O escândalo dos grampos ilegais que envolve o governo de Mato Grosso entra no seu sexto dia, recheado de pontos a serem ligados, algumas contradições e informações desencontradas. Leia abaixo a cronologia que O LIVRE preparou sobre o desenrolar dos fatos desde a deflagração da crise, na semana passada. O esquema começou nas eleições de 2014. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas. 

As denúncias afetam o governador Pedro Taques (PSDB) e foram feitas pelo promotor e ex-secretário de Segurança Pública (Sesp) Mauro Zaque, amigo do tucano há mais de 20 anos. O caso dos grampos expôs os desentendimentos entre eles, motivados por divergências em relação à cúpula da Polícia Militar e do Ministério Público Estadual (MPE).

Dia 1 – Quinta-feira, 11 de maio

Crise é deflagrada

O escândalo dos grampos ilegais que abalou o Palácio Paiaguás teve início na quinta-feira passada, 11, quando o Gabinete de Comunicação (Gcom) divulgou uma nota anunciando a saída do advogado Paulo Zamar Taques da chefia da Casa Civil. Paulo é primo do governador Pedro Taques (PSDB) e, até então, era o homem forte do governo. O anúncio da exoneração veio minutos depois de a equipe do programa Fantástico, da Rede Globo, solicitar uma entrevista com o governador sobre o caso.

Na ocasião, o Gcom divulgou que Paulo Taques havia deixado o cargo para retomar a advocacia e que atuaria na “investigação em curso na Procuradoria Geral da República sobre denúncia feita pelo ex-secretário de Segurança Pública do Estado, promotor Mauro Zaque, e seu adjunto, Fábio Galindo, sobre eventual existência de interceptações telefônicas clandestinas no âmbito da Polícia Militar.”

Ainda na quinta-feira, a reportagem do Fantástico entrevistou a deputada estadual Janaina Riva (PMDB), o jornalista José Marcondes “Muvuca” e o advogado José do Patrocínio, todos vítimas dos grampos. O promotor Mauro Zaque, autor das denúncias, também foi entrevistado.

 

Dia 2 – Sexta-feira, 12 de maio

Fraude e chantagem

Na sexta-feira, 12, com a crise já instalada, Pedro Taques concedeu uma entrevista coletiva, acompanhado de grande parte do alto escalão do governo, para tratar do assunto. Ele apresentou a documentação da denúncia feita por Mauro Zaque com um protocolo que ele afirma ter sido falsificado e, com base nisso, negou ter conhecimento de qualquer esquema de grampos em seu governo.

“Esse ofício nunca chegou em minhas mãos, e eu só posso tomar atitude sobre coisas de que eu tenho conhecimento. Portanto, esse documento é uma fraude. O processo que Mauro Zaque disse que protocolou não existe no Palácio Paiaguás. O número que ele deu é de um processo da Secretaria de Infraestrutura pedindo obra em Juara”, declarou Taques na ocasião.

Taques disse ainda que nunca pediu que fossem realizadas escutas ilegais. O governador informou também que irá representar Zaque, que é promotor de Justiça, junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Na coletiva, por duas vezes, Taques acusou Mauro Zaque de chantageá-lo, sem afirmar claramente quais teriam sido as ameaças recebidas. A primeira divergência relatada pelo governador ocorreu no fim de 2015, primeiro ano de mandato, quando Mauro Zaque ainda era secretário e pediu que o coronel Zaqueu Barbosa fosse exonerado do comando-geral da PM. Taques se recusou, e o secretário pediu exoneração dias depois.

De acordo com Taques, uma nova tentativa de chantagem foi feita quando houve a troca de comando no Ministério Público Estadual (MPE). Em dezembro de 2016, foi definida a lista tríplice para o novo procurador-geral de Justiça. Taques contou que Zaque lhe telefonou pedindo para nomear o segundo da lista, José Antonio Borges, pois haveria um acordo entre o grupo de Borges e o de Zaque, que lançou Ana Luiza Peterlini como candidata – quarta colocada na eleição, ela ficou de fora da lista tríplice. O governador recusou o pedido e, em janeiro deste ano, nomeou como procurador-geral Mauro Curvo, o mais votado.

Também em janeiro, Mauro Zaque enviou a denúncia sobre os grampos à PGR, segundo o próprio promotor informou em entrevista à Rádio Capital na manhã desta segunda-feira, 15.

Na coletiva, o governador complementou a justificativa da nota divulgada no dia anterior, e afirmou que Paulo Taques deixou o cargo de secretário-chefe da Casa Civil para cuidar da defesa do governador perante à Justiça. “Eu fui acusado de ter prevaricado. Paulo irá defender o meu maior patrimônio, a minha honra”, disse, afirmando que o ex-secretário não está sendo investigado.

