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Foto que mostra pátio vazio durante o show circulou na internet
Parecia um grande mistério a história por trás do fiasco do show da dupla Chitãozinho e Xororó em Várzea Grande, realizado no último domingo (14) em comemoração aos 150 anos de criação do município. Nesta quarta-feira (17), o LIVRE foi atrás do assunto.
A prefeitura do município – a primeira fonte procurada pela reportagem — informou que não tinha responsabilidade sobre o evento. “Foi um presente do Governo do Estado, via Assembleia Legislativa, para Várzea Grande”, afirmou Marcos Lemos, secretário de Comunicação do município. Algumas ligações depois, a organizadora do show diria algo diferente.
Dinheiro público
A apresentação, gratuita para a população, foi paga com emendas parlamentares, verbas públicas a que os deputados têm direito para apoiar projetos em diversas áreas, incluindo a cultura. Os parlamentares indicam o que querem apoiar e apresentam projetos. Com base nisso, o governo estadual libera o orçamento.
“Foi um presente do Governo do Estado, via Assembleia Legislativa, para Várzea Grande”
O secretário de Comunicação do município não soube informar o valor do cachê da dupla, nem o valor de cada emenda. “Amor, essa questão de custo tem que ser com o Júnior Leite, que foi o organizador do show”, escreveu à repórter, que já havia se identificado pelo nome, no WhatsApp.
Júnior Leite, que é sócio da casa de shows Musiva e secretário-adjunto de Cultura de Cuiabá, disse que apenas ajudou com orientações. E revelou quem foi o organizador do evento: a associação Cor de Mato, constituída sem fins lucrativos.
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Organizador estima que entre 1,5 mil e 2 mil pessoas tenham comparecido; expectativa era reunir 15 mil
Meio milhão
Joéverton Silva, assessor jurídico da entidade, deu respostas mais convincentes: o evento custou R$ 586 mil e foi pago com emendas parlamentares. Quem mais contribuiu foi o líder do governo na Assembleia, Dilmar Dal Bosco (DEM), com R$ 286 mil. Os deputados Guilherme Maluf (PSDB), Romoaldo Júnior (PMDB) e o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (PSB) contribuíram com R$ 100 mil cada. Nas palavras dele, o evento foi uma “parceria” com o município de Várzea Grande.
Segundo Joéverton, o cachê da dupla Chitãozinho e Xororó custou R$ 280 mil, incluindo ônibus com a equipe, carreta, painel de LED, equipamentos de palco e som. Também foram pagos cachês a artistas locais que se apresentaram antes: Sérgio Machado (R$ 35 mil), Cristina e Regina (R$ 12 mil) e Rico e Léo (R$ 25 mil).
“Não posso falar por eles, mas é frustrante subir no palco e não ter tanto público”
Cerca de R$ 15 mil foram para o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que recolhe valores referentes a direitos autorais, R$ 20 mil para uma agência de publicidade e R$ 13 mil para a Univag, que alugou o espaço.
O restante, afirma, foram gastos em serviços e produtos menores, como banheiros químicos, grades, camarins e camisetas.
A associação receberá 5% do valor total. “É uma entidade sem fins lucrativos, mas a equipe que trabalhou precisa ser remunerada”, afirma, citando a lei federal 13.019/14, que regulamenta as organizações da sociedade civil, conhecidas como OSSs. “Parece muito simples pegar dinheiro e pagar artistas, mas tivemos que levantar alvarás, fazer os projetos elétricos e de segurança e outras coisas”, explicou.
Questionado sobre o público, Joéverton, que também é músico, diz que foi “uma tristeza” não ter reunido a multidão esperada. “Sendo bem honesto, acho que foram 1.500 a 2 mil pessoas”, calcula. A expectativa era reunir 15 mil. Ou seja, foram gastos cerca de R$ 300 de dinheiro público por espectador.
Sem saber ao certo se a ínfima plateia foi consequência de uma falha na divulgação ou simples incompetência dos organizadores, Joeverson apenas lamentou o fracasso: “Não posso falar por eles, mas é frustrante subir no palco e não ter tanto público”.