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Em caso de crise, chame Pedro Celestino

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Em caso de crise, chame Pedro Celestino

 

Arquivo Público

Pedro Celestino

O tempo é de crise econômica pelo mundo e Mato Grosso, com sua economia dependente da exportação de produtos primários, sofre junto. Para piorar, o país vive um momento de grande instabilidade política, com grupos antagônicos que se confrontam abertamente.

Recém-empossado, o novo governo estadual tem pouca margem para investimentos e, para ganhar tempo, passa a expor e criticar a herança recebida de gestões anteriores. O discurso é de austeridade, em defesa do corte de gastos e a redução da máquina pública.

Poderia ser 2015, na gestão de Pedro Taques. Mas estamos em 1922, e o então chamado presidente do Estado é Pedro Celestino Corrêa da Costa, um dos mais influentes caciques da cena política local.

À diferença do xará tucano, não era sua primeira experiência no executivo. Muito menos em momentos de grande turbulência. Quatorze anos antes, com a renúncia de Generoso Ponce em 1908, coubera a ele o encargo de assumir e levar adiante um mandato estadual repleto de pedras no caminho.

“Não me tracei programa administrativo, porque seria quimérico pretender realizar, sem numerário nos cofres públicos, a reparação completa do aparelho administrativo”, escreveu, em mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa naquele ano. “As precárias condições em que nos colocaram os erros da situação passada não me permitem, infelizmente, empreender melhoramentos de grande monta (…) antes de tudo, precisamos restabelecer o equilíbrio orçamentário do Estado “.

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O perfil pragmático era uma de suas marcas. Outra era o tino para a política, arte aprendida desde o berço com o avô, Antônio Corrêa da Costa, que governara a província nas décadas de 1830 e 1840, e o irmão mais velho, Antônio, deputado estadual e presidente do Estado de 1895 a 1898.

Nascido em 5 de julho de 1860, no sítio Bom Jardim, em Chapada dos Guimarães, Celestino tinha 15 anos quando seguiu ao Rio de Janeiro, que naquela época já era o destino quase obrigatório dos filhos das famílias tradicionais. Por lá, formou-se em Farmácia em 1881.

De volta a Mato Grosso, não tardaria a buscar seu espaço na política. Tinha apenas 30 anos de idade quando fundou a representação estadual do Partido Republicano e, em seu primeiro mandato como Deputado Estadual, integrou a Assembléia Estadual Constituinte que elaborou e promulgou a primeira Constituição de Mato Grosso, em 1891.

Nas violentas disputas políticas daquela virada de século, tomou posição ao lado do senador Generoso Leme de Souza Ponce e teve participação nos confrontos que levaram à deposição e assassinato, em 1906, do então presidente do Estado, o Coronel Antônio Paes de Barros, o Totó Paes.

Dois anos depois, no início de seu segundo mandato como deputado estadual, seria chamado a assumir o lugar de Generoso Ponce, que havia sido eleito à presidência do Estado em 1907 e, por problemas de saúde, se viu obrigado a renunciar.

Embora antecipada pela fatalidade, a chegada de Celestino ao governo não era algo distante de seus planos políticos, afirma o historiador e jornalista João Carlos Vicente Ferreira, um estudioso daquele período.

“Ele tinha em mente que, mais cedo ou mais tarde, chegaria a sua oportunidade de assumir o governo, até mesmo em razão da trajetória de sua família, que era uma das mais tradicionais do Estado”, relata.

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Com pouco dinheiro em caixa, Celestino cortou gastos, demitiu servidores e reviu incentivos concedidos à indústria da borracha, que, segundo ele afirmaria, não atendiam aos “interesses do Estado” e não previam “compensação aos favores outorgados”.

“A minha ação administrativa quase se esgotara em reparar os erros da situação decaída que, a par do abismo em que precipitara as finanças, paralisando a expansão econômica nascente, contraiu compromissos que vamos solvendo com grandes prejuízos e sacrifícios da coletividade”, afirmou.

Apesar das circunstâncias, Celestino lograria fechar seu governo com boa avaliação, tanto que elegeu o sucessor, Joaquim Augusto da Costa Marques. Entre os feitos do período, além da reorganização das finanças do Estado, Ferreira indica a obra do Palácio da Instrução, no centro da cidade.

“Celestino idealizou, imaginou e começou a construir um prédio que dizia estar à altura da Cuiabá moderna que imaginava. Era um momento em que se começava a pensar nas comemorações dos 200 anos da capital, em 1919”, relata.

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Palácio da Instrução: projeto idealizado na primeira gestão de Pedro Celestino

Como ex-presidente, sua influência política não diminuiu. “Após o falecimento de Generoso Ponce, em 7 de novembro de 1911, a disputa pelo lugar de figura política mais expressiva no Estado passou a se dar entre Pedro Celestino e o senador Antônio Azeredo”, afirma o professor e historiador João Edson Fanaia, em texto biográfico.

Em 1918, foi eleito senador, mas cumpriria apenas a metade do mandato. Convocado pela coalizão política que liderava, voltou a Mato Grosso para reassumir o cargo de presidente do Estado, novamente diante de crises econômica e política.

“Ele não queria, pois não estava muito bem de saúde. Mas era, naquele momento, a única pessoa que tinha a capacidade de aglutinar as forças políticas”, conta o historiador João Carlos Vicente Ferreira.

Desta vez, Celestino teve menos sucesso, tendo que dividir suas atenções com um conflito armado que se desenrolava na região do Araguaia e envolvia produtivas áreas de garimpo -cuja concessão pretendia repassar a uma mineradora estrangeira.

“Para isso acontecer, seria preciso tirar os garimpeiros da jogada. Disso resultou um embate violento com o engenheiro Morbeck, um homem que dominava completamente o Leste do Estado”, diz Ferreira.

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A saúde cada vez mais deteriorada impediu que o presidente concluísse o mandato -em seu lugar, assumiu o primeiro vice-presidente, Estevão Alves Correa, em novembro de 1924. Três anos depois, novamente eleito senador, Celestino seguiu ao Rio de Janeiro. Morreu em 22 de janeiro de 1932.

Para Ferreira, conhecer a trajetória de Pedro Celestino é vital para entender os rumos que Mato Grosso seguiu ao longo do primeiro quarto do século 20. “Tudo o que aconteceu de 1906 até 1925, todas as decisões políticas relevantes passaram pelo crivo dele”, avalia.

Seu legado político foi levado adiante pelos filhos Itrio, que foi deputado federal por dois mandatos, e Fernando Correa da Costa, senador por dois mandatos e governador de Mato Grosso (1951-1956 e 1961-1966).

Atualmente, na Câmara Federal, a família é representada por sua bisneta, a deputada federal por Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias. Eleita em 2014 para seu primeiro mandato, ela é líder de seu partido, o PSB, e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA). “Nossa família tem um grande legado que tenho a honra de continuar”, diz.

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No centro histórico de Cuiabá, Pedro Celestino dá nome à antiga Rua de Cima, que também foi chamada de rua das Trepadeiras, Augusta e Onze de Julho. Hoje repleta de pontos comerciais, a estreita via abriga diversos casarões tombados pelo Patrimônio Histórico, além de dar acesso ao largo da Praça da Mandioca.

Na semana de aniversário de Cuiabá, o LIVRE publica perfis de personagens históricos que emprestam o nome a avenidas e monumentos da capital. Clique para ler o que já publicamos:
– Fernando Corrêa da Costa, o homem por trás da avenida

– A outra história de Maria Taquara

– Archimedes: da glória à morte na mesma avenida

– Tia Nair: cuiabania, simplicidade e alma educadora

 

 

 

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