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Estórias na história da divisão de Mato Grosso

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Estórias na história da divisão de Mato Grosso

Passados exatos 40 anos da Lei Complementar 31/77, de 11 de outubro, que definiu a divisão de Mato Grosso para criar Mato Grosso do Sul, a História vai se perdendo. Recordo-me de que era diretor do Departamento de Divulgação do Governo de Mato Grosso – conhecido como Sedimat. A assinatura da Lei Complementar 31/77 foi no dia 11 de outubro de 1977, no gabinete do Presidente general Ernesto Geisel, em Brasília.

Aqui entra a estória que gostaria de contar neste artigo. Estava em Brasília já havia alguns dias tratando da divulgação do evento na ótica de Mato Grosso.

A imprensa do país trataria a divisão de Mato Grosso na visão política nacional. A lei seria assinada numa terça-feira, dia 11. Na noite de domingo, o governador Garcia Neto chegara a Brasília para se inteirar do fato ao longo do dia seguinte. Encontrei-o no aeroporto para avisá-lo de que tinha convocado uma entrevista coletiva com a imprensa no Senado Federal para tratar de política estadual, na hora do almoço de segunda. Adiantei aos jornalistas, por minha conta e risco, que ele falaria sobre política nacional também. Era um momento em que esse tema arrepiava qualquer político.

No caminho entre o aeroporto e o Hotel Nacional de Brasília, onde ele se hospedava sempre, contei-lhe os temas que ouvira de jornalistas políticos que se fossem abordados dariam grande repercussão. Estava com o coração na mão, porque havia combinado isso com os jornalistas sem consultá-lo. Porém, conhecia-o muito bem e sabia que não fugiria da raia. Ele concordou sem discutir. Marcamos para o meio-dia no restaurante do Senado Federal. Lá estava a fina flor do jornalismo político que cobria Brasília.

Os jornalistas cutucaram-no com varas curtíssimas e ele deu declarações de arrepiar naquele momento político do país. O presidente da República, general Ernesto Geisel era um alemão duro com mão de ferro. O vice-governador Cássio Leite de Barros perguntou-me apavorado se Garcia Neto não tinha ido além do bom senso. Do alto da arrogância dos meus 33 anos, disse-lhe que não. O país queria ouvir alguém contestar o sistema político de Geisel. No dia seguinte, ele foi manchete na imprensa local e nacional.

Era terça-feira, o dia em que seria assinada a Lei Complementar que dividia Mato Grosso e criava Mato Grosso do Sul. O efeito da entrevista era visível. As lideranças políticas de Mato Grosso do Sul que foram para massacrar o governador de Mato Grosso, ficaram mudas. Garcia Neto era celebridade. Sábio, ele desfilou como um vencedor e assinou a lei como estadista junto com o presidente da República.

O povo de Mato Grosso que fora num avião Boeing 707 fretado da Vasp (extinta em 2005) vibrou com o governador e sentiu-se vingado das rusgas que aconteceram ao longo do prolongado processo da divisão.

Dali saímos pra almoçar, depois que o governador Garcia Neto deu um monte de entrevistas e ocupou as páginas dos jornais no dia seguinte à assinatura da Lei Complementar.

Fomos almoçar em clima de festa. Saíram de Cuiabá em clima de velório. Garcia Neto vingou-os. Nos meses seguintes até o dia 1º. de janeiro de 1979 quando se deu a separação física dos dois Estados, a guerra continuou na separação dos bens patrimoniais, do pessoal, das dívidas e das aposentadorias. Mas isso é assunto para outra conversa.

Ah. O povo de Mato Grosso do Sul chegou a Brasília na manhã de terça-feira em dois boeings fretados da Vasp pra comemorar. Comeram em silêncio em Brasília. Festaram em Campo Grande na quarta-feira. Em Brasília, festaram os cuiabanos!

Assinatura Coluna Onofre

 

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