Alguém já disse que os tempos de guerra e de eleições são os períodos das maiores mentiras. Nesses tempos em que é vital manter a tropa unida, acreditando na vitória, as principais lideranças plantam o que nem sempre está, sequer, perto de acontecer.

Aqui em Mato Grosso o quadro é ainda nebuloso. Só agora é que se começa a ter uma ideia do que teremos pela frente. O principais atores que comandam o planejamento das campanhas buscam, desesperadamente, encontrar os ingredientes necessários para a conquista do troféu que dará aos vencedores o poder absoluto nos próximos quatro anos. As horas de sono são drasticamente reduzidas e as confabulações acontecem, a todo instante, em inimagináveis locais, entrando madrugadas adentro e com princípios nem sempre republicanos. Faz parte do processo a distribuição de nacos do poder futuro em troca do apoio no presente.

Os caldeirões estão sobre fogo forte e a temperatura aumenta a cada dia. De um lado, com candidatura à reeleição já colocada, temos o governador Pedro Taques, tentando salvar os dedos, pois os anéis perderam-se durante o mandato. Os grandes amigos e aliados que compuseram seu palanque em 2010, na campanha ao Senado, e em 2014 na eleição para o governo, pularam fora do barco quando pressentiram, pela gestão desastrosa, a tempestade que se avizinhava. E, pelo que parece, ela chegou. E chegou com fortes ventos e trovoadas.

Mantêm-se a seu lado, hoje, aqueles que, na eleição passada, jamais seriam chamados de companheiros pela ficha policial que possuem. É o caso dos deputados estaduais do PSD e dos outros partidos que compõem sua base insatisfeita na Assembleia. Insatisfação gerada pelo não cumprimento dos acordos firmados. Assembleia, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado querem saber quando os R$ 500 milhões que lhes são devidos serão pagos.

Pedro Filiou-se ao PSDB, ao sabor da sua conveniência: sonhava com projeção nacional. Não entrou pra valer e jamais fez qualquer esforço para o crescimento do partido. Agora o troco: Nilson Leitão, ex-prefeito de Sinop, a cara do PSDB no estado, além de líder na Câmara Federal e já com vaga garantida para a disputa ao Senado, é outro de seus desafetos. Com uma convivência nada amistosa, de difícil conciliação com os temperos desandados, Leitão terá de fazer uma campanha sem a presença do governador a seu lado, buscando ser o segundo voto de outras coligações.

Carlos Fávaro, o vice de Pedro, que lhe foi imposto por Eraí Maggi em nome do agronegócio, herdou o partido de José Riva. Insatisfeito como tantos, renunciou ao cargo de vice-governador, rompeu e saiu atirando. Os quatro deputados estaduais da legenda são oriundos da mesma turma. Farão uma campanha desconectada do partido, sujeitos a punições. Para o fechamento da adesão do PSD à coligação liderada pelo PR, nesta semana, Fávaro, Wellington e outras lideranças estarão em Brasília, reunidos com Gilberto Kassab, o dono do PSD, para a bênção final e a garantia de uma das vagas para o Senado a Carlos Fávaro, com a bênção de Blairo Maggi.

Na briga ainda não se sabe qual será o destino do DEM do deputado federal Fábio Garcia, de Júlio e Jayme Campos, de Botelho, presidente da Assembleia Legislativa e de Mauro Mendes. Se por um lado Pedro sonha com Jayme em uma das vagas ao Senado, com Botelho de vice, a figura de Mauro Mendes parece flutuar fora do caldeirão. Alardeia uma candidatura que, de fato, não existe. Pior, hoje é chamado de traidor pelo comandante do Paiaguás.

Junta-se aí, ainda, Otaviano Pivetta, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, de volta ao PDT. Foi um dos mais fiéis escudeiros de Taques, coordenador geral de sua campanha e hoje o destrata publicamente como responsável por uma gestão desastrosa e fora do tempo. Pivetta afirmou à imprensa no fim da última semana que esse grupo de dissidentes apresentará um Plano de Governo nos próximos vinte dias. Afirma que se Mauro não aceitar a candidatura que parecia a ele destinada, assumirá o posto. Dinheiro não lhe falta.

A grande novidade, por enquanto, é o PSL com Dilceu Rossato, cujo partido tem em Jair Bolsonaro um forte candidato à Presidência da República. Em pesquisa divulgada pelo Datafolha, neste domingo (15), com a candidatura de Lula descartada, Bolsonaro assume a liderança e passa a ser um dos favorito na eleição presidencial. Rossato conta com esse favoritismo para alçá-lo na disputa. Dilceu Rossato é grande produtor em Sorriso, onde foi prefeito por dois mandatos e sem nenhum problema de caixa para bancar uma campanha ao governo, cujo limite, aqui em Mato Grosso, é de R$ 5,6 milhões. Conta, ainda, com a presença em seu palanque da ex-juíza Selma Arruda, que se projetou no estado pela avalanche de prisões decretadas e sentenças condenatórias aplicadas, a começar as de José Riva e do ex-governador Silval Barbosa e outros tantos. Concorrendo a uma vaga ao Senado, Selma é uma grande incógnita. Aposentou-se como magistrada com um belo salário e, com sobrevivência garantida, dispôs-se a aferir a popularidade que lhe é atribuída.

E por último, a coligação liderada por Wellington Fagundes, do PR, que já tem consolidado o apoio dos partidos MDB, PTB, PP e ainda em busca de PV, PT e do PCdoB que entraria com a candidata a vice a ex-reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder. Wellington teve cinco mandatos de deputado federal e encontra-se na metade de seu primeiro mandato de senador. Como ele mesmo se define, não é um homem de embates e nem de enfrentamentos e, pela própria definição, não conseguiu dar cara a uma oposição no Estado e nem ser reconhecido como tal. Tem em Pedro Taques talvez o maior dos seus detratores e, como quase todos os demais, ainda teme uma nova operação policial da Lava Jato, onde seu nome foi citado, além de ter-se tornado réu recentemente no STF, o que o nivela aos demais nas páginas policiais.

E assim os dias vão passando. Vamos aguardar o desenrolar dos fatos da semana que se inicia. Ainda teremos muito pela frente. Muitos ingredientes ainda serão colocados nessa salada que está longe de agradar paladares.

*Ricarte de Freitas
Advogado, analista político e ex-parlamentar

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