Pedro e Paulo Taques também gravaram entrevista para o Fantástico na sexta-feira, 12.

 

Dia 3 – Sábado, 13 de maio

Expectativa

A chamada do programa Fantástico anunciando a reportagem sobre os grampos saiu no sábado, pondo fim aos boatos de que a matéria não iria ao ar.

Dia 4 – Domingo, 14 de maio

Fantástico e bate-boca

A reportagem denunciando o esquema de grampos ilegais foi exibida pelo programa Fantástico na noite de domingo, 14. Na reportagem, o denunciante Mauro Zaque explicou que foi usado um método conhecido como “barriga de aluguel” para realizar as interceptações – números de telefones de pessoas comuns, sem qualquer ligação com a investigação, foram colocados num pedido de quebra de sigilo à Justiça. No caso, a Polícia Militar investigava o envolvimento de membros da corporação no tráfico de drogas.

“Aqueles números não correspondiam às pessoas que eram objeto de investigação”, afirmou Zaque. Ele disse ter recebido uma denúncia anônima sobre o esquema em 2015, quando ainda era secretário de Segurança Pública, e que alertou o governador.

Foram exibidas também entrevistas com as vítimas Janaina Riva, Muvuca e José do Patrocínio. O presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Rui Ramos, negou participação do Poder Judiciário em eventuais fraudes, e apontou o Ministério Público como fonte competente nessas situações. Para o procurador-geral de Justiça, Mauro Curvo, o MPE foi induzido ao erro.

Ao Fantástico, o governador negou ter conhecimento do esquema, e novamente usou o protocolo fraudado como álibi. Paulo Taques, por sua vez, negou que tenha solicitado os grampos e disse que sua exoneração não tem relação com as denúncias. “Minha saída estava programada há 15 dias”, afirmou.

Depois do programa, Janaina Riva emitiu uma nota anunciando que pedirá a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Ela informou que pedirá também uma investigação criminal à Procuradoria Geral da República (PGR) e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Ainda na noite de domingo, o secretário de Comunicação de Mato Grosso, Kleber Lima, e a deputada estadual Janaina Riva protagonizaram um bate-boca via redes sociais. Kleber enviou a uma lista de distribuição no WhatsApp uma foto da deputada em roupas íntimas, que havia vazado na semana passada, acompanhada da mensagem: “Quem iria invadir a intimidade da ilustre deputada se ela mesma o faz?!”.

O recado gerou polêmica e acusações de machismo contra o secretário. Janaina rebateu Kleber pelo Instagram: “Estarrecida com o machismo imposto. O secretário usa uma foto pessoal minha para justificar os grampos ilegais feitos pelo governo do Estado”, escreveu. “Como mulher e cidadã de Mato Grosso, vou exigir o afastamento desse secretário misógino.”

 

Dia 5 – Segunda-feira, 15

Fofoca

Na manhã de segunda-feira, 15, Mauro Zaque concedeu entrevista à Rádio Capital. Ele negou as acusações de chantagem e de fraudar protocolos feitas pelo governador. “Só se eu fosse louco e estivesse numa camisa de força para fraudar um documento e levar ao procurador-geral da República.” Ele confirmou, porém, que pediu a exoneração do coronel Zaqueu e de outras pessoas e que deixou a Sesp por causa da recusa de Taques em retirar essas pessoas dos cargos.

Mauro Zaque afirmou que conversou pessoalmente com o governador sobre a denúncia dos grampos por diversas vezes, junto com o então secretário-executivo da pasta Fábio Galindo – que assumiu o comando da Sesp com a saída de Zaque.

Horas depois, durante a entrega de casas do programa Minha Casa Minha Vida em Várzea Grande, Pedro Taques classificou essas denúncias verbais como fofoca. “As providências que eu como governador teria que tomar, eu as tomei. Um governador todos os dias recebe notícia de fofoca, disso e daquilo. Se o governador mandar embora todo mundo por fofoca, nós não vamos ter ninguém que assuma secretaria”, disse.

Ao comentar a possibilidade de CPI, Taques afirmou que “o Legislativo é independente”. Questionado, ele discordou das declarações do secretário Kleber Lima, na noite anterior, que distribuiu via WhatsApp uma foto da deputada Janaina em roupas íntimas afirmando que ela expõe sua privacidade. “Em absoluto. Grampo é coisa gravíssima. Tem que ser investigado. Independente de seja lá quem for”, disse.

Na tarde de segunda-feira, O LIVRE divulgou em primeira mão a lista das pessoas que tiveram os telefones grampeados ilegalmente.

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