Cultivados por mais de 40 povos espalhados pelo Estado, cada um ao seu modo, os mitos indígenas inspiram um novo espetáculo teatral, fruto da parceria entre uma atriz e uma pesquisadora Terena. A partir do próximo dia 12, Alicce Oliveira e Naine Terena começam a circular o projeto Exetina Kopenoti, que chega a comunidades de seis municípios de Mato Grosso, até maio.

O projeto nasce a fim de dar visibilidade à cultura indígena mato-grossense através das artes cênicas, contemplado pelo Edital Circula MT, da Secretaria de Estado de Cultura. Além da peça de teatro, uma “palestra show” antecede a apresentação de Alicce, que apresenta ao público seus instrumentos de trabalho e formas de construção do espetáculo.

Os mitos que permeiam a narrativa da peça encenada por ela, foram retirados de relatos indígenas, obras literárias escritas por pesquisadores e informações obtidas no decorrer de um ano de pesquisa.

Foto: Téo Miranda

“São mito de criação e outros registrados por pesquisadores como Circe Bitencourt, o viajante Taunay e professores indígenas, em livros didáticos e na oralidade da aldeia”, explica Naine, responsável pela coordenação artística do projeto. A pesquisadora e produtora cultural, também é comunicadora pela Oráculo Comunicação e militante da causa dos povos indígenas.

Atriz e pedagoga pela UFMT, Alicce se dedica a Arte do Contar Histórias, após anos atuando no teatro, TV e cinema em filmes mato-grossenses de expressão, como “360” e a nova série “Pantanal e Outros Bichos”, além do longa-metragem carioca “Vestido”.

Foto: Gilson Costa

Para o espetáculo, Naine conta que a atriz passou por leituras antropológicas, conversas com as comunidades, observação de imagens e oficinas com os Terenas. “Foi uma oficina que fez parte da programação do Seminário do Sesc arsenal esse ano. Foi aberta ao público e a Alicce participou. Tivemos um bom público de pessoas que estavam interessadas nem adentrar na temática”, conta.

A dinâmica fez com que o projeto resultasse de um processo que a Terena considera descolonial. “O mais legal é que fizemos uma mão inversa. Muitos diretores querem dirigir indígenas e nós estivemos num processo inverso. Coordenei artisticamente o projeto e Alicce desafiou o que tinha de memória física e vocal. E ainda estamos em processo, entre limites do que podemos agora e do que pode nos surpreender”.

Foto: Téo Miranda

Apresentações

As primeiras apresentações acontecem em duas aldeias Terena, localizadas nos municípios de Peixoto de Azevedo e Matupá, a Kuxoneti Poke’e e a Kopenoty, que foram possíveis pelo trabalho conjunto com as comunidades, os professores Terena Juarez Terena Pahukoty, Sane Martins e Samuel Colman e apoio dos caciques Sidnies Delfino Duarte (aldeia Kuxoneti Poke´e) e Jose Carlos Firmo (aldeia Kopenoty).

Segundo Naine, o teatro e a contação de histórias é intrínseca a cultura e ao saber indígena no país. “As manifestações culturais Terena e de todos os povos são carregadas de narrativas que também podemos chamar de encenação. É natural dos povos indígenas o processo de contação de histórias. Temos artistas indígenas no Brasil que contam histórias e entre os Terena também”, conta.

Além das aldeias, as apresentações são voltadas a diversos tipos de público e também chegam a comunidade Quilombo Mata Cavala, em Nossa Senhora do Livramento. “É uma honra apresentar nas comunidades com a acolhida que estamos tendo”, ressalta.

Foto: Téo Miranda

Confira onde e quando as apresentações chegam:

12/04: Aldeia Terena Koxuneti Poke´e/ Terra indígena Iriri (Matupá)
13h: apresentação
15h30: Palestra show
13/04: Aldeia Terena Kopenoty (Peixoto de Azevedo)
16h: Apresentação
18h: Palestra Show
18/04 – Quilombo Mata Cavala (Nossa Senhora do Livramento)
Local: Escola Estadual Tereza Conceição Arruda
10h: Apresentação
14h: Palestra Show
19/04 Santo Antonio do Leverger (Câmara de Vereadores)
10h: Apresentação
14h: Palestra Show
21/04 – Chapada dos Guimarães (Sala de Memória)
10h: Apresentação
14h: Palestra Show
04/05 – Primavera do Leste (Centro Cultural)
10h: Apresentação
14h: Palestra Show

Os Terenas

O povo Terena, em Mato Grosso, está organizando em quatro aldeias, sendo três delas localizadas nas terras Terena Iriri Novo e a aldeia Kopenoty, desenvolvendo práticas vinculadas a educação, saúde, agricultura familiar e artesanato. Esta última atividade é marcada pelo ateliê das mulheres da aldeia Kuxonety.

Uma de suas principais características culturais é o senso nômade e os fortes traços comerciantes que os levou a cruzar diferentes regiões do país através das trocas e vendas. Em Mato Grosso suas terras foram demarcadas após uma grande luta e terem vivido com outros povos indígenas.

Por este motivo, é comum referir-se a este povo como oriundo de Mato Grosso do Sul, mas as fronteiras nacionais são divisões políticas e diferentes povos indígenas mantém fluxos que cruzam essa fronteira, como é o caso de Mato Grosso, que se dividiu em dois estados.

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