Os memes anti-Greta feitos no Brasil percorreram o mundo. Os meninos africanos dizendo que eles, sim, não tinham sonhos e olhando com olhos compridos para a refeição da menina sueca no trem, ou a foto dela mesma como sem-teto e o carimbo de “Fake” me pareceram engraçados. Mas aí começaram os textos esculachando com a adolescente. E foram muitos. De papagaio de pirata a vigarista golpista, vale tudo para desancar a sueca e derrubá-la.

Fiquei me perguntando se a direita do “bem” está se tornando apenas um verniz levezinho que esconde uma fachada tão cheia de ressentimentos e mimimis vitimizadores quanto a esquerda. Não é certo fazer pouco de adolescentes ou crianças. Não é certo, por qualquer que seja a razão, bully contra adolescentes e crianças. E porque a menina é de esquerda ou se tornou um símbolo dela não se torna de repente fair game, ou seja, um alvo moralmente autorizado.

Será que é preciso voltarmos ao beabá moral mais básico, por exemplo regra de ouro bíblica, que diz: não faça aos outros ou aos filhos dos outros o que você não gostaria que fizessem com você ou com o seu filho? O fim não justifica os meios. Não é esta a crítica que fazemos constantemente à esquerda? Que para atingir seus princípios sujos usam todos os meios possíveis, mesmo os mais imorais?

Existem outras maneiras de destituir a pseudo-autoridade de Greta que não sejam ataques pessoais a ela. Em seu breve discurso na ONU, apenas nas três sentenças iniciais pude perceber quatro falácias fáceis de serem desmascaradas.

1. A falácia do cataclisma final iminente.

Muitos são os cientistas que discordam desse discurso catastrofista. Mesmo dentre os defensores da ideia da mudança climática, são poucos os que seguem a linha alarmista exagerada de Greta. Este ambientalismo apocalíptico, na verdade, é uma nova religião secular, que chega com tanto dogmatismo e força autoritária quanto o Cristianismo medieval.

Adeptos dela, como Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, impõem à força medidas e restrições agressivas às energias ditas poluentes, medidas estas inócuas para o clima, mas de grande custo pessoal para a população. No Reino Unido, que também mantém o custo das fontes poluentes muito alto, é comum mortes pelo frio.

Essa religião ambientalista acaba sendo luxo de rico e mais um flagelo para os pobres. Greta diz que pessoas estão sofrendo e morrendo. Com as restrições que os ricos querem impor sobre as emissões de carbono, os pobres, sim, vão continuar sofrendo e morrendo, ainda mais do que hoje, impedidos de usar os recursos baratos e eficientes que enriqueceram os países do hemisfério Norte.

2. A falácia de governos como sendo a principal agência de mudanças.

“Como você se atreve?”, grita a garota, expondo a outra baboseira implícita nesta fala: a noção subentendida de que os chefes de Estado mundiais são os grandes vilões do clima e a população de seus países meras vítimas de sua negligência. Visão bem típica dos milênios, infelizmente. Somos todos meras vítimas, só quem tem agência é o governo… Muito errado: qualquer um pode plantar uma árvore, reciclar um plástico, ajudar a limpar uma praia de lixo… A mudança no planeta, e por planeta aqui leia-se o meu bairro e o meu quintal, porque é aqui que começa tudo, esta mudança só vai ocorrer se cada um fizer a sua parte.

3. A falácia do progresso econômico como algo ruim.

Greta, em sua crítica, insinua que o velho progresso, bode expiatório para todos os problemas da humanidade, é o culpado pelo cataclisma mundial. Essa ideia só recria a utopia “eu quero uma casa no campo”, dos anos 70. O mundo só será feliz se voltar às suas raízes rurais. Ah tá. Até parece que não houveram grandes mudanças tecnológicas do tempo dos hippies dos anos 60 e 70 até hoje, das quais os milênios são completamente dependentes.

Sem contar com a ignorância ou ingenuidade de pensar que uma hortinha orgânica pode sustentar a fome do mundo. A produção de comida em grande quantidade, que a tornou barata e mais acessível principalmente aos pobres, deve-se na maior parte a grandes tecnologias, desde a produção da semente até a colheita, armazenamento e transporte. A tal mentalidade anti-crescimento econômico e tecnologia é um luxo que só os muitos ricos, como os cidadãos do país de Greta, podem pagar.

4. A falácia das pessoas serem inerentemente boas.

Se você se recusar a agir, terá demonstrado que é mau, e isto eu me recuso a crer. No final do discurso parece que vem o golpe de misericórdia. O jogo moral dos maus, os que não compram o discurso apocalíptico de Greta e os bons, os que o fazem, não é novidade para os ativistas. Mas o que é interessante aqui é a garota de 15 anos revelando sua cosmovisão rousseauniana. Oh, não me façam crer que existem pessoas más no mundo, please… “Eu me recuso a crer (que existem pessoas más no mundo)”, diz ela.

No centro de toda visão de mundo existe uma ideia sobre o ser humano, um mapa do universo e uma versão da história, diz Wallter Lippman. A visão da natureza humana na qual Greta parece crer, com certeza herdada de seus pais, e fomentada pela cultura de seu país pós-cristão, é a que o economista Thomas Sowell chama de visão irrestrita. Seres humanos são naturalmente bons e capazes de agir de acordo com suas puras intenções.

Ele não seria restrito pelo egoísmo ou auto-interesse, medos, ambições pessoais, história de vida, em sua capacidade de ser essencialmente bom e praticar o bem. Infelizmente é esta a visão mais popular que o mundo pós-iluminista cultiva sobre a natureza humana. Esta ideia está no coração do esquerdismo. Somos todos bons e capazes de criar a sociedade ideal para nós. Só o que precisamos é o “sistema” certo…

Greta tem o direito de ser uma adolescente e falar as besteiras que fala. Adolescente é assim mesmo, destituído de sabedoria que só a experiência de vida provê, mas cheio de idealismo. Nós também, como adultos, temos o direito de desmascarar seus erros e expô-los pelo que são. Só não creio que para fazer isto tenhamos que usar o bullying sujo, a difamação, o desprezo à pessoa da menina. A direita, a meu ver, não tem o direito de não andar direito.

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