Consumo

Empresários pressionam governo para adoção de políticas de sustentabilidade

Eles temem que suas marcas sejam boicotadas pelos consumidores , que, hoje, estão conectados com as questões de preservação ambiental

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Empresários pressionam governo para adoção de políticas de sustentabilidade
(Foto: Christiano Antonucci/ Secom-MT)

Um grupo de 38 empresas enviaram ao vice-presidente, Hamilton Mourão, uma carta com o pedido de adoção de políticas públicas para frear o desmatamento e a queimada na floresta amazônica.

A intenção é proteger suas marcas de eventuais boicotes de consumidores, cuja pressão vem crescendo nos últimos anos e, com o momento de fragilidade gerada pela pandemia do novo coronavírus, estão sensíveis a questões globais. 

“Não é uma ação nova propriamente dita. Ela já ocorre no exterior há alguns anos e, no Brasil, pela primeira vez, está acontecendo de maneira oficial. São empresários que querem proteger seus negócios da reação dos clientes que verem as marcas associadas a ações de degradação ambiental. A novidade é que, no Brasil, essas empresas estão fazendo contato direto com o governo federal”, diz a coordenadora do programa de incentivo econômico da ONG ICV, Paula Bernasconi. 

A lista contém empresários de segmentos diversos com negócios ligados à exploração ambiental. Entre eles estão os da da holding Amaggi, grupo da família do ex-ministro e ex-governador Blairo Maggi, da processadora de alimentos Marfrig, da Natura, Michelin e o banco Itaú. 

A estratégia adotada pelos empresários é comparecer para cobrança pessoal aos gestores dos âmbitos federal e estadual. O primeiro contato foi com o vice-presidente Hamilton Mourão, no mês passado, porque ele é visto como o representante mais “sóbrio” para tratar do assunto.

Empresários já falaram o o vice-presidente Hamilton Mourão sobre a questão (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Nesta semana, a visita foi ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do qual pediram a formação de comissão para estudar a propostas de políticas para controlar a degradação ambiental. 

Os próximos na lista são os governadores dos nove Estados que integram o programa Amazônia Legal, incluindo o governador Mauro Mendes. 

Pressão e embargo 

Na carta enviada a Mourão, os pedidos são feitos em tom enfático como o “combate inflexível e abrangente ao desmatamento” na Amazônia, adoção de mecanismo de crédito de carbono e direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono. 

O coordenador da pós-graduação em direito ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Carlos Eduardo Silva e Souza, diz que vê a investida dos empresários como sintoma do crescente destaque para as medidas de sustentabilidade.

Um dos setores que precisam de regras claras, conforme os empresários, é o de pecuária.

A exigência para os governos criarem nichos de economia sustentável deve ganhar, diz ele, a importância de regras sanitárias nos segmentos da pecuária. E, a tendência é que sejam estabelecidos embargos para os países e produtores que não se adequarem às mudanças. 

“Os embargos já existem, só pensarmos na suspensão de financiamentos de países europeus, em 2019, ao fundo de preservação da floresta amazônica. Esse tipo de ação pode aumentar se o governo brasileiro não tomar medidas que atendam os pedidos dos traders”, afirma. 

Situação ambígua 

Conforme a ambientalista Paula Bernasconi, o avanço sobre o governo federal foi exercido por causa da postura do presidente Jair Bolsonaro em não assumir compromissos com os acordos internacionais de preservação ambiental. 

“Não existe política convergente no Brasil para proteção do ambiental e desenvolvimento sustentável. Se os governos estaduais tomam medidas, elas podem se chocar com ações do governo federal, ou seja, não dá para avançar muito” explica. 

Mato Grosso, apesar dos acordos assinados, tem uma evolução lenta para alcançar as metas. Em 2015, no governo de Pedro Taques, foi criado programa de monitoramento Produzir, Conservar e Incluir (PCI), com mais de 20 medidas. 

Uma delas com prazo de avaliação neste ano, a de reduzir queimadas e desmatamentos ilegais que à época estava na casa de 95% das ocorrências registradas no Estado. Conforme o Instituto Centro Vida (ICV), no ano passado, a volume tinha baixado para 89%. 

Além disso, são apontadas as posições ambíguas também das empresas signatárias da lista e que nós últimos anos tiveram associação com alguma infração ou crime ambiental. 

Um exemplo: estudo do ICV identificou que, até 2018, 80% das empresas exportaram suas produções praticaram desmatamento ilegal e os principais destinos dos commodities foram a Europa e a China

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