As “inconsistências” na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 e as disputas judiciais envolvendo o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) têm causado insegurança entre os estudantes que buscam uma vaga no ensino superior.
Vitória Zabotti, de 22 anos, é uma das alunas que vê um “caos” no ingresso para as universidades nesse ano. Em 2019, ela prestou o Enem pela quinta vez, novamente em busca por uma vaga para um dos cursos mais concorridos do país: Medicina.
Ao LIVRE, a estudante conta que optar pelo financiamento estudantil do governo, o Fies, nunca foi uma opção considerada para sua formação. No entanto, em conjunto com os pais, decidiu se inscrever para uma faculdade particular e pleitear o subsídio.
O que mudou das tentativas anteriores para esta? A insegurança gerada com a falha identificada nas correções do Enem.
De acordo com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, as “inconsistências” foram identificadas na correção dos gabaritos de quase seis mil candidatos. A falha teria acontecido na gráfica que confeccionou as provas.
Segundo o governo, quem recebeu um caderno do exame de determinada cor acabou com o gabarito corrigido como se fosse de outra. Depois de identificado o erro, ele teria sido corrigido em poucos dias.
Mas as declarações oficiais não acalmaram Vitória, que ainda não sente segurança em relação à prova.
Um dos motivos, segundo ela, é que alguns de seus amigos, que também fizeram o Enem em anos anteriores, acertaram mais questões em 2019 e tiveram notas menores que nas outras edições.
“É muito discrepante você acertar 10 questões a mais e sua nota diminuir. Isso não é justo, sabe? Não é nem pelo erro desse ano. Eu acho que o sistema do Enem nunca foi justo e não faz sentido”, comenta.
Cronograma adiado
Diante das falhas reveladas pelo MEC, a Defensoria Pública da União (DPU) pediu a suspensão do cronograma do Sisu depois do período de inscrições, encerrado no domingo (26). O pedido foi atendido pela Justiça Federal de São Paulo.
Mesmo com a divulgação da decisão judicial, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) comunicou, na segunda-feira (27), que não tinha sido oficializada sobre o caso. Por isso, tinha decidido manter a agenda de matrículas de 2020.
Originalmente, a pré-matrícula, realizada via internet, começaria nesta quarta-feira (29). No entanto, no fim da manhã dessa terça-feira (28), a instituição comunicou a suspensão do cronograma até a divulgação dos resultados.
Já durante a tarde, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) atendeu a um pedido do MEC e liberou a divulgação dos resultados do exame. O ministro João Otávio de Noronha, relator da ação, considerou que o adiamento dos prazos poderia prejudicar o ano letivo nas universidades.
Ansiedade
Assim como Vitória, Eduardo Lopes Figueiredo, de 17 anos, também busca uma vaga para Medicina e relata ansiedade em relação ao resultado oficial do Enem.
Além de ter se inscrito para uma vaga na UFMT e na Universidade Federal de Rondonópolis (212 km de Cuiabá), ele prestou os vestibulares das maiores instituições privadas da região.
E ele, que se formou no ensino médio em 2019, também aguarda para se inscrever para o Fies.
Contudo, diferentemente das federais, as faculdades particulares não alteraram seus prazos, porque o período de matrículas se encerrou antes da decisão judicial.
Pelo cronograma, as inscrições para o financiamento estudantil, que depende exclusivamente das notas do Enem, devem ser feitas no início de fevereiro.
Eduardo destaca que também é em fevereiro que se iniciam as aulas das faculdades particulares e dos cursinhos pré-vestibulares. Por isso, estudantes que estão na mesma situação que ele seriam prejudicados, caso a suspensão do Sisu se prolongasse.
“Nós ficamos sem ter o que fazer, porque a gente fica dependente das notas. Se vai fazer o Fies, se vai fazer cursinho…”, comenta.
O estudante lembra que o Fies também é um processo seletivo, com vagas limitadas e que depende do ranking de notas. Assim, mesmo que um estudante busque o financiamento, se a nota do Enem não for suficiente, ele poderá ter que optar por voltar para o cursinho.
E mesmo tendo a pontuação necessária para o financiamento, não significa que não enfrentará prejuízos pelo caminho. Ele poderá se atrasar nas aulas em até dois meses, devido aos prazos para resultado do Fies.