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Governo Taques não aproximou Mato Grosso do mundo

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Governo Taques não aproximou Mato Grosso do mundo
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Uma das principais características da moderna administração pública é a proatividade nas relações internacionais.

Há um tempo, relacionar-se com o exterior era algo tido como de responsabilidade de governos centrais. Isso, contudo, mudou de maneira definitiva. Governos estaduais e municipais, no âmbito de uma Federação, também têm de perseguir ininterruptamente uma melhor inserção global.

[featured_paragraph]Nesse quesito, o governo de Mato Grosso sob Pedro Taques foi tímido e incipiente. Quem sabe o estoque de problemas internos que sua administração encontrou desde o primeiro dia de mandato, aliado a constantes mudanças de equipe, e ausência de qualquer estratégia clara de inserção tenham lhe subtraído a iniciativa. Consequentemente, o compto final é insatisfatório.[/featured_paragraph]

Dispor de uma estratégia para a inserção internacional significa muito mais do que apenas promover seu estado ou município no exterior mediante viagens oficiais, embora essas, na atual competição mundial por projetos e recursos, sejam essenciais.

Aliás, a crítica que comumente se ouve no Brasil porque mandatários viajam ao exterior revela provincianismo e falta de olhar empreendedor para as janelas que se abrem com a globalização. O que pode ser condenável é o conteúdo (o que se faz ou deixa de fazer durante a viagem) e não a forma (a viagem em si).

Se a missão ao exterior visa à promoção de oportunidades no estado ou município, atração de investimentos produtivos, busca de soluções tecnológicas inovadoras, celebração de parcerias científicas e culturais — tudo isso é fundamental e bem-vindo. Se, ao contrário, viajar ao exterior constitui apenas passeio para o governante e seus associados, tal prática representa desperdício de tempo, energia e dinheiro do contribuinte.

O legendário ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, sem deixar de lado o foco de “zeladoria” de sua administração, correu o mundo na promoção da “Big Apple” como centro de negócios, entretenimento e na atração de talentos para que o conglomerado urbano se convertesse num grande núcleo da chamada “Economia 4.0”.

Narendra Modi, hoje primeiro-ministro da Índia, foi o principal “embaixador comercial” do estado de Gujarat, unidade no noroeste do país administrada de 2001 a 2014 pelo atual chefe de governo. Realizou diversas missões ao exterior, além de liderar, em próprio território indiano, inúmeros seminários voltados a investidores internacionais no intuito de consolidar parcerias público-privadas. Com isso, contribuiu para robustecer a infraestrutura em seu estado. Foi graças a essa intensa atuação internacional de Modi que Gujarat se tornou o estado líder na Índia no que toca à produção de energia solar.

Os chineses, que hoje constituem a maior nação-comerciante do mundo, têm na atuação internacional de suas províncias ponto-chave dela competitividade. Além de escritórios de promoção comercial e atração de investimentos no exterior, as províncias chinesas são onipresentes nos calendários internacionais de feiras e exposições econômicas. E tal dinâmica é complementada, claro, pela atração de grandes eventos comerciais a serem realizados em território chinês.

No quadriênio 2015-18 foi imenso no exterior o interesse por Mato Grosso e, ainda, maciços os recursos e projetos que poderiam, mediante parcerias externas, terem sido canalizados em prol do desenvolvimento do Estado. Perante tal quadro, o que se viu foi desatenção e inoperância do governo estadual na busca e aproveitamento dessas oportunidades. Além do que Mato Grosso poderia ter sediado grandes eventos internacionais do agronegócio ao turismo sustentável — potencializando as vantagens comparativas do Estado — o que se deu em escala ínfima.

A administração estadual não implementou uma estrutura formal e profissionalizada de relações internacionais. Poderia fazê-lo seja em parceria com a iniciativa privada, seja com remanejamentos internos nos próprios quadros de governo, sem quaisquer ônus orçamentário. Sua interligação com o mundo foi portanto muito mais cerimonial, na recepção passiva dos possíveis parceiros internacionais que procuraram o estado por iniciativa própria.

Tal inoperância foi tanto mais desapontadora em se analisando as primeiras credenciais da administração Taques. Tendo percorrido a trajetória de procurador e senador combativo, pressupunha-se que a modernidade do novo governador se daria não apenas no plano do discurso ético e da luta contra a corrupção, mas também na competência gerencial e visão de mundo.

O resultado disso tudo para todos os que torcem pelo êxito do estado revela-se uma decepção. Na contabilidade das chances desperdiçadas, o balanço é que a administração Taques escondeu Mato Grosso do mundo.

Marcos Troyjo foi diplomata, executivo e hoje leciona na renomada Columbia University, em Nova York. É escritor e colunista do jornal Folha de S. Paulo. É um dos maiores conhecedores de política comercial no Brasil e no mundo 

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