O atentado à Escola Estadual Raul Brasil, ocorrido no dia 13 de março em Suzano (SP), foi o estopim para que surgissem diversas ameaças de ataques a escolas mato-grossenses. Em menos de uma semana, quatro casos estão sendo investigados pela Polícia Judiciária Civil (PJC).
O mais recente foi registrado na última quarta-feira (20), em uma escola do Bairro Tijucal, em Cuiabá. Na ocasião, a delegada responsável pela Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), Anaíde Barros, contou que um grupo de adolescentes planejava jogar bombas em salas de aula. Como em outros casos já registrados, tudo era discutido via WhatsApp.
A onda de violência preocupa autoridades. A delegada acredita que todos esses casos tenham sido provocados pela situação de desordem que o atentado de Suzano provocou. A Secretaria de Estado de Educação (Seduc) tem enfrentado o problema focando principalmente na prevenção da violência no âmbito escolar.
Um deles é o projeto Anjos da Escola, que tem como pilares a saúde, a paz nas escolas e a mediação escolar. Nas duas últimas frentes de trabalho, a secretaria conta com o apoio dos batalhões da Polícia Militar, que intensificam rondas policiais, fazem palestras e cursos, além de desenvolver um relacionamento de amizade e confiança com as comunidades escolares.
Já na mediação escolar, ações educativas e preventivas reforçam a resolução dos principais conflitos dentro das escolas, evitando que as ocorrências se tornem mais graves e precisem de intervenções jurídicas.
A Seduc também destacou outros projetos que são realizados em escolas mato-grossenses, a exemplo do Um Por Todos e Todos Por Um, TCE Estudantil, Voto Consciente, Proerd, Rede Cidadã, Curso de Mediação de Conflitos Escolar, Jovem Embaixador e o Programa de Saúde na Escola.
Quando o primeiro caso de ameaça a uma escola de Mato Grosso foi registrado, no município de Cáceres (220 km de Cuiabá), a Seduc enfatizou o trabalho que foi feito em conjunto com a PJC e com a Promotoria de Justiça da Comarca, tendo posteriormente se reunido com a comunidade escolar no sentido de mediar a situação.
De acordo com a psicanalista Juliana Carneiro, essa onda de violência pode ser um reflexo do que ocorreu em Suzano. “Talvez esses jovens aqui de Mato Grosso nem estivessem propensos a fazer nada, mas esse ato monstruoso de Suzano tenha dado a noção de legitimidade para que estes adolescentes daqui pudessem fazer esse tipo de ameaça”, afirmou a psicanalista.
Outra hipótese levantada pela profissional é com relação à importância que a sociedade dá ao “mundo virtual”. “É uma situação de supervalorização. Vivemos em um mundo midiático e estar na mídia é algo muito importante para a nossa sociedade. ‘Ganhar likes’ é o que todo mundo quer e com o jovem não seria diferente”, disse Juliana.
Porém, segundo a psicanalista, a imagem do adolescente transgressor, que quebra regras e tem destaque nas mais diferentes “tribos”, pode ser uma ilusão com consequências negativas. Ao ganhar destaque, o jovem passa a não fazer parte mais de um grupo, porque passa a ser parte de uma história.
“Esses jovens do massacre de Suzano conseguiram escrever o nome deles na história. Eles sempre serão lembrados. Pena que tenha sido de uma maneira tão negativa. Eles deixaram uma marca na história do país e espero que isso não se repita aqui em Mato Grosso”, finalizou a psicanalista.
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