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Efeito dominó: tremor na Bolívia com reflexos no Brasil

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Efeito dominó: tremor na Bolívia com reflexos no Brasil

É cada vez mais frequente evacuarmos prédios no Brasil por terremotos ocorridos em países vizinhos. Dizer à população que o Brasil não corre risco de sofrer um terremoto parece uma verdade cada vez mais distante.

Na última terça-feira, 21 de fevereiro, um terremoto de 6.5 graus na escala de Richter sacudiu Chuquisaca, no Sul da Bolívia. Devido aos 597 quilômetros de profundidade, não houve qualquer dano no país. Enquanto isso, no Brasil, mais precisamente nas cidades de Marília (SP) e Passo Fundo (RS), prédios foram evacuados e houve muitas ligações para o Corpo de Bombeiros.

Ainda me lembro de ouvir professores e autoridades da área dizerem que os terremotos não estão correlacionados e que estamos seguros aqui no Brasil, mas acredito que esse conceito está mudando.

Em uma matéria publicada aqui mesmo, no LIVRE, em 2 de fevereiro, menciono os riscos de um evento de magnitude 6.7 ocorrer nas proximidades de Arequipa, no Peru, entre os dias 16 e 18 de fevereiro. Pessoas que residem na fronteira do Peru com o Chile aguardavam um evento moderado para a data marcada. Bem, o evento foi confirmado na cidade de Jujuy, Argentina, cerca de 800 quilômetros ao Sul do local onde era esperado. Dois dias depois, um terremoto semelhante atingiu Chuquisaca. Acredito que os 597 quilômetros de profundidade amorteceram o impacto, mas os reflexos foram inevitáveis.

Na manhã do dia 21 de fevereiro, um tremor foi sentido em Marília. O abalo foi forte suficientemente para que um prédio da prefeitura fosse esvaziado. O quinto e o sexto andar do prédio foram os que mais sentiram os reflexos, e mesmo que esse evento não conste no histórico de terremotos ocorridos no Brasil, ficará para sempre na memória dos que sentiram o sismo. O que sempre se escuta é que “tremores de até 3.0 graus não são sentidos pela população”. Fica a pergunta: Qual a magnitude do tremor de Marília?

O histórico sísmico da região de Marília não é tão sereno assim. Em 2015, nos municípios paulistas de Herculândia e Júlio de Mesquita, uma série de tremores assustou a população local causando danos em residências e deixando a população em alerta.

Em uma das poéticas entrevistas, li que “o Brasil é estável e não devemos nos preocupar com terremotos”. Bonito, não é? Prefiro ficar com a frase que li uma vez na revista Superinteressante: “Um terremoto destrói, em apenas um segundo, a mais arraigada de nossas convicções, a de que caminhamos sobre terreno sólido”. A frase é de Charles Darwin (1809-1882).

Em um lugar não muito distante, Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, aconteceu um abalo sísmico às 11h30, uma hora e meia depois do terremoto na Bolívia. Outro prédio foi evacuado. Segundo o site da rádio FM 91,7, os bombeiros receberam chamados do Hospital São Vicente de Paulo, que evacuou o setor de radiologia. O prédio foi esvaziado e as atividades suspensas. Além do hospital, muitas outras construções na cidade sentiram o tremor.

O lado positivo é que alguns especialistas no assunto já admitem o fato de que os eventos sísmicos em países vizinhos podem abalar cidades no Brasil. Os terremotos não são isolados e um dia vamos sentir o arrependimento de não levarmos em conta os riscos.

Depois de ler especialistas comentarem o acontecimento, percebi que o discurso pode estar mudando. Se antes diziam não haver correlação entre um terremoto e outro, hoje já existe um consenso sobre esse tema.

No último artigo, intitulado “A falha de San Ramon e os riscos para os países vizinhos“, advirto em um pequeno trecho o reflexo sentido no Brasil do último grande evento no Chile: “O exemplo que poderia confirmar essa ideia foi um terremoto de 8.5 graus na escala Richter que ocorreu no Chile em setembro de 2015. Algumas horas depois, tivemos um abalo na região do ABC, em São Paulo, onde ao menos uma escola foi evacuada”. Vale a pena conferir a matéria que saiu no G1 no dia 16 de setembro. Em São Paulo, os locais afetados foram: a região da Avenida Paulista, Vila Mariana, Tatuapé e Osasco. No Vale do Paraíba, os tremores foram sentidos em Taubaté e São José dos Campos. No litoral: Praia Grande, São Vicente e Santos. No Rio Grande do Sul, na região de Santa Maria, lá onde teve o rompimento da barragem, pelo menos dois prédios foram desocupados. Os edifícios Pampa e Augusto, na Rua Floriano Peixoto, no centro de Santa Maria, sentiram um forte tremor por volta das 20h30.

Com um histórico desses, passei a acreditar que não estamos tão seguros assim, mesmo com eventos de menor intensidade. Pessoas que não estão acostumadas com os sismos entram em pânico e esse é um dos principais vilões causadores de acidentes e mals súbitos.

Amigos brasileiros, prestem atenção aos eventos sísmicos em países vizinhos. Na próxima vez que acontecerem, saibam: a terra vai tremer no Brasil.

Assinatura Coluna Aroldo

 

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