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Fechamento da única indústria de ureia no país preocupa pecuaristas de MT

Com a paralisação, produtor terá que importar o produto ou utilizar outros suplementos, o que representa aumento nos custos de produção

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Fechamento da única indústria de ureia no país preocupa pecuaristas de MT
Os gados só existiam nos vídeos. Sem avançar com a negociação, vítima desconfiou (Imagem Ilustrativa)

Pecuaristas mato-grossenses estão preocupados com o anúncio do fechamento da principal indústria de fertilizantes nitrogenados do país. A Araucária Nitrogenados S/A (ANSA), subsidiária da Petrobras, está prestes a pausar suas atividades.

A unidade, localizada em Araucária (PR), é responsável pela produção de toda a ureia pecuária produzida no país. O item é utilizado como fonte para gerar proteína para a alimentação do gado, especialmente em épocas de seca, quando a qualidade do capim não é tão boa.

O diretor técnico do Indea, Alisson Pericato, explica que a ureia é economicamente mais interessante para o pecuarista, em relação ao milho e farelo de soja, por exemplo. Ela possui maior valor de proteína, se comparado com os demais suplementos.

Para um animal de 300 kg, com exigência mínima de 462 gramas de proteína, seriam necessários 70 gramas de ureia ou 440 gramas de farelo. Na primeira opção, o gasto diário seria de R$ 2,21, ao passo que, com a segunda, os custos passariam de R$ 2,60. “É uma diferença significativa”, avalia.

Nos últimos anos, a Petrobras já fechou duas unidades que produziam a ureia e o preço do produto, em 2018, acabou saltando de R$ 1,4 mil a tonelada para R$ 2 mil a tonelada, no segundo semestre daquele ano.

Atualmente, segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, a ureia agrícola está cotada, em média, em R$ 1.562,24 por tonelada, sem o frete. Já a tonelada de farelo de soja é vendida hoje, em média, a R$ 1.160, em Rondonópolis.

Com o fechamento da última unidade, produtores terão que importar o material (Foto: Assessoria)

Com a paralisação da última unidade, o receio é de que o produtor passe a ter que importar o material, cuja cotação dolarizada tente a apertar ainda mais as margens de lucro do produtor mato-grossense, que detém o maior rebanho do país.

“Hoje, só essa fábrica alimenta as indústrias brasileiras com ureia. Com a desativação, teremos de importar 100% do produto e, certamente, isso acarretará em aumento de custo na produção pecuária”, explica a diretora-executiva da Acrimat, Daniella Bueno.

A Petrobras havia anunciado o fechamento das unidades de Sergipe, Bahia e Paraná. As duas primeiras já foram desativadas, no entanto, foram arrendadas pelos próximos 10 anos, conforme anúncio feito pela estatal em novembro de 2019.

Enquanto não voltam a operar, políticos, entidades representativas e ministros entram na briga por mais prazo para que o pecuarista possa readequar seus custos.

Mais tempo

Na última semana, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) esteve reunido com várias autoridades em Brasília para falar sobre o tema. Médico veterinário, o parlamentar pediu às autoridades maior prazo para evitar o desabastecimento do suplemento na alimentação dos bovinos.

Senador Wellington Fagundes e ministros pedem prazo à estatal (Foto: Assessoria)

Em conversa com os ministros Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Tereza Cristina, da Agricultura, Fagundes alegou que a paralisação da produção poderá trazer riscos à população.

“Os criadores talvez passem a utilizar ureia agrícola para suplementação alimentar dos rebanhos. Isso seria de extremo risco, visto que o segundo produto é altamente tóxico para o gado e para a população que o consome”, disse.

O senador também fez o alerta no plenário, no início deste mês, e não economizou críticas a estatal. “É lamentável que no momento em que a Petrobras anuncia tantas parcerias, inclusive novos investimentos em óleo e gás, esteja virando as costas para parceiros antigos, como a nossa indústria de suplementos” – disse.

“Decisão unilateral”

A Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM), também se manifestou sobre o fechamento da planta. Por meio do presidente, Daniel Guidolin, solicitou aos ministros e à estatal, pelo menos, mais um ano de atividades para que o mercado interno se estabeleça.

Guidolin reivindicou ainda a paridade entre o que é cobrado de PIS/COFINS da ureia pecuária e da agrícola, já que esta última é isenta deste imposto.

“A relação entre a Petrobras e esses fornecedores e clientes é muito antiga, tendo sido a estatal sempre um exemplo de fornecedor confiável. Portanto, não se mostra saudável que uma decisão de tamanha envergadura e com consequências tão negativas seja tomada de forma unilateral e sem prévio aviso aos seus clientes e fornecedores”, afirmou, em nota, a Associação.

Falta sustentabilidade

Em nota enviada ao LIVRE, a Petrobras afirma que a indústria será colocada em “hibernação”, em razão do déficit em suas atividades, o que estaria gerando prejuízos desde que foi adquirida em 2013. Também afirma que todos os acordos para a paralisação foram cumpridos.

Prejuízo estimado para 2020 é de R$ 400 mi, segundo Petrobras (Foto: Assessoria)

Conforme a estatal, o valor de venda do produto sequer supera o prejuízo da matéria-prima e os resultados, historicamente, demonstram a falta de sustentabilidade do negócio.

Somente de janeiro a setembro de 2019, Araucária gerou um prejuízo de quase R$ 250 milhões. Para o final de 2020, as previsões indicam, segundo a companhia, de que os prejuízos ultrapassem de R$ 400 milhões.

Segundo a Petrobras, no atual contexto de mercado, a matéria-prima utilizada na fábrica (resíduo asfáltico) está mais cara do que seus produtos finais (amônia e ureia) e as projeções para o negócio continuam negativas.

A ANSA é, até então, a única fábrica de fertilizantes do país que opera com esse tipo de matéria-prima.

Por fim, diz que a “hibernação” encerra a atividade deficitária da ANSA e dá continuidade à estratégia da Petrobras de focar em ativos que gerem maior retorno financeiro.

Resoluções

A Acrimat deve acompanhar de perto a decisão da estatal e o pedido de mais prazo feito pelo parlamentar e ministros. “Tudo o que for para dificultar ou encarecer a vida do produtor nos preocupa, por isso iremos acompanhar o tema e estaremos alertas para qualquer mudança nesse cenário”, disse a diretora-executiva da Acrimat, Daniela Bueno.

A diretora-executiva da Acrimat, Daniella Bueno, diz que paralisação trará aumento para a produção (Foto: Mayke Toscano/GCom-MT)

Enquanto isso, em Brasília (DF), os ministros Bento e Tereza Cristina se comprometeram em dialogar entre si e com a Petrobras para solucionar o caso. Ambos estão de acordo e dizem ser necessário que a Petrobras forneça um tempo hábil, antes do fechamento, para dinamizar a produção de outras formas.

Quanto ao pedido de paridade entre o que é cobrado de PIS/COFINS da ureia pecuária e da agrícola, a ministra Tereza Cristina diz que irá conversar com o Ministério da Economia, Paulo Guedes.

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