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Governador tucano é apontado como “dono” de esquema de escutas ilegais

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Governador tucano é apontado como “dono” de esquema de escutas ilegais
(Foto:Ednilson Aguiar/O Livre)

O governador de Mato Grosso e pré-candidato à reeleição Pedro Taques (PSDB) foi citado durante audiência na 11ª Vara Criminal Militar, em Cuiabá, que interrogou cinco militares envolvidos em um esquema de interceptações telefônicas ilegais iniciado em setembro de 2014 – e que ficou conhecido como “Grampolândia Pantaneira”.

O cabo da Polícia Militar (PM) Gerson Corrêa disse em depoimento, prestado na madrugada de sábado (28), que as escutas seriam de interesse do governador e de seu primo, o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques. De acordo com o militar, Paulo Taques pagou a ele o valor de R$ 50 mil para que a central de escutas entrasse em atividade durante o período eleitoral.

À época, Paulo Taques era coordenador de campanha do então senador e atual governador de Mato Grosso. Hoje o primo do governador está preso por suposto envolvimento em outro esquema, desta vez de corrupção, que desvio cerca de R$ 30 milhões no Detran de Mato Grosso, .

O presidente da OAB/MT, Leonardo Campos, disse que, de posse dos depoimentos na Vara Militar, irá provocar pela terceira vez o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que os inquéritos sejam remetidos à Justiça Estadual, uma vez que, com exceção do governador, os envolvidos não possuem prerrogativa de função, o chamado “foro privilegiado”.

Outra cobrança é a celeridade por parte do STJ na investigação envolvendo o governador Pedro Taques, o único com foro privilegiado. “Causa estranheza na sociedade mato-grossense que inquéritos sabidamente que não possuem investigados com foro de prerrogativa de função ainda continuem no STJ. Tem que descer para cá e continuar as investigações”, ponderou Campos.

Quando o caso se tornou público, em 2017, o próprio governador Pedro Taques solicitou ao STJ que o investigasse, “com o objetivo de tentar provar que não teve envolvimento nos fatos”. Por meio de nota, o governador ressaltou que, em 2015, ao tomar conhecimento do esquema de escutas ilegais, determinou a apuração dos fatos, garantindo a independência das Polícias Civil e Militar nas investigações.

Depoimento dos militares

Além do cabo Gerson Corrêa, são réus e prestaram depoimento os coronéis da PM Zaqueu Barbosa, Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista.

O último a depor no sábado passado foi o cabo Gerson. Ele, que confessou participação no esquema de escutas ilegais, disse que o coronel Zaqueu o teria chamado para atuar em um projeto que “limparia a PM”.

Em agosto de 2014, o cabo foi a um encontro, ocorrido em um restaurante na estrada de Chapada dos Guimarães (64 km de Cuiabá), com Zaqueu e Lesco. Lá, encontraram o primo do governador. “Paulo disse que iria arcar com as despesas e tomaria conta da situação”, confidenciou o policial.

Na empreitada, foi o coronel Evandro Lesco quem o acompanhou também, quando foi pegar dinheiro para custear o esquema, em uma casa onde Paulo Taques trabalhava, em um bairro de Cuiabá.

Gerson declarou que com o dinheiro em mãos uma sala foi alugada, no valor de R$ 1.2 mil mensal, para montar o sistema de escuta. Disse ainda que o coronel Zaqueu tinha conhecimento de tudo, além do primeiro contato para desenvolver a central teria sido dele. Tanto que em seguida Zaqueu começou a repassar números que deveriam ser interceptados.

O coronel Zaqueu, primeiro a depor na sexta passada, negou qualquer tipo de envolvimento, além de afirmar que não sabia do suposto envolvimento do governador Pedro Taques ou do primo dele, Paulo Taques.

Entenda o caso

As interceptações telefônicas alvos dos inquéritos da “grampolândia” foram autorizadas pela Justiça Estadual, mas seriam para investigar supostos policiais que estariam comendo crimes. No entanto, número de pessoas sem envolvimento com crimes, como advogados, jornalistas e adversários políticos do então senador e candidato ao Governo Pedro Taques, foram inseridos, em uma manobra chamada de “barriga de aluguel”.

lista com os números grampeados foi divulgada em primeira mão pelo LIVRE. Há suspeitas de que diversos outros telefones tenham sido interceptados no mesmo esquema. As escutas telefônicas ilegais foram denunciadas pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário estadual de Segurança Pública (Sesp) no primeiro ano de mandato do governador Pedro Taques.

Zaque afirmou ter alertado o governador sobre os grampos por diversas vezes, desde outubro de 2015 – uma delas usando uma apresentação em PowerPoint, acompanhado do então secretário-adjunto da Sesp e também promotor, Fabio Galindo.

Pedro Taques admitiu que Zaque avisou sobre os grampos, mas disse que considerou as denúncias como “fofoca”. O promotor denunciou o caso à Procuradoria Geral da República (PGR) em janeiro de 2017. Depois disso, a informação chegou à imprensa e o ex-chefe da Casa Civil foi exonerado do cargo.

Afastamentos e prisões

O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) Orlando Perri afastou, em 20 de setembro de 2017, o secretário estadual de Segurança Pública Rogers Jarbas do comando da pasta, para não atrapalhar nas investigações.

Taques tachou a decisão de “absurda”, “esdrúxula”, “esquisita” e “teratológica” e chamou o inquérito de “pseudo investigação denominada grampolândia”. Uma semana depois, Jarbas foi preso, com outras sete pessoas, todas suspeitas de obstruir a investigação.

No total, 13 pessoas já foram presas suspeitas de participar do esquema de grampos ou de atrapalhar as investigações – três civis e 10 policiais militares, sendo seis oficiais. Todos já saíram da prisão.

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