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Fazenda de ministro tem pista de pouso clandestina e lixão a céu aberto

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Fazenda de ministro tem pista de pouso clandestina e lixão a céu aberto

Ednilson Aguiar/O Livre

fazenda ministro

Cerca instalada ao longo do contorno de suposta pista de pouso na fazenda Paredão I, que pertence a Padilha


O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, é proprietário de uma fazenda onde existe uma pista de pouso que não consta na lista de aeródromos privados cadastrados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e um lixão a céu aberto, no qual estão depositados restos de agrotóxicos. Situada dentro do Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco – uma área de preservação que separa Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso, do Parque Nacional Noel Kempff, na Bolívia –, a fazenda Paredão I foi adquirida por Padilha em 2013 do empreiteiro Francisco José de Moura Filho, sócio-proprietário da CMT Engenharia. Seis anos antes, Padilha e Moura Filho haviam sido investigados pelo Ministério Público Federal por suspeita de fraude em licitação na obra da barragem do Arroio Taquarembó, no Rio Grande do Sul.

Clique para ler as outras reportagens da série:
– As estranhas terras do ministro Padilha 
– A disputa judicial no parque Serra de Ricardo Franco
– A confiança na impunidade: sócio desmatou mesmo após multa milionária

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Imagem de satélite mostra faixa de terra semelhante à pista de pouso na fazenda do ministro Padilha

 

O acesso à Paredão é difícil, mas é possível chegar até lá em veículos sem tração nas quatro rodas. A fazenda fica no topo da Serra e, para alcançá-la, é preciso seguir por uma estrada íngreme e sinuosa de pedras e terra. Um funcionário da fazenda Rio do Meio, vizinha à Paredão, mencionou a pista de pouso. “Logo que você chega na porteira você dá de cara com a pista”, disse. Ele também contou que não vê com muita frequência os funcionários da Paredão: “É um povo nojento”, definiu, sem querer entrar em detalhes.

O caminhoneiro Adão, que mora em Vila Bela da Santíssima Trindade e trabalha levando mudanças para o interior de São Paulo, também confirmou a existência da pista: “Fui lá buscar mudanças faz 60 dias”.

De todas as fazendas de Padilha na região, só a Barra Mansa, que fica fora do parque, aparece cadastrada nos registros da Anac com uma pista de 221 metros de extensão. Na Paredão, embora não exista o registro, é possível ver a faixa de terra vermelha que rasga o pasto bem em frente às casas dos funcionários na imagem de satélite do Google Maps. Na fazenda não há sede, apenas alguns casebres de madeira, nos quais a polícia, ao cumprir um mandato de busca e apreensão, encontrou condições precárias de higiene, além de motosserras.

Há 15 dias, a reportagem do LIVRE esteve na Paredão I e constatou uma sequência de toras de madeira colocadas no pasto como se contornassem uma pista de pouso. Ao ser questionado do motivo para as toras estarem ali, um funcionário montado a cavalo respondeu: “É piquete”. A fazenda é vizinha da Paredão II, que pertence a Marco Antonio Assi Tozzatti, ex-assessor e sócio de Padilha, acusado de desmatar aquelas terras mesmo depois de receber uma multa milionária. Tozzatti é sócio de Padilha tanto na Paredão I, como na fazenda Cachoeira, ambas dentro do parque.

No caminho de volta para Vila Bela da Santíssima Trindade, pouco depois da equipe do LIVRE ser abordada e intimidada por policiais civis e fiscais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Ronaldo, um comerciante de um vilarejo às margens da estrada vicinal, também falou sobre a pista de pouso da Paredão. “Outro dia, um avião do Exército explodiu uma pista lá no alto da serra”, disse.

Lá no alto, onde pela lei tudo deveria ser floresta e cerrado, há também um lixão a céu aberto repleto de embalagens vazias de agrotóxicos potencialmente cancerígenos, como o Glifosato. Mesmo com um aviso no rótulo proibindo sua reutilização, muitas estavam sendo usadas para lavar as roupas dos funcionários da propriedade.

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