integrantes, Diego “Dizão” Gonçalves, conseguiu marcar a primeira performance do grupo em um evento fora da escola, o Miss Mato Grosso 2015.

Karina Stein/O LIVRE

Ensaio Power Heels

Nil, Rafael, André e Suhmara nos ensaios do grupo Power Heels

Depois de vários dançarinos passarem pelo grupo durante esses dois anos, eles conseguiram entrar em sintonia com a formação atual.

André e Dizão se juntaram a Rafael Damasio, Suhmara Untar e Nil Cardoso em uma dinâmica de decisões que envolve muita cumplicidade, profissionalismo e “zoeira”. “É tudo na porrada!”, brinca Suhmara.

É nesse clima divertido e profissional que eles trabalham em grupo, encaixando na agenda os horários dos ensaios. Como a maioria trabalha como freelancer, às vezes os horários não batem. “É na hora que dá”, diz Rafael. Porém, a agenda conturbada dos integrantes não atrapalha no desempenho.

A principal inspiração para compor o figurino das apresentações vem do extinto grupo musical The Pussycat Dolls. As nove garotas tinham um visual sexy e despojado, com peças rasgadas e diferentes umas das outras, porém seguindo um padrão de cores. O companheirismo também vem na hora de se preparar para o palco, com um emprestando peças para o outro, dando consultoria de estilo e de maquiagem.

Karina Stein/ O LIVRE

Bastidores Power Heels

 Dizão, Rafael e André minutos antes de entrarem no palco da 11º Mostra de Dança de MT

O improviso esteve presente no início da carreira, assim como os perrengues.

Cinco pessoas se revezando entre um banheiro e o corredor, salto quebrado, pé torcido, dança na beira da piscina, tombo no show e até óleo quente durante a Parada da Diversidade na capital marcam a história do Power Heels.

Mas, junto com as adversidades e problemas, vinha também a vontade de crescer.

“Nossa, nós assistíamos vários vídeos, clipes que eu nunca tinha visto na vida. A gente acreditava muito que o grupo ia se destacar, fazer sucesso, ter fã”, lembra Dizão.

Os fãs vieram, mas antes eles puderam sentir o impacto que um grupo de homens de salto alto causou no público.

André conta que para as pessoas foi um choque no começo, principalmente por elas estarem acostumadas em ver a dança mais pela internet do que ao vivo.

“Para eles, ver a gente montando em um salto não era uma arte da dança, e sim uma performance de Drag Queens. Não subimos no salto de cara limpa, a gente faz a sobrancelha, passa um batonzinho… Então na cabeça deles não era ‘Stiletto Dance’ e sim os meninos maquiados dançando de salto”, conta André, que também já fez shows como drag queen.

YouTube video

A reação negativa de algumas pessoas foi o combustível para que eles provassem o valor do que fazem. A aceitação em espaços em que a maioria do público é heterossexual foi uma surpresa.

“[O público] não sabia como reagir. Eles veem a gente de salto demonstrando certa força, equilíbrio e sensualidade que eles ficavam em conflito. Muitos homens vinham falar com a gente dizendo ‘nossa, foi muito bom o que vocês fizeram’. A gente achava que ia apanhar”, conta Dizão.

A mistura de personalidades, carreiras e experiências fez a receita do Power Heels dar certo. As diversas apresentações e workshops nos últimos meses são resultado de risos, discussões sérias e foco. Das reuniões feitas na mesa da praça de alimentação do shopping aos bastidores do maior festival de dança do Estado, o amor à dança está sempre presente. Apesar do salto e do sonho serem altos, os pés continuam firmes no chão.


 

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