Judiciário

Em delação, Alan Malouf acusa Galindo de pedir R$ 3 milhões para blindá-lo junto a Selma e Gaeco

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Em delação, Alan Malouf acusa Galindo de pedir R$ 3 milhões para blindá-lo junto a Selma e Gaeco
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

O empresário Alan Malouf acusou o ex-secretário de Segurança Pública e ex-promotor de Justiça Fábio Galindo de pedir R$ 3 milhões para blindá-lo em investigações, no ano de 2016. Em sua delação premiada, Malouf afirmou que Galindo prometeu protegê-lo usando sua influência junto à então juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda (hoje candidata ao Senado pelo PSL), e ao então coordenador do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), o promotor Marco Aurélio de Castro.

“Segundo Fábio, ele é muito próximo/íntimo do coordenador do Gaeco, Marco Aurélio, bem como da juíza da Sétima Vara, Selma Arruda, e conseguiria dar essa blindagem ao peticionante e a Marcelo Maluf, para que operações não viessem a ser deflagradas e prisões não viessem a ocorrer”, diz trecho do anexo XV da delação de Malouf, ao qual o LIVRE teve acesso. A delação foi firmada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Uma parte foi desmembrada e está sob a relatoria do juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Marcos Faleiros.

Apesar da suposta oferta de Galindo, Alan Malouf foi preso, em dezembro de 2016, por decisão de Selma, em uma operação coordenada por Marco Aurélio – a “Grão Vizir”, desdobramento da Rêmora, que investiga corrupção na Secretaria de Estado de Educação (Seduc).

Segundo o delator, depois de sair do governo, Galindo soube de operações policiais que poderiam envolvê-lo e o procurou “para oferecer o que chamou de ‘blindagem’”. Um dos encontros teria ocorrido na chácara de um parente de Galindo. Ele afirmou também que o ex-secretário frequentava sua casa.

O empresário relatou que o Galindo disse que eles “precisavam montar uma estratégia” para blindá-lo de eventuais acusações criminais, com proteção junto ao Gaeco, ao Judiciário e à imprensa, inclusive com reativação de uma emissora de televisão da família.

Segundo a delação, Galindo disse que estava prestes a sair do Ministério Público, mas “antes disso precisava ter uma garantia financeira para deixar o cargo”. Dessa forma, no início, ele prestaria o serviço mesmo estando no cargo de promotor, pois tinha uma parceria encaminhada com um advogado em Brasília, que assinaria eventuais petições. “Por fim, cobrou cerca de R$ 3 milhões para ‘proteger’ e não deixar nada acontecer ao peticionante” e a Marcelo Maluf.

Indicação para Taques

Alan Malouf disse que, junto com Júlio Modesto (que depois veio a se tornar secretário de Gestão), indicou o promotor ao governador eleito Pedro Taques, para compor seu staff, em uma reunião no buffet Leila Malouf, em outubro de 2014.

Fabio Galindo, que era promotor de Justiça em Minas Gerais, se mudou para Cuiabá e iniciou o governo no segundo escalão, como secretário-executivo na Segurança Pública (Sesp). No fim de 2015, se tornou titular da pasta, depois da saída do também promotor Mauro Zaque. Ele deixou o governo em março de 2016, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu membros do Ministério Público de ocuparem cargos no Poder Executivo. Cerca de um ano depois, pediu exoneração do órgão e começou a atuar como advogado.

Operação Rêmora

Alan Malouf passou 10 dias preso em dezembro de 2016, alvo da Operação Grão Vizir. A ação foi um desdobramento da Operação Rêmora, deflagrada pelo Gaeco em maio daquele ano. À época, o Gaeco era coordenado pelo promotor Marco Aurélio e a operação foi autorizada pela juíza Selma Arruda. Ainda como juíza, ela acatou a denúncia do Ministério Público contra o empresário, que acabou condenado a 11 anos de prisão.

Na delação, homologada neste ano, Malouf confessou ter participado do esquema de fraudes em obras de escolas estaduais para ter retorno do dinheiro que investiu no suposto “caixa dois” da campanha de Pedro Taques (PSDB) ao governo nas eleições de 2014.

Outro lado

A juíza aposentada Selma Arruda disse ao LIVRE que Alan Malouf já havia contado a ela sobre a suposta oferta de Galindo, à época da prisão. “Parece que a influência que ele disse ter sobre mim não era tão grande assim, afinal, fui eu quem prendi Alan Malouf e o tornei réu”, observou a magistrada.

A reportagem não conseguiu contato com o promotor Marco Aurélio. O espaço está aberto para manifestação.

Outro lado 2

O ex-secretário Fabio Galindo foi procurado pela reportagem do LIVRE para se posicionar a respeito da delação. Em sua resposta, ao invés de esclarecer eventuais fatos contidos na delação à qual o LIVRE teve acesso, ele optou pela tentativa de censura. 

Depois de dizer que não sabe sobre a delação, ele classificou como “mentiras” tanto a delação de Alan Maluf quanto a matéria jornalística. 

“Advirto que buscarei a justa indenização contra os responsáveis, no caso, o suposto delator, o veiculo de divulgação e você como jornalista, pelos prejuízos causados a minha imagem pois estou advertindo, desde já, tratar-se de acusação e matéria caluniosas”, escreveu o advogado em email enviado ao LIVRE. 

Na sequência, ele prosseguiu: “se quiser publicar, é seu livre arbítrio, desde que saiba que esta assumindo o risco”. 

Nota do LIVRE 

O LIVRE reforça a sua postura independente e plural. Apenas reportamos fatos a partir de dados aos quais temos acesso. Dessa forma continuaremos a realizar o nosso trabalho, sempre buscando ouvir todos os envolvidos nas matérias que publicamos.

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