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Gravado em Cuiabá, curta sobre relacionamento abusivo pretende ser alerta para mulheres

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Gravado em Cuiabá, curta sobre relacionamento abusivo pretende ser alerta para mulheres

“Relacionamento abusivo”, termo recente, mas presente na vida de milhares de casais há muito tempo. As vítimas – em maioria, mas não somente, mulheres – demoram a perceber pelo que estão passando. Buscando colocar o assunto em pauta e ajudar mulheres que precisam enfrentar o problema, um grupo de jovens – todas mulheres – está gravando um curta-metragem em Cuiabá sobre o tema.

Controvérsias contará a história de uma jovem – Gabriela – forte, empoderada, feminista, que se apaixona por um rapaz – Caio -, bem longe da ideia comum de um agressor psicológico, um músico, politizado. A princípio, um relacionamento perfeito, como qualquer outro, mas, com o passar do tempo, os abusos começam a aparecer e Gabriela verá sua vida desmoronar.

A ideia nasceu da roteirista e diretora responsável pelo projeto Vitória Molina, estudante de Rádio e TV na Universidade Federal de Mato Grosso. Ela contou ao LIVRE que o tema sempre foi muito presente em sua vida, através de histórias de amigas, avós, tias, visto que, ao seu redor, todo mundo já teve um relacionamento abusivo e não sabia do que se tratava.

“A geração passada é uma geração em que as mulheres sempre foram submissas aos homens, e isso reflete na sociedade de hoje. Muitas meninas sofrem com isso, com o relacionamento abusivo, e não sabem o que é. E esse nome surgiu no século XXI, ‘relacionamento abusivo’, mas sempre teve essa coisa que os homens eram mais controladores, manipuladores, mandavam mais nas mulheres”, disse Vitória.

Vitória é roteirista e diretora do curta-metragem (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Foi em conversa com uma amiga que estava passando pelo problema, que Vitória teve o insight. Ela já queria fazer um curta metragem com uma equipe só de mulheres e decidiu que este seria o melhor tema para o projeto, visto que não há muitos curtas, ou longas-metragens, que trabalham relacionamento abusivo.

O curta irá tratar mais o abuso psicológico, buscando ser um alerta para as mulheres que estão passando por isso, mas ainda não conseguiram perceber. O motivo da escolha é que, para a equipe, o abuso físico é mais fácil de ser percebido do que o psicológico.

“É mais difícil a pessoa perceber que está sendo manipulada. Às vezes as pessoas de fora estão conseguindo enxergar, mas você não consegue e acaba se afastando das pessoas, porque você quer dizer que está tudo bem, mas todo mundo está vendo que não está bem”, disse Karen Rosa, membro da equipe.

Durante a história, a personagem principal, Gabriela, começará como uma pessoa com a autoestima elevada e de bem com a vida e que, com o passar do relacionamento, vai decaindo. No final, a ideia será mostrar como um relacionamento abusivo pode destruir a vida da vítima, tudo através das mudanças da personagem.

As gravações começaram nesse domingo (24) e devem terminar ainda no mês de junho. A equipe espera que até o fim de julho o curta esteja finalizado.

Equipe feminina

A equipe responsável pela criação, filmagem, edição e finalização do curta é formada por 12 mulheres. Vitória fez questão que essa equipe fosse toda feminina para reforçar a representatividade da mulher no audiovisual.

“A gente está num campo, que é o cinema, em que a maioria dos profissionais são homens, é um campo machista, eu tenho professoras que agora estão se inserindo no campo do cinema, mas ainda não tem uma equipe só de mulheres, então eu acho muito interessante ter essa representatividade. Então eu fui recrutando as meninas”, disse a roteirista.

Vitória Molina é responsável pela direção e pelo roteiro. A direção de fotografia será feita por Ana Carolina Mello. A produção por Isabelle Almeida. A assistência de produção por Karenn Britto e Isabela Ferreira. A continuista será Isabela Venâncio. A direção de arte está sob responsabilidade de Késsia Oguihara, Daiane Maciel. O still por Daiane Marafon. A edição será realizada por Ana Carolina Coelho e Yaemi Yamauchi. O Som direto por Ana Carolina Coelho. A produção de elenco por Jéssica Corte. E a assessoria de imprensa e divulgação por Karen Rosa.

As meninas são todas estudantes de Comunicação Social na Universidade Federal de Mato Grosso, algumas da habilitação Rádio e TV e outras de Jornalismo.

Muitas delas escolheram participar do projeto porque se reconheceram na história. Karen Rosa foi uma delas.

“Eu já tive um relacionamento abusivo. É muito difícil. Então quando li o roteiro, vi muita coisa que embrulhou o estômago. Pensei ‘cara, é realmente assim que acontece’. Então é importante para nós [equipe] estarmos nesse reconhecimento e pensar: ‘bola para frente, vamos tentar ajudar outras meninas também’. Tentar de alguma forma fazer isso ter visibilidade e ser discutido”, disse Karen.

Karen Rosa (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

A página

Para montar o roteiro, a equipe contou uma grande pesquisa, que teve início com uma roda de conversa, convocada através da página no Facebook “Controvérsias” – nome do curta-metragem.

A ideia era que, além do filme, o projeto também servisse como um apoio para mulheres vítimas de abusos. A roda de conversa reuniu 10 mulheres, além da equipe. Elas puderam dividir suas histórias, se reconhecerem nas falas das colegas e perceberem que não estão sozinhas.

Além disso, na página a equipe também criou uma enquete chamada “conte sua história”, em que as mulheres entravam no anonimato e contavam os abusos que já sofreram. Foram recebidos 80 relatos.

“Nós não estávamos esperando tudo isso. E aí você lê e fica com o coração partido, porque são casos de namorados que estupram a própria namorada, casos de mulheres que sofreram por 10 anos com o mesmo cara, apanhando, então é uma coisa muito pesada, muito tensa”, contou Vitória.

A roda de conversa, somada aos relatos enviados na página, fortaleceu a ideia do curta e todas as histórias foram utilizadas na criação do roteiro. A intenção da equipe é que as mulheres que colaboraram assistam e se sintam representadas. E as que ainda não perceberam que estão passando pelo problema se reconheçam e entendam que estão em um relacionamento abusivo.

Até por isso, Caio – o namorado na história – foi criado fora do esteriótipo de agressor. Ele será músico e politizado, o chamado “esquerdomacho”, o homem que a vítima jamais pensaria que poderia ser um abusador.

A equipe pretende, primeiramente, levar o curta-metragem para mostras de cinema e festivais. Depois, ele deverá ser disponibilizado no Youtube.

Neste final de semana, a equipe também criou um Instagram onde será divulgado um pouco mais sobre o curta. A página no Facebook será mantida com a ideia de ajudar a mostrar um pouco mais sobre relacionamento abusivo, educando vítimas e agressores.

Em uma das publicações compartilhadas na página há um manual sobre relacionamento abusivo (veja abaixo). Caso você se reconheça, a equipe do Controvérsias está aberta para lhe ouvir.

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