O cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Correa pareceu bem à vontade para revelar tudo o que sabia sobre atividades ilícitas supostamente cometidas, não apenas pelo seu núcleo clandestino de interceptações telefônicas, mas também por membros do Ministério Público de Mato Grosso (MP).
Por diversas vezes, o cabo parecia se reportar ao promotor substituto do caso, Vinícius Gahyva, e chegou a ter uma conversa “de igual para igual” com ele.
No início do depoimento, o membro do MP olhou para quem assistia – a maioria jornalistas e advogados – e perguntou: “o pessoal da revista Contigo ou Tititi está por aqui?”.
A todo momento, Gerson dizia que “o promotor Vinícius é muito tranquilo” e mantinha o depoimento em tom linear. Diversas vezes, o cabo também arrancou risadas tímidas de quem o ouvia, quando respondia “na lata” às inferências de Gahyva.
Quando o promotor alegou que Gerson estava “fazendo fofoca”, o cabo avisou: “se eu soubesse alguma coisa contra o senhor…”.
Nessa ocasião, Gahyva também riu, mas Gerson, depois – e endossado pelo juiz Marcos Faleiros – avisou que nunca soube de nada contra o promotor. O membro do MP também fez questão de deixar isso claro, minutos depois.
Outro momento de “descontração” entre ambos foi quando, durante os questionamentos do Ministério Público, Gerson ironizou: “que isso, doutor? Eu tô achando estranho o senhor defendendo Pedro Taques”. Mais uma vez, Vinícius Gahyva fez questão de avisar que não fazia a defesa de qualquer pessoa.
Ao juiz, Marcos Faleiros, o cabo justificava: “eu gosto de um debate”.
O clima de amizade acabou quando Gerson afirmou que o MP seria contraditório quando, nesta semana, passou a investigar pontos que foram revelados por ele, mas, na semana passada, negou delação por serem “fatos requentados”.
O tom de voz se elevou entre promotor e réu. Gerson acabou repreendido pelo coronel Hélcio Hardoim, que, quase discretamente, determinou: “respeite seus superiores”. Depois desse momento, o cabo ficou em silêncio, passando a negar resposta ao membro do MP.
“Parece que a amizade acabou”, chegou a comentar Gahyva, após não ter diversos questionamentos respondidos. “Acabou por hoje, amanhã volta”, rebateu o advogado de Gerson, Neyman Monteiro.