Há um cheiro forte de algo estragado no ar. As composições que se projetam para as eleições de outubro próximo estão longe de sinalizarem uma combinação harmoniosa de temperos que agradem nosso olfato. Pelo que já está colocado, já se conseguiu bater todos os recordes de baixo nível, com ajuntamento de cobras e lagartos debaixo de um mesmo teto, algo, enfim, que pareceria impossível de imaginar por aqueles que, de fora, serão obrigados a escolher a quem darão o troféu para decidirem suas vidas pelos próximos quatro anos.

A briga pelo tempo de TV e “estrutura” para as campanhas junta os desiguais de maneira desavergonhada, com a esperança de que o eleitor tenha a sua atenção desviada para as promessas impossíveis de serem cumpridas, como ocorre em todas as eleições.

No plano nacional, não existem mais porteiras fechadas. Não há mais limites para qualquer negociação. Alckmin, o “santo”, para ter garantido 40% do tempo total de rádio e TV na propaganda eleitoral, juntou-se ao “Centrão”, aliança de DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, que só aí já lhe dará 1.222 prefeitos, 13.710 vereadores, 164 deputados federais, 17 senadores e mais um contingente quase incontável de assessores que compõem o pacote: é o preço a pagar por aqueles que controlam os recursos dos principais ministérios e os programas sociais.

Roberto Jefferson e Waldemar da Costa Neto, dois criminosos, apenados pela justiça que faziam parte da aliança de governabilidade do governo Dilma Rousseff, tirados por ela da prisão em um Indulto de Natal, foram os principais responsáveis por tal façanha. Não fosse essa aliança, Alckmin, com certeza, teria uma atuação pífia no processo eleitoral. Vai para campanha com mãos e pés chafurdados na lama.

Ciro, o boquirroto, perdeu mais uma vez para sua língua descontrolada. Navegou por todo o espectro partidário, da esquerda à direita, e não conseguiu arrebanhar algum partido que quisesse apostar na sua destemperança e continua sozinho no PDT. Está atirando para todos os lados e, se havia alguma esperança de sucesso nessa terceira tentativa de chegar à Presidência da República, perdeu-a com fechamento do “Centrão ”com Alckmin.

A ex-senadora Marina Silva, fundadora do Rede Sustentabilidade, que com 20 milhões de votos ficou em terceiro lugar na eleição, deverá também registrar sua candidatura na esperança de ser herdeira dos votos do ex-presidente Lula, que apesar de julgado e condenado em segunda instância com pena de 12 anos de prisão, continua a liderar todas as pesquisas de opinião. Seria cômico se não fosse trágico.

Ainda deve ser dado destaque ao PMDB, que abriga em seus quadros, além do Presidente Temer, um sem número de quadrilheiros denunciados por corrupção, e tem na figura de ex-ministro Henrique Meirelles um pré-candidato que não vai a lugar algum. Terminará por ser despejado em um desses caldeirões fétidos que ora se formam, e, é claro, após negociatas que jamais chegarão a conhecimento público.

Por fim, Bolsonaro, o capitão reformado do Exército Brasileiro, que devido à descrença geral no sistema político aparece liderando toas as pesquisas em que Lula não é avaliado. Traz consigo o discurso de “salvador da pátria” e, nos seus oito segundos de TV, não lhe restará senão repetir o candidato Enéas, que com tempo mínimo concorreu com o bordão que o imortalizou: Meu nome é Enéas!!! Bolsonaro espera compensar a falta de tempo com a massificação de sua campanha pelas Redes Sociais.

