Por que os países de nossa América têm os nomes que têm?

Foi Cristóvão Colombo quem descobriu a América, nome dado em homenagem ao navegador italiano Américo Vespucci, aportuguesado para Vespúcio, que em seus escritos deixou claro que Cristóvão Colombo se enganara (assim como Pedro Álvares Cabral?), ao imaginar que tinha chegado às Índias.

Mas quem deu este nome ao Novo Mundo não foi seu descobridor e, sim, o cartógrafo alemão Martin Waldesemüller, que divulgou em mapas o nome América para o continente recém-descoberto.

Havia outros motivos para Américo Vespúcio ser lembrado para memorar o feito glorioso, entre os quais o de que o navegador era parente de Simonetta Vespúcio, linda mulher que servira de modelo a Botticelli para o quadro O nascimento de Vênus.  Américo participou de várias expedições, em algumas delas acompanhado de Alonso de Hojeda e Gonçalo Coelho.

E foi ele quem escreveu as cartas que permitiram a Lorenzo de Médici saber de tudo em detalhes. Logo tudo era publicado, ou quase tudo, graças ao invento do alemão Johannes Gutenberg, que mudou o mundo ao inventar a imprensa, como reconheceu em versos lindíssimos o brasileiro Castro Alves, um dos muitos autores clássicos esquecidos pelo Enem:

“Quando no tosco estaleiro/ Da Alemanha o velho obreiro/ A ave da imprensa gerou/ O genovês salta os mares/ Busca um ninho entre os palmares/ E a pátria da imprensa achou”.

O Latim era a língua oficial dos cientistas, e Martin Waldesemüller indicou nos mapas a nova terra como Americi Terra vel America (Terra de Américo ou América).

Seria o primeiro continente com nome masculino, mas a expressão latina vel America ofereceu a opção para o feminino, seguindo a denominação dos outros: Europa, Ásia, África, Oceania. Quando o alemão percebeu o engano, já era tarde. O novo continente era referido por todos como América.

Dominique Boyer, francês que vive no Brasil desde 2005 e é também, como o autor destas linhas, um apaixonado pela viagem das palavras, acaba de publicar um livro fascinante e repleto de curiosidades muito bem fundamentadas sobre os nomes dos países e regiões. É o Atlas Étymologique de L’ Amérique (Edizioni Garcia).

Como está na ordem do dia o programa Mais Médicos, lembro o que diz Dominique sobre o nome Havana: “A Cuba, les deux principales villes sont La Habane et Santiago de Cuba”. O livro é escrito em francês.

Dominique explica que Havana tem origem indígena: provém do nome de um cacique taino chamado Habaguanex. O Taino deu várias palavras ao Português, tais como batata, cacique, canibal, canoa, furacão.

O Taino, que deu origem ao dialeto crioulo do Haiti, não está, porém, no nome da capital do Haiti, Porto Príncipe. Mas há outro mistério aqui também, segundo Dominique, que o diz apoiado em boa bibliografia. O príncipe do nome pode ser, não o filho ou herdeiro de um rei francês e, sim, um vassalo francês, que se destacou na luta contra invasores ingleses.

O livro de Dominique Boyer é um passeio sobre as palavras que dão nome a países e regiões da América. As curiosidades são muitas. Vão da pequena Veneza – Venezuela – passam pelo Equador, designado apenas por ali passar a linha imaginária que divide o globo terrestre em duas duas partes, e chegam a Colômbia e aos diversos nomes em que estão os compostos “guai” (água) e “para”, uma partícula de comparação, presentes, um ou outro ou os dois elementos, em Paraguai, Uruguai, Paramaribo, Paraná, Paraíba etc.

Há também alguns enganos, como o de alguém, que não sabia pronunciar o xibolete “ão” do Português, ter designado Coração, nas Antilhas, por Curaçao, pronúncia que se consolidou.

Nem se fale dos nomes de santos e homenagens a Nossa Senhora, tão frequentes em toda a América. Vale a pena procurar este livro e navegar por ele. (xx)

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