Aqui, na terra de Dom Aquino Corrêa, Arcebispo de Cuiabá, Governador do Estado e primeiro mato-grossense a pertencer à Academia Brasileira de Letras, as orações por ele feitas com tanta fé, desejando-nos um futuro de bonança, parecem não ter chegado ao ouvido do Criador

Pedro Taques, o mais puro de todos os governadores, já ensaia seu discurso de campanha contra seus ex-aliados, que outrora serviram-se do banquete sentados à mesma mesa. Com a juíza aposentada Selma Arruda em seu palanque, como candidata ao Senado, formando dupla com Nilson Leitão que será, com certeza, preterido por Taques na campanha eleitoral. Nilson desafiou Pedro. Não lhe entregou o comando do partido. Não é a liderança que o governador queira a fazer-lhe sombra. Resultado: de todas as candidaturas ao Senado, foi Nilson Leitão quem mais perdeu. Resta a Taques a definir, ainda, a quem entregará o governo em 2022, quando se desincompatibilizará para concorrer ao Senado, como seu Vice-Governador.

Mauro Mendes, junto com Pivetta, Jayme, Júlio, Bezerra, conseguiu o improvável: formou uma aliança que já se mostrou desastrosa em 1998 e agora vem acrescida de outros animais de espécies diferentes. Além de Carlos Bezerra, que deve estar morrendo de rir com a cisão que causou em seu partido, mas resolveu seus problemas pessoais, o prefeito da capital, Emanuel Pinheiro, inimigo de Mauro Mendes e com o único propósito de, nesta eleição, eleger seu filho, Emanuelzinho, a deputado federal, ameaça aliar-se ao governador. Isso sem contar com o PSD de Carlos Fávaro, ex-vice-governador que, ao romper com Pedro Taques, foi a Brasília para o presidente nacional abençoar a aliança com Wellington Fagundes. Em vão.

Fávaro, que é presidente regional do PSD, não conseguiu, ou não quis, segurar o compromisso. A mesa das negociações lhe foi novamente aberta para a segunda vaga ao Senado na aliança liderada por Mauro Mendes, Jayme e seu inimigo Pivetta, que quase pôs tudo a perder. Com “forte estrutura partidária” e tempo de TV, tirou a vaga destinada ao deputado federal Adilton Sachetti, restando a esse, apesar do apoio de Blairo, a vaga ao cargo de Vice-Governador ou disputar a reeleição a deputado federal.

Wellington, que até pouco tempo atrás desfilava garboso com o discurso de oposição ao governo atual, de repente viu-se perdendo aliados pelo vão dos dedos. Já havia perdido Fávaro e, com a saída do MDB para aliar-se a Mauro Mendes, muito se repetiu, à boca pequena, até entre aliados, que ele desistiria. Na verdade os abandonos ocorreram por ele não ter a tão famosa “estrutura” para oferecer aos possíveis aliados. Restaram-lhe, sem muita firmeza, PTB e PP, que ainda falam em bandear-se para outras plagas, além dedo PCdoB, que ocupará uma vaga de senatoria. Ainda nessa aliança a possibilidade de o PT ocupar a vaga de vice, que seria de Lúdio Cabral. Seria recomposição de parte do tempo de TV perdido com a saída de MDB e PSD. A verdade é que Wellington passou do ponto de retorno. Para ele não existe mais recuo, sob pena de perda eleitoral irreparável no futuro.

Isso tudo, porém, não significa que o que está definido esteja resolvido. Muitas conversas ainda rolarão até dia 5 de agosto, prazo final para a realização das Convenções Partidárias. Há até quem diga, quando Mauro anuncia sua candidatura pra valer, e o PSDB apresenta a chapa com Nilson e Selma, aliás, Selma e Nilson, com Taques candidato à reeleição, outras conversas prometem acontecer: MDB e PSD poderiam voltar aos braços de Wellington.

Ao fim e ao cabo o que nos resta, nesse tempo de incredulidade, com a certeza de que brancos, nulos e abstenção terão a maioria dos votos, é que com uma lente não muito potente colocada sobre todos que compõem o não tão seleto grupo dos que, ao final, decidem, é descobrir, lamentavelmente, que são todos farinha do mesmo saco.

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*Ricarte de Freitas é advